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    porto velho, domingo 24 de novembro de 2024

Ocitocina pode ajudar no tratamento da obesidade e depressão pós-parto

Segundo estudo, a ausência ou defeito de um gene envolvido na produção do "hormônio do amor" pode levar ao aumento do peso corporal e a sintomas depressivos


CNN

Publicada em: 03/07/2024 07:57:43 - Atualizado

BRASIL: A ocitocina (conhecida como “hormônio do amor“) pode ser uma opção de tratamento para aliviar os sintomas associados à depressão pós-parto, ansiedade e obesidade, de acordo com um novo estudo publicado nesta terça-feira (2), na revista científica Cell. A descoberta foi feita após cientistas identificarem um gene envolvido na produção do hormônio que, quando ausente ou prejudicado, pode causar a doença, além de estar relacionado ao aumento de peso e problemas comportamentais.

Ao analisar dois meninos de famílias diferentes com obesidade grave, ansiedade, autismo e problemas comportamentais desencadeados por sons ou cheiros, a equipe de pesquisadores da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, e do Baylor College of Medicine, em Houston, nos Estados Unidos, descobriu que os meninos não tinham um gene chamado TRPC5, localizado no cromossomo X.

Ele faz parte de uma família de genes envolvidos na detecção de sinais sensoriais, como calor, paladar e tato, e atua em uma via na região do hipotálamo conhecida por controlar o apetite.

Estudos posteriores revelaram, ainda, que ambos os meninos herdaram a deleção genética de suas mães, que também não tinham o gene em um dos cromossomos X. Além disso, as mães tinham obesidade e também tinham sofrido depressão pós-parto.

Diante desse cenário, os pesquisadores testaram se a falta do gene TRPC5 era a causa das condições de saúde sofridas pelos meninos e suas mães. Para isso, os pesquisadores recorreram a modelos animais (camundongos), modificando-os geneticamente para uma “versão” defeituosa do gene.

Segundo os pesquisadores, camundongos machos com esse gene defeituoso apresentaram os mesmos problemas que os meninos, incluindo ganho de peso, ansiedade, aversão a interações sociais e comportamento agressivo. Já os camundongos fêmeas apresentaram comportamento depressivo e dificuldades de realizar os cuidados maternos.

“O que vimos nesses ratos foi bastante notável. Eles apresentaram comportamentos muito semelhantes aos observados em pessoas sem o gene TRPC5, o que, nas mães, incluíam sinais de depressão e dificuldade em cuidar dos bebês. Isso nos mostra que esse gene está causando esses comportamentos”, afirma Yong Xu, Diretor Associado de Ciências Básicas do Centro de Pesquisa em Nutrição Infantil do USDA/ARS no Baylor College of Medicine, em comunicado à imprensa.

Gene atua nos neurônios que produzem ocitocina

Ao analisar detalhadamente a região do hipotálamo do cérebro, os pesquisadores descobriram que o TRPC5 atua nos neurônios da ocitocina, células que produzem o hormônio de mesmo nome — conhecido como “hormônio do amor“, devido a sua liberação em resposta a demonstrações de afeto, emoção e vínculo.

Deletar o gene desses neurônios de ocitocina fez com que os camundongos saudáveis mostrassem sinais semelhantes de ansiedade, aumento do apetite e prejuízos na sociabilidade. No caso das mães, aumentou os sinais de depressão pós-parto. Por outro lado, restaurar o gene nesses neurônios reduziu o peso corporal e os sintomas depressivos e ansiosos.

Os pesquisadores também descobriram que o TRPC5 atua nos neurônios POMC, conhecidos por desempenhar um papel importante na regulação do peso. Segundo os pesquisadores, crianças nas quais o gene POMC não está funcionando adequadamente geralmente têm um apetite insaciável e ganham peso desde cedo.

“Há uma razão pela qual pessoas sem TRPC5 desenvolvem todas essas condições. Sabemos há muito tempo que o hipotálamo desempenha um papel fundamental na regulação de ‘comportamentos instintivos’ – que permitem que humanos e animais sobrevivam – como a busca por comida, interação social, a resposta de luta ou fuga e cuidar de seus bebês”, explica Sadaf Farooqi, professor do Instituto de Ciência Metabólica da Universidade de Cambridge.

“Nosso trabalho mostra que o TRPC5 atua nos neurônios de ocitocina no hipotálamo para desempenhar um papel crítico na regulação de nossos instintos”, completa.

Os pesquisadores afirmam que as suas descobertas sugerem que a restauração da ocitocina pode ajudar no tratamento de pessoas com genes TRPC5 ausentes ou defeituosos. Além disso, também pode ser um potencial tratamento para depressão pós-parto.

“Embora algumas condições genéticas, como a deficiência de TRPC5, sejam muito raras, elas nos ensinam lições importantes sobre como o corpo funciona. Neste caso, fizemos um avanço na compreensão da depressão pós-parto, um problema de saúde sério sobre o qual muito pouco se sabe, apesar de muitas décadas de pesquisa. E, o mais importante, pode apontar para a ocitocina como um possível tratamento para algumas mães com esta condição”, afirma Farooqi.




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