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porto velho, domingo 24 de novembro de 2024
Cinquenta e cinco milhões é o número estimado de pessoas com alguma forma de demência pelo mundo, sendo a mais comum delas a doença de Alzheimer. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a cada ano, cerca de 10 milhões de novos casos são diagnosticados. Um dos principais fatores de risco para a condição é o envelhecimento.
Na semana do Dia Nacional do Idoso, Roberto Kalil recebe os especialistas Ricardo Nitrini, professor titular de Neurologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP); e Orestes Forlenza, professor titular de Psiquiatria também da Faculdade de Medicina da USP, no “CNN Sinais Vitais – Dr. Kalil Entrevista”. O programa será exibido neste sábado (5), na CNN Brasil.
De acordo com os especialistas convidados, o Alzheimer é a forma mais comum de demência, sendo responsável por 60 a 70% dos casos — e, segundo Forlenza, há um aumento consistente no número de mulheres atingidas pela doença em relação ao número de homens.
“Demência é um termo abrangente que inclui várias doenças degenerativas, sendo que a mais importante é a doença de Alzheimer. Nela, se costuma observar de maneira bastante consistente um aumento do número de mulheres em relação ao número de homens”, diz Forlenza. Segundo ele, não há uma explicação exata para isso.
“Pode refletir simplesmente o fato de que as mulheres vivem mais do que os homens – e a idade é um forte fator de risco para a doença de Alzheimer –, mas também outros aspectos genéticos e fisiológicos que a mulher apresenta, diferente dos homens. Porém, essa diferença tende a desaparecer em outras demências não-Alzheimer”, afirma.
Esquecimento é o principal sintoma, mas não o único
De acordo com os especialistas, no Alzheimer, o esquecimento é a manifestação mais importante da doença. “É esquecimento para fatos recentes: o indivíduo não se lembra bem do que aconteceu nos últimos dias. A memória para fatos antigos geralmente fica preservada”, afirma Nitrini.
Segundo o professor, em seguida, costumam aparecer dificuldades na programação de atividades rotineiras. “Dando um exemplo bem simples: o indivíduo vai preparar o café. A primeira coisa que ele tem que fazer é pôr a água para ferver. Enquanto isso, ele vai fazendo os outros passos. Essa programação é meio automática. E a pessoa começa a perder essa possibilidade de executar essas funções”, elenca.
Porém, além do esquecimento, outros sintomas cognitivos e comportamentais podem surgir. É o caso de dificuldades de linguagem, que podem ocorrer posteriormente ao esquecimento ou de forma simultânea.
Mas, segundo Forlenza, alguns sintomas comportamentais podem ocorrer antes mesmo de qualquer sinal de esquecimento. “Às vezes antes mesmo de ocorrerem as perdas cognitivas, a pessoa já apresenta alterações de personalidade, alterações comportamentais, depressão, psicose, eventualmente”, elenca.
“Ao longo da trajetória clínica da doença, à medida que os sintomas cognitivos vão se acentuando, também vão surgindo manifestações ou complicações psiquiátricas”, acrescenta.
É importante adotar medidas preventivas, alertam especialistas
Os especialistas alertam que é importante adotar medidas para prevenir a demência e o Alzheimer. “Atividade intelectual, atividade física, audição preservada, visão preservada, colesterol controlado. A sociabilização é muito importante, não ficar no sofá em casa, envelhecendo, sem atividade”, afirma Nitrini.
Os dados mais recentes da OMS, de 2019, mostram que naquele ano, as diferentes formas de demência custaram aproximadamente US$ 1,3 trilhão às economias globais. Cerca de 50% desse valor é atribuído cuidadores informais desses pacientes (familiares ou amigos próximos) que deixam, às vezes, de trabalhar para se dedicar às atividades de cuidado e supervisão.
“O Alzheimer cria um problema social enorme, pela frequência. Usando um exemplo que eu costumo utilizar: imagine uma senhora que tenha dois filhos e que trabalhe, e cuja mãe, uma senhora idosa, começa a apresentar sinais. Como é que ela vai fazer com a mãe dela, que está com uma demência? Aos poucos essa pessoa não vai poder viver só”, afirma Nitrini.
Nesse cenário, a “Política Nacional de Cuidado Integral às Pessoas com Doença de Alzheimer e Outras Demências”, estabelecida por lei aprovada em junho deste ano, tem importância, na visão do neurologista.
“Muitas vezes, se preocupa com esses remédios mais novos que custam muito caro. Mas se esquece do cuidado para as pessoas que já têm isso. A família precisa ser cuidada. Agora existe um plano que pode fazer o Brasil entrar nos eixos da proteção dos pacientes com Doença de Alzheimer”, afirma.