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porto velho, sexta-feira 29 de novembro de 2024
Em 2017, quando trabalhava numa multinacional, o carioca Wilbert Acioli foi parar numa emergência hospitalar com sintomas de infarte. Com o passar das semanas, entendeu que estava atravessando um burnout e após alguns meses pediu demissão. Mal sabia ele que, cinco anos depois, estaria trabalhando como gestor emocional — assim se define —, com lista de espera de pacientes que, na mais recente onda da pandemia de Covid-19, chegaram ao seu limite emocional.
Hoje, Wilbert atende pessoas — inclusive ex-colegas de trabalho — com sintomas de ansiedade, depressão e exaustão e faz palestras e cursos sobre o que muitos consideram uma pandemia dentro da pandemia. No Brasil e em toda a América Latina, os transtornos mentais se tornaram um drama para o qual a sociedade está olhando cada vez mais e diante do qual ainda está reagindo, segundo especialistas, com dedicação aquém do tamanho do problema.
A opinião praticamente unânime dos que trabalham com saúde mental é que, nesse aspecto da pandemia, o pior está por vir.
— Não se pode mais ignorar os transtornos de saúde mental. Existem cada vez mais empresas que fornecem serviços de assistência psicológica ao mundo corporativo. Nos próximos meses veremos uma explosão de casos — diz a argentina Stella Maria Sanyan, diretora da área de saúde da consultoria internacional Williams Towers Watson (WTW).
Conforme pesquisa realizada no ano passado pela WTW, na qual foram entrevistados representantes de empresas de saúde em todo o mundo, a expectativa é que nos próximos 18 meses os transtornos mentais cresçam mais do que qualquer outro e gerem mais despesas.
O alerta também foi feito pela Organização Pan-americana de Saúde, que assegurou ser “preciso fortalecer as respostas de saúde mental à Covid-19 com apoio psicossocial”. O documento mostrou que 4 em cada 10 brasileiros desenvolveram ansiedade no ano passado.
O momento é crítico, concorda Tatiana Pimenta, fundadora do aplicativo Vittude, criado em 2016 para conectar pacientes com profissionais de saúde mental. Tatiana sofreu depressão em 2012, e sua péssima experiência com planos de saúde a levou a criar uma ferramenta que ajuda as pessoas de todo o Brasil a encontrarem a melhor maneira de tratar seus transtornos. Há dois anos, a Vittude tinha sete clientes corporativos e hoje tem mais de 150, claro sinal, diz ela, de que os empregadores estão começando a se preocupar com a saúde mental de seus trabalhadores.