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porto velho, domingo 13 de julho de 2025
O depoimento do ex-ministro da saúde, Luiz Henrique Mandetta, realizado neste dia 04 de abril de 2021, à CPI da Covid-19, lança luz aos bastidores do trabalho de sabotagem, de negacionismo e de deliberada omissão cometido pelo presidente da república e seu estafe desde o início da pandemia. Pelo que pudemos perceber de sua fala, essa atuação do presidente se deu em pelo menos três vértices interligados: (a) a postura não-técnica de negação do problema e de recusa de um direcionamento e de um tratamento científicos ao coronavírus; (b) a falta de preparação infraestrutural e logística, da qual a demora na reserva de vacinas, a parca ênfase no mecanismo COVAX Facility da Organização Mundial da Saúde e, finalmente, o despreparo na aquisição de oxigênio hospital e kits intubação são os exemplos mais drásticos e mortais; e (c) a recomendação de tratamentos sem eficácia comprovada, como a cloroquina ou a hidroxicloroquina o que, inclusive, e isso está comprovado, ocasionou mortes ou, então, destruição da função hepática de alguns pacientes.
Estamos ainda no primeiro momento da CPI, o qual muito provavelmente ainda tenha capítulos dramáticos em torno aos depoimentos de Nelson Teich, o ministro da saúde relâmpago e, depois, do General Pazuello, este como um dos maiores vexames – em termos de servilismo barato, de gerenciamento falho e de postura anticiência – já vistos entre as autoridades políticas brasileiras, diria que até maior do que o da comitiva que viajou a Israel para tratar do spray contra a COVID-19 e que saiu do Brasil sem máscara e aterrissou na referida nação com máscara – além de ter ouvido, primeiro, que é a vacinação, e não o spray, que minimiza o impacto do vírus e, ainda, no caso do na época chanceler Ernesto Araújo (outro que rivaliza em inépcia com Pazuello), sobre a necessidade de se colocar máscara para tirar foto em público com autoridades israelenses. Nesse sentido, como dizia, esta CPI da Covid-19 ainda vai nos revelar mais detalhes do submundo da (anti)política bolsonarista em relação à pandemia, dos quais conhecemos os efeitos mais graves, a saber, a mortandade de mais de 400 mil pessoas, a falta de projeto político coordenado nacionalmente e, então, a defasada e falha logística em torno às vacinas e aos insumos necessários ao enfrentamento do coronavírus.
Nós vivemos uma tragédia anunciada na área da saúde, que se espraia para a sociedade como um todo com uma pungência avassaladora. Com efeito, se tivéssemos essa coordenação centralizada e esse comprometimento público coordenado pelo governo federal, com um programa de isolamento social maturado, com gerenciamento e educação científicos e políticas públicas de amortização dos efeitos do vírus, além de um trabalho forte junto às empresas farmacêuticas para a aquisição das vacinas, hoje estaríamos seja com uma porcentagem de vacinação mais alta, seja com certa normalidade socioeconômica, seja, ainda, com um número de mortes mais reduzido. Porém, o que estamos vivendo é exatamente o caso sanitário, o qual logo explodirá novamente em uma terceira onda, a desestabilização socioeconômica e, ainda, a fragilização cada vez maior do poder político-institucional, o qual pode nos trazer grave regressão através de tentativas de destruição do Estado democrático de direito, situação sempre visibilizada no discurso de Bolsonaro. Estamos, enfim, vivendo um momento de extrema instabilidade, de forte regressão e de caos social que, conjugados, são a receita para o desastre. E esse desastre tem nome e sobrenome: Jair Messias Bolsonaro.