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HPV e tabagismo são fatores de risco para o câncer de cabeça e pescoço

Doença acumula alta taxa de mortalidade devido à detecção tardia e requer atenção aos primeiros sinais persistentes


R7

Publicada em: 27/07/2022 08:48:36 - Atualizado

BRASIL: Nesta quarta-feira (27), Dia Mundial da Conscientização e Combate ao Câncer de Cabeça e Pescoço, especialistas chamam a atenção para a importância da detecção precoce da doença, que é diagnosticada, na maioria das vezes, já em estágio avançado.

"A maioria dos tumores é diagnosticada em estágios mais avançados, principalmente por seus sintomas não serem valorizados, seja pelo paciente ou por profissionais de saúde", ressalta o oncologista clínico Thiago Bueno de Oliveira, presidente do GBCP (Grupo Brasileiro de Câncer de Cabeça e Pescoço).

Esse tipo de câncer acontece, principalmente, na região da boca, garganta (orofaringe e hipofaringe, por exemplo), laringe (área das cordas vocais) e também na nasofaringe – atrás do nariz.

"São tumores originados na região da cabeça e pescoço, com exceção do cérebro, e os sítios mais comuns deles são as vias aerodigestivas superiores – fossa nasal, nasofaringe, cavidade oral, orofaringe, laringe e hipofaringe –, além da tireoide e das glândulas salivares", acrescenta Bueno.

O oncologista complementa que "os tumores de laringe, ao contrário dos outros tipos de câncer de cabeça e pescoço, geralmente são diagnosticados no estágio mais inicial porque produzem sintomas que incomodam mais, como a rouquidão persistente, assim como os de tireoide, [que são detectados em] exame de check-up e rastreamentos com ultrassom da região cervical".

Segundo dados do Inca (Instituto Nacional de Câncer), no Brasil, em média 76% dos casos de câncer de cabeça e pescoço só são diagnosticados em estágios avançados, o que dificulta o tratamento e eleva a taxa de mortalidade. Apenas em 2020, foram cerca de 29.620 mortes decorrentes de tumores nessas regiões.

Considera-se estágio avançado quando o tumor cresceu significativamente e atingiu as estruturas ao lado, adquiriu a capacidade de enviar células tumorais para os linfonodos cervicais ou mandou células para outros órgãos e tecidos, a chamada metástase a distância.

Sintomas

De acordo com William Nassib William Júnior, diretor médico do Centro de Oncologia e Hematologia da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, os tumores de cabeça e pescoço desencadeiam vários sinais e sintomas.

Os principais são feridas na boca, sangramento dessas lesões, dificuldade e dor para engolir, rouquidão ou aparecimento de gânglios (inchaços) e ínguas (caroços) no pescoço.

“Esses sintomas podem significar um alerta, especialmente se eles forem persistentes. Eles merecem uma investigação quando não se resolvem espontaneamente”, informa William Nassib.

E acrescenta: “Uma ferida na boca, por exemplo, uma afta, que vem e se resolve espontaneamente num curto espaço de tempo, não é uma lesão suspeita de câncer. Agora, uma que não cicatriza, que sangra, que começa a aumentar de tamanho, a doer, essa, sim, merece uma investigação e pode significar o aparecimento de um câncer”.

Thiago Bueno explica que uma lesão deve estar totalmente cicatrizada em até duas semanas. Portanto, feridas avermelhadas ou esbranquiçadas em qualquer parte da mucosa da boca, língua e/ou garganta que ultrapassa esse período merecem uma avaliação.

"Dores constantes na região da garganta e com irradiação para região do ouvido [também] são comuns nesses tumores. A perda do olfato persistente, obstrução nasal, sangramento, seja nasal ou da cavidade oral, devem levar o paciente a procurar atendimento médico especializado, [assim como um] mau hálito persistente", diz Thiago Bueno.

Fatores de risco

Fumar e beber álcool são duas das condições que aumentam os riscos de incidência do câncer de cabeça e pescoço.

“Certamente, o principal fator de risco é o cigarro. Pessoas que fumaram por muito tempo ou fumam têm um risco aumentado de desenvolvimento desse câncer. O álcool, por si só, não é um fator de risco tão importante, mas, quando se usa o álcool junto com o cigarro, esse risco é potencializado”, diz William Nassib.

Outra causa importante e que, segundo o diretor, foi recentemente reconhecida é a infecção por vírus, principalmente o HPV (sigla em inglês para papilomavírus humano).

De acordo com informações divulgadas pelo Inca, estudos globais comprovam que 80% das mulheres sexualmente ativas serão infectadas por uma ou mais variações do HPV. Além disso, é previsto que entre 25% e 50% da população feminina e 50% da masculina estejam infectadas pelo papilomavírus humano.

“Esse vírus é o mesmo que pode causar o câncer de colo de útero em mulheres, câncer de pênis, câncer de canal anal, e agora nós sabemos que ele também pode levar ao câncer de orofaringe, ou seja, região atrás da garganta, das amígdalas, da base da língua e parte de trás da língua”, explica Nassib.

“Em geral, a infecção por esse vírus acontece na adolescência e ele fica latente, dormente. Na maioria dos pacientes ele não vai causar nenhum problema, mas, eventualmente, a presença dele nas células normais ao longo de anos e décadas pode levar ao desenvolvimento do câncer, que vai aparecer quando os pacientes têm 50 anos, 60 anos, ou até um pouco mais idosos que isso”, conclui o diretor.

Prevenção

É fundamental atentar aos primeiros sinais da doença, pois, segundo Thiago Bueno, o início do câncer é a fase ideal para realizar um tratamento curativo, com maiores chances de remissão, diminuição de efeitos colaterais e menor risco de sequelas.

"O câncer de cabeça e pescoço tem uma particularidade que para tumores iniciais, geralmente, conseguimos chances de cura muito boas com menos tratamentos, por exemplo, com uma única modalidade – ou só a cirurgia, ou só a radioterapia. Quando há um tumor avançado ou bloco regional avançado, ainda temos chances de cura, mas à custa de mais tratamento. Muitas vezes, esses tumores exigem tratamentos combinados, como cirurgias seguidas de radioterapia", pondera o oncologista.

Outra forma de evitar o desenvolvimento da doença é vacinar-se contra o HPV. Atualmente, o Ministério da Saúde disponibiliza as doses da imunização quadrivalente para meninas de 9 a 14 anos, meninos de 11 a 14 anos e homens e mulheres imunossuprimidos, de 9 a 45 anos, que convivem com a Aids, transplantados de órgãos sólidos (coração, pulmão, rim, pâncreas e fígado) ou medula óssea, e pacientes oncológicos.

“Isso [a imunização] leva a uma diminuição, por exemplo, do câncer de colo de útero, que é muito comum nas mulheres, e existem indícios de que isso pode também ajudar a prevenir os cânceres de cabeça e pescoço”, aponta William Nassib.

“Parar de fumar e se vacinar contra o HPV são as duas medidas mais importantes contra o tumor dessa doença”, acrescenta o diretor.

Além disso, em caso de suspeita, é essencial realizar exames com um profissional especializado para confirmar o quadro.

“São necessários um bom exame físico por um profissional de saúde, nasofibroscopia (similar a uma endoscopia do nariz, boca e garganta), exames de imagem (ultrassom, tomografia e ressonância) e biópsia”, complementa Nassib.

Thiago Bueno ressalta que, a partir da avaliação física inicial e, eventualmente, da nasofibroscopia, o profissional pode solicitar tanto a biópsia quanto as análises de imagem para fechar o diagnóstico e direcionar o paciente ao estadiamento – processo em que os profissionais entendem a extensão, a localização e o estágio do câncer, a fim de escolher a melhor modalidade de tratamento.



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