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porto velho, sábado 5 de julho de 2025
A notícia, nessa semana, por parte do Ministério da Saúde, de que a vacinação do grupo prioritário somente será finalizada em setembro deste ano é um balde de água fria na imunização ampla da população. E, com essa situação, também ficamos cientes de que a normalidade social e econômica dificilmente virá este ano e, o que é pior, pode também não vir no próximo. Se isso efetivamente se confirmar, e é praticamente certo que assim vá acontecer, dada a lentidão na vacinação, teremos um 2022 extremamente explosivo politicamente, dada a decadência socioeconômica acumulada e agravada nesse período, mas também, e antes de tudo, viveremos uma continuidade da crise sanitária, social e econômica de nossa população, com descrescimento econômico e consolidação da miserabilidade social.
Porque, percebamos isso, não será possível nem ao governo federal, nem aos governos estaduais e municipais relaxarem as medidas de distanciamento social e posturas mínimas – em alguns casos drásticas – de lockdown. Quanto a isso, todos nós podemos perder qualquer ilusão, principalmente aqueles que contrapõem ficticiamente economia e saúde pública: sem vacinação em massa da população e continuidade dos cuidados profiláticos básicos, teremos incremento da contaminação viral e, assim, colapso da rede hospitalar de atendimento, como vivenciamos em Porto Velho nestes primeiros meses do ano, com uma mortandade muito grande dos infectados. Como estamos podendo aprender agora (nós, os leigos, posto que os cientistas sempre estão nos alertando para isso), a contaminação acontece em fases cíclicas, de aumento, estabilização e diminuição de casos, ao longo do tempo, repetidamente, enquanto não existir imunidade de rebanho. Logo, sem imunização ampla, resta-nos a correlação de cuidados profiláticos e de lockdown em setores não essenciais da economia, como forma de controlar essas ondas de infecção viral, de saturação hospitalar e de escalada de mortes perfeitamente evitáveis com essas medidas institucionais acima.
Ora, o perigo do atraso permanente na vacinação e a inexistência de uma atuação federal organizada e gerenciadora, articulada aos estados e municípios, em torno da contenção e do isolamento sociais, aliado à praticamente inexistente postura de protagonismo estatal em termos de injeção de dinheiro na economia e no social, ameaça com protelar sem fim a mitigação do problema e, portanto, em consequência, com radicalizar a crise socioeconômica que vivemos. De fato, o governo federal parece incapaz de utilizar estratégias políticas razoáveis e, em especial, a máquina pública de um dos maiores e mais poderosos países do planeta para financiar as saídas para essa crise, entre elas o auxílio emergencial contínuo, o financiamento amplo às empresas, a agilização das vacinas e, então, a própria questão do isolamento social (como medida de governo). O governo federal acredita seja na espontaneidade da retomada econômica apesar da pandemia (e, por isso, se omite, deslegitima e sabota o trabalho de governadores e prefeitos), seja na panaceia da vacina, mas ambas as coisas não acontecerão sem pressão e protagonismo políticos e desligadas, como estou argumentando, tanto do foco na educação científica da população em torno aos cuidados profiláticos quanto da realização de lockdowns progressivos, a fim de frear a contaminação.
Nesse sentido, quanto mais demora a realização da vacinação em massa, mais corremos o risco de agudizar e de tornar permanente a crise socioeconômica que estamos vivenciando, com o agravamento da pobreza, do desemprego e da miserabilidade social, incluindo-se a falência de nossas empresas. Quanto mais o governo federal se recusa, deslegitima e sabota medidas de contenção social, mais nós nos tornamos reféns das ondas de contaminação ampla, de saturação da rede hospitalar e de crescimento de mortes. Quanto mais as duas coisas estão juntas e se radicalizam concomitantemente (atraso na vacinação com abertura ampla da economia e deslegitimação do isolamento e da contenção sociais), mais incorremos na estabilização de uma crise sem fim no âmbito socioeconômico e político-institucional. É por isso que, analisando a atuação do governo federal no combate à pandemia, podemos entender o porquê de a crise estar agudizada e normalizada, bem como o porquê de nós ainda estarmos muito longe de um controle efetivo da pandemia. E, quanto mais longe estivermos do controle dela, mais intensamente estaremos submetidos ao seu furacão destruidor, com nossa vida em perigo.
É possível que a eleição no âmbito federal e estadual, no próximo ano, possa motivar o governo federal a uma postura mais incisiva em relação à pandemia, calcada no protagonismo científico, na postura propositiva do presidente Jair Messias Bolsonaro e no investimento público destinado a mitigar a crise vivida por todos. Mas estamos falando de Jair Messias Bolsonaro, isto é, alguém completamente imprevisível e inconstante, cuja atitude mais básica está exatamente na destruição de tudo e de todos.