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porto velho, sexta-feira 29 de novembro de 2024
BRASIL - A Covid-19 pode afetar a fertilidade masculina. É o que aponta um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Rede Mater Dei, de Belo Horizonte, em pacientes que morreram vítimas da doença.
A pesquisa mostrou que 100% deles tinham os testículos comprometidos e o vírus ainda tinha a capacidade de infectar, mesmo após bastante tempo de contaminação.
"Um dos pacientes morreu 26 dias após o início dos sintomas e havia vírus infectante no testículo, o que não era esperado", diz o urologista e especialista em fertilidade masculinha, Marcelo Horta Furtado, um dos coordenadores do estudo. Pesquisadores da Universidade Estadual Paulista de São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, e da Faculdade de Medicina da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, também colaboraram com o trabalho.
A pesquisa já foi submetida a uma revista científica internacional em fase de pré-print, quando ainda não foi revisada por outros cientistas, mas já recebeu comentários de pesquisadores de diversos países. Um estudo conduzido pela Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, encontrou resultados semelhantes em macacos.
Os pesquisadores mineiros estudaram os testículos de onze homens com idades entre 40 e 88 anos que tiveram a forma gravíssima da Covid-19, com autorização das famílias. Todos ficaram internados em CTI e faleceram em 2021. Foram retirados os dois testículos de cada paciente.
Agora, eles querem saber se o vírus pode comprometer a fertilidade também em pacientes que tiveram a forma leve ou moderada da doença. Os estudos estão sendo feitos em dois grupos de homens, um dos que tiveram a doença e fizeram apenas isolamento domiciliar e outro dos que precisaram ser internados em hospitais.
No primeiro grupo as amostras de semen são colhidas entre 15 e 30 dias após os sintomas, três e seis meses depois. No segundo, a coleta é feita seis meses depois da alta. "Há indícios de que esse comprometimento possa ser transitório", diz Furtado. A pesquisa deve mostrar qual o grau de comprometimento e quanto tempo os efeitos duram. Os resultados devem ser conhecidos em até dois anos e serão importantes para casos de inseminação artificial, fertilização in virto e tratamentos e infertilidade.
O estudo partiu da constatação de que diversos vírus se alojam nos testículos e de artigos que mostravam que o Sars-Cov 1, vírus da mesma linhagem do novo coronavírus e que causou uma epidemia na Ásia em 2006, também comprometia a fertilidade dos homens.