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porto velho, quarta-feira 27 de novembro de 2024
MUNDO - A epidemia de varíola do macaco (monkeypox) está recuando, mas não devemos proclamar a vitória cedo demais, alertam especialistas e autoridades de saúde, pois devemos levar em conta os muitos países africanos em que a doença circulava muito antes deste ano.
"Estamos caminhando para o fim, mas ainda não chegamos lá", disse o virologista Jean Claude Manuguara.
Com mais de 70 mil casos em uma centena de países desde maio, "uma epidemia de monkeypox tão importante em tão pouco tempo é algo nunca visto antes", lembra o chefe da unidade de Meio Ambiente e Riscos Infecciosos do Instituto Pasteur.
As pessoas mais afetadas, mas não as únicas, são homens que fazem sexo com homens.
Desde meados de julho, a curva de casos caiu drasticamente, especialmente na Europa Ocidental e na América do Norte. No entanto, alguns países da América Latina continuam a experimentar um aumento.
E a varíola, declarada emergência internacional de saúde pública em 23 de julho pela OMS (Organização Mundial da Saúde), ainda mantém esse status, assim como a Covid-19.
"Uma epidemia que desacelera pode ser mais perigosa, porque você pode pensar que a crise acabou e sua guarda está baixa", alertou Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, em meados de outubro.
No entanto, de acordo com vários especialistas, o declínio da epidemia se deve em grande parte à mudança de comportamento nas comunidades em risco, embora a imunização também tenha desempenhado um papel importante.
Os comportamentos evoluíram graças ao papel "das associações, talvez mais ouvidas do que as autoridades e mais próximas do terreno", sugere Jean Claude Manuguera.
Pesquisas indicam que mais da metade dos homens que fazem sexo com homens reduziram o número de encontros sexuais.
Quanto à vacinação, "ajudou, mas o número de vacinas disponíveis ainda é baixo", lembra Carlos Maluquer de Motes, professor de virologia da Universidade Britânica de Surrey.
A vacina ainda é recomendada para prevenção e pós-exposição. Segundo a Agência Europeia para o Controlo de Doenças (ECDC, na sigla em inglês), a sua eficácia clínica ainda não é suportada por "dados sólidos", mas apresenta resultados preliminares positivos.
"Ainda há incertezas significativas sobre a evolução da epidemia", salienta a agência europeia.
Os especialistas da organização traçam quatro cenários: os dois desfavoráveis são um rebote da epidemia – relacionado ao retorno de comportamentos de risco – ou uma circulação reduzida do vírus com surtos esporádicos; enquanto os favoráveis são o declínio persistente da epidemia ou a eliminação da doença na Europa.
O objetivo continua sendo evitar que a varíola do macaco (causada por um vírus de DNA com menos chance de mudanças genéticas brutais do que o vírus de RNA) se torne mais perigosa ou mesmo se instale em países onde não é endêmica.
Atualmente, ela é endêmica em uma dúzia de países africanos. Nas áreas endêmicas da África central e ocidental, a epidemia mais letal se deve principalmente ao contato com a vida selvagem nas áreas rurais.
É verdade que o vírus da varíola do macaco é muito menos contagioso que o da Covid. Portanto, os casos tendem a progredir muito mais lentamente.
Mas, na medida em que há "mais ciclos de infecção, é mais provável que o monkeypox mude e infecte um número maior de pessoas", diz Maluquer de Motes.
Este episódio nos lembra que os vírus não têm fronteiras e a resposta deve ser global, insistem os defensores de uma abordagem que combina saúde humana, animal e ambiental ("One Health").
Nos últimos meses, "foi visto novamente que as estratégias globais só são implantadas quando os países do norte são afetados – o que não isenta as autoridades de saúde africanas", diz ele.
"Os países da África são parte integrante da resposta global", disse Rosamund Lewis, principal especialista em varíola da OMS, no início de outubro, elogiando seu compromisso com uma melhor vigilância (detecção do vírus) e estudos de tratamento e vacinas.