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porto velho, quarta-feira 14 de maio de 2025
A professora goiana Sandra Santos, 56, enfrenta há um ano os efeitos da covid-19. "Passei por neurologista, clínico geral, infectologista, pneumologista, cardiologista, ortopedista, endocrinologista, fisioterapeuta. Já perdi as contas de exames e remédios."
Como outros milhares de brasileiros, Sandra passou meses num caminho tortuoso, tanto na busca pelo diagnóstico da doença quanto no tratamento para os sinais persistentes da chamada covid-19 longa.
Os primeiros sintomas associados à doença apareceram em junho do ano passado: dor de cabeça forte e pressão alta (despertada pela covid-19 em alguns pacientes). Da primeira ida ao pronto-socorro saiu medicada com anti-hipertensivo.
Dias depois surgiu o cansaço extremo. "Se estendesse uma roupa e caísse um prendedor, deixava caído porque não dava conta de agachar." Procurou um endocrinologista, que solicitou mais de 20 exames. Nada fora do normal. As dores de cabeça a levaram a um neurologista e a um exame de ressonância magnética. Nada foi detectado. Mas desde então passou a tomar quatro remédios, um deles para enjoo.
Em sua segunda ida ao hospital, em busca de respostas sobre a fadiga incessante, ouviu do médico que ela poderia estar com depressão e foi encaminhada para um psiquiatra. "Cada um falava uma coisa e ninguém tocava no assunto da covid." Nem Sandra, que havia cuidado de uma pessoa com covid-19 sem que tivesse apresentado sintomas mais comuns da doença, como tosse, febre e perda de olfato. Seu primeiro exame inclusive deu negativo.
Pouco tempo depois começou a sofrer com diarreia e acabou pela terceira vez no hospital. Foi diagnosticada com "alguma virose".
A partir dali, em casa e por conta própria, decidiu monitorar a oxigenação com um oxímetro. Um dia o nível estava abaixo de 90 e foi pela quarta vez ao hospital. Ali, foi submetida a uma tomografia, na qual foi detectada uma leve inflamação do tecido pulmonar. Uma médica garantiu que não se tratava de covid-19, mas receitou azitromicina (usado no tratamento precoce sem comprovação de eficácia), complementação de vitamina D e dexametasona (corticoide recomendado apenas para pacientes em estado grave porque pode inibir o sistema imunológico e agravar o quadro de pacientes mais leves).
Tomou os comprimidos e, ao acordar no dia seguinte, percebeu um zumbido no ouvido esquerdo e nova queda da saturação. Em sua quinta ida ao hospital, passaria seis dias ali, sendo três na UTI. A alta hospitalar parecia o fim, mas em poucas semanas voltaram o cansaço extremo e a falta de ar.
Em consulta com uma pneumologista, ouviria que adquiriu uma asma pós-covid que precisaria ser controlada pelo resto da vida. Perdeu também força muscular nos braços e nas pernas, ficou "meio careca", sente dores musculares e ouve o zumbido até hoje. São diversos comprimidos todos os dias.