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porto velho, sexta-feira 29 de novembro de 2024
BRASIL: Ondas de calor pelo corpo, taquicardia, secura vaginal, irritabilidade… É extensa a lista de efeitos sentidos pelas mulheres durante o climatério, período que compreende a transição da fase fértil para a fase pós-menopausa, quando a última menstruação ocorre.
Para mitigar esses sintomas, a terapia de reposição hormonal despontou como uma alternativa para proporcionar mais qualidade de vida às mulheres que passam pela menopausa. Ao R7, o ginecologista Alexandre Pupo, do Hospital Sírio-Libanês e do Albert Einstein, em São Paulo, fala dos riscos e benefícios desse tipo de tratamento.
O especialista explica que durante o climatério, fase que se inicia a partir dos 35 anos de vida da mulher, o ovário vai perdendo aos poucos a capacidade de produzir os hormônios sexuais femininos, sobretudo o estrogênio, e, por pelo menos cinco anos após a última menstruação, essa produção se mantém em quantidades cada vez mais reduzidas.
Nesse período de transição até a fase pós-menopáusica, quando a mulher não tem mais óvulos e não pode engravidar, é que os sintomas sobressaem e impactam o dia a dia, tanto do ponto de vista físico como do emocional.
“É um processo de mudança muito grande que ocorre no corpo. Algumas mulheres se adaptam bem a esse processo e não vão sentir tanto esses efeitos, outras se adaptam menos, e é aí que entra a terapia hormonal. O objetivo do tratamento é atenuar esses efeitos considerados negativos para aquelas mulheres que precisam”, explica o médico.
Segundo o ginecologista, a reposição hormonal é feita com o estradiol, um dos hormônios da classe do estrogênio. O período indicado para a duração do tratamento é de dois a cinco anos, a depender da intensidade dos sintomas sentidos pela paciente.
“Depois de passados os cinco anos do evento da menopausa, esses efeitos da transição tendem a ir sumindo gradativamente, porque o corpo vai se adaptando a essa nova fase. Mas essa análise precisa ser individual, há pacientes que cinco anos depois ainda sentem muito desconforto e não conseguem parar de usar a terapia hormonal, já outras se sentem bem com dois anos de uso”, explica Pupo.
Para falar dos benefícios do tratamento, antes é preciso elencar os efeitos desencadeados pelo climatério, afinal a reposição hormonal servirá para diminuí-los. O ginecologista explica que vários tecidos do corpo da mulher precisam dos hormônios sexuais femininos para funcionar, então com a diminuição da produção hormonal essas funções são diretamente impactadas.
De ordem sexual, as principais consequências são secura vaginal e diminuição da libido. Também ocorre uma diminuição da proatividade, alterações no aspecto da pele e na distribuição de gordura pelo corpo, sobretudo porque a ação da testosterona passa a ficar mais evidente sem a contraposição dos hormônios femininos.
“Como ocorre uma diminuição dos esteróides sexuais femininos, a gordura que antes se acumulava nos quadrisl, no bumbum e no busto, por exemplo, começa a se acumular mais na barriga e na cintura. Além de aumentar a possibilidade de incontinência urinária, porque a região do períneo e da musculatura ao redor da uretra sofre uma atrofia”, explica o médico.
Na região das mamas, as alterações hormonais desencadeiam o processo de lipossubstituição, caracterizado pelo atrofiamento da glândula mamária, no qual o espaço vai sendo ocupado por tecido gorduroso, o que deixa a região com aspecto de flacidez.
As ondas de calor, por sua vez, são causadas pela desregulação do sistema vasomotor, que contribui para que esta sensação térmica fique ainda mais intensa durante a noite, impactando a qualidade do sono das mulheres que estão passando por essa fase.
“Essa alteração no sistema vasomotor também pode causar taquicardias, palpitação e formigamento nos dedos das mãos e dos pés”, destaca Pupo.
Como o estrogênio também atua para fixar o cálcio nos ossos, com a diminuição da sua presença no organismo, as mulheres ficam mais vulneráveis à osteoporose, principalmente aquelas que já têm propensão ao problema. Além disso, durante o climatério ocorre uma queda do metabolismo corporal, causando perda muscular e de massa magra.
“As mulheres às quais a terapia hormonal pode ser oferecida são aquelas em que os sintomas são mais graves, a ponto de atrapalharem o dia a dia da vida delas”, ressalta o especialista.
A reposição hormonal funciona como uma via de mão dupla e, ao mesmo tempo que atua como aliada à qualidade de vida das mulheres que passam pelo climatério, pode aumentar o risco de câncer e de eventos tromboembólicos, como infarto e AVC (acidente vascular cerebral).
O ginecologista explica que, no caso das mulheres que têm útero, a reposição do estrogênio, se feita por tempo prolongado, pode aumentar o risco de câncer do endométrio e, por isso, durante a terapia pode ser necessário administrar a progesterona, outro tipo de hormônio.
“Quando a paciente recebe o estrogênio puro por um período longo, acabamos induzindo uma proliferação do endométrio, da camada interna do útero. Então a ideia de usar a contraposição da progesterona à ação do estrogênio é para tentar coibir essa ação proliferativa no endométrio e reduzir o risco de um câncer”, ressalta o médico.
Por outro lado, a ação combinada do estrogênio com a progesterona pode elevar o risco de câncer de mama e de eventos tromboembólicos, esse último em uma escala maior.
“Com o passar do tempo, percebemos que esses efeitos são mais proeminentes em mulheres que iniciam a terapia hormonal mais do que cinco anos, em especial mais do que dez anos, após a menopausa. Então, criou-se um conceito de que a terapia hormonal deve ser iniciada, quando necessário, nas mulheres até no máximo cinco anos após a última menstruação”, explica o especialista.
Para as mulheres que passam pelo climatério sem o útero e, por consequência, sem o endométrio, a reposição hormonal combinada com a progesterona não é necessária, então os riscos associados a esse tipo de terapia reduzem consideravelmente, segundo o ginecologista, chegando a ser considerados “insignificantes” por alguns estudos.
“Então, preferencialmente, hoje a ideia é que, se for fazer uma reposição hormonal, que ela seja feita só com estrogênio, porque sabemos que a utilização exclusiva desse hormônio tem pouco ou nenhum efeito sobre as questões de risco de tromboembolismo e de câncer de mama. Para as mulheres que têm útero, vários estudos estão sendo realizados para tentar criar uma outra opção sem a progesterona”, afirma o médico.
O geriatra Natan Chehter, membro da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia e do Hospital Beneficência Portuguesa, de São Paulo, destaca que a reposição hormonal apresenta benefícios programados, enquanto está sendo administrada, ou seja, sem grandes vantagens a longo prazo para a vida da mulher durante a velhice.
“Não há benefícios em estender a quantidade de hormônios de forma artificial para além daquilo que o corpo está programado para receber. Atualmente tem ficado muito em voga a questão do tratamento hormonal como a pílula da juventude, para postergar a menopausa e fazer a pessoa se sentir jovem para sempre, ou mesmo para a estética. Mas a terapia com hormônio é um tratamento médico, tem que ser indicada com cuidado e precisa ser monitorada”, ressalta.
Mesmo se vivenciarem os sintomas do climatério de maneira mais intensa, mulheres que já tiveram câncer de mama ou de endométrio e as que já sofreram eventos tromboembólicos ou têm mutações genéticas que aumentam o risco de trombose não podem fazer a terapia de reposição hormonal.
Por isso, os especialistas ressaltam a importância de uma avaliação médica individual para que o tratamento seja receitado de forma segura e adequada.
Além disso, o ginecologista Alexandre Pupo destaca que, para aquelas que podem se submeter ao tratamento, não é recomendado fazer a reposição por mais de cinco anos contínuos.
“As mulheres que quiserem usar por mais tempo que isso precisam ter consciência de que ainda estamos em uma fase de aprendizado científico do que teremos de benefícios e malefícios no prolongamento da terapia hormonal”, afirma.