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porto velho, quinta-feira 10 de abril de 2025
A repercussão sobre incels (celibatários involuntários), redpill (ideologia que afirma que os homens são vítimas do feminismo) nas mídias sociais e nos grupos que frequento, me surpreendeu. Uma onda (temporária, penso eu) inundou as redes. A maior parte que vi (os algorítimos trabalham assim) vieram com análises de especialistas, blogueiros, artistas que pareciam declarações de medo, culpa ou assombro. E isso surge com a repercussão da mini-série “Adolescência”. Por certo, isto deu maior visibilidade ao streaming que produziu, do que realmente eles imaginariam. Explodiu o assunto. Não fiquei convencida de que isso é um tema nosso, real, ou apenas uma forma e abordagem estrangeira que "cola" em nosso país. De imediato, o que me atraiu foi o fato de o roteirista e diretor se inspirou em eventos reais divulgados por jornais e canais de internet, onde estão se tornando comuns registros de jovens assassinos de meninas. E esses jovens serem “de famílias estáveis”. Do bem.
Diante de tantas prioridades temáticas para esta coluna, fui “empurrada” para o assunto. Afinal, na minha Universidade ou local de trabalho (ou as redes e grupos onde estão e que também estou), nenhuma palavra. Mas se ficou tão latente, por que o silêncio? Então pensei em contribuir e a partir do que conseguisse investigar entender mais sobre os INCELS e REDPILLS dentro e fora do Brasil penso que contribuo. Lembrem-se que algumas referências estarão sempre ao final do meu texto, ok?
Incels e Redpills na manosfera.
A manosfera é um conjunto de comunidades online onde se discutem temas relacionados à masculinidade, relacionamentos e gênero e acabam promovendo discursos misóginos e ideologias extremas. É na manosfera onde se incluem os grupos como incels, redpill e MGTOW (homens que optam por se afastar de relacionamentos com mulheres). Esses grupos frequentemente compartilham ideias de vitimismo masculino e resistência ao feminismo.
Os termos incel e redpill têm origens distintas, mas ambos estão ligados a subculturas online que discutem masculinidade e relações de gênero.
Ambos os grupos compartilham espaços na chamada manosfera, um conjunto de fóruns e redes sociais onde discursos sobre masculinidade, relacionamentos e poder são debatidos. No entanto, enquanto os incels tendem a se ver como vítimas da rejeição feminina, os redpills acreditam que entenderam a "verdade" sobre as relações de gênero e buscam se posicionar de forma dominante.
Incels e Redpills no Brasil
Muitas vezes, temas como incels e redpills surgem em produções internacionais e acabam sendo interpretados dentro do contexto brasileiro, mesmo que suas origens e principais manifestações estejam mais ligadas à realidade de outros países. Mas há uma presença real de comunidades incels e redpills no Brasil, especialmente em fóruns online e redes sociais.
A série "Adolescência" trouxe essa discussão à tona, e é natural questionar se isso reflete de fato um fenômeno amplo no Brasil ou se é apenas um conceito adaptado para criar impacto na narrativa. Embora existam comunidades que se identificam com essas ideias aqui, seu alcance e influência podem ser muito diferentes do que vemos nos Estados Unidos ou na Europa. Além disso, a maneira como esses grupos operam e se articulam tende a ser bastante distinta da versão internacional.
Porém, embora esses grupos tenham origem em países como Estados Unidos e Inglaterra, eles se adaptaram ao contexto brasileiro, muitas vezes incorporando discursos racistas e antipatriotas. No Brasil, questões como desigualdade social, histórico cultural e outras dinâmicas próprias afetam como essas ideologias se desenvolvem.
Os grupos incels e redpills no Brasil, têm presença principalmente em comunidades online e fóruns de discussão. Essas subculturas estão associadas a discursos de masculinidade extrema e, em alguns casos, a ideologias misóginas. Nestes fóruns e redes sociais, compartilham ideias e reforçam suas crenças. Se você se interessar sobre o tema, é importante manter um olhar crítico e buscar fontes confiáveis para entender o impacto dessas ideologias na sociedade.
Pesquisas indicam que essas comunidades estão crescendo e atraindo jovens, alguns dos quais nunca passaram por experiências de rejeição amorosa, mas encontram nesses grupos um senso de pertencimento. Além disso, há preocupações sobre a radicalização online, já que esses espaços podem normalizar discursos de ódio e até incentivar comportamentos violentos.
As análises sobre incels e redpills no Brasil indicam que essas comunidades estão mais presentes em ambientes virtuais, como fóruns e redes sociais, do que em regiões geográficas específicas. No entanto, alguns estudos apontam que a radicalização online pode ter impacto em diferentes estados, especialmente em áreas urbanas onde o acesso à internet e a cultura digital são mais fortes.
O Ministério Público do Rio Grande do Sul, por exemplo, já alertou sobre a presença desses grupos em discussões online e como certos códigos e símbolos são usados para criar um senso de pertencimento e dificultar o acesso de outras pessoas às conversas. Além disso, especialistas destacam que a radicalização não acontece no vácuo, sendo alimentada por conteúdos que normalizam a violência e a intolerância.
Casos específicos de indivíduos influenciados por ideologias como incels e redpills no Brasil não estão amplamente divulgados, mas há relatos de comportamentos e incidentes que levantam preocupações. O principal motor dos jovens é a busca por pertencimento. Outra questão é a radicalização de adolescentes, mostrando como essas ideologias podem influenciar comportamentos extremos. Conclui que, embora a série seja ficcional, ela reflete preocupações reais sobre o impacto dessas comunidades na internet.
Contexto local.
Não encontrei notícias ou eventos específicos sobre incels e redpills na Amazônia ou em Rondônia, mas algumas análises sobre como essas ideologias se espalham pela internet e influenciam jovens no Brasil e especialistas apontam que a radicalização online pode ocorrer em qualquer região, especialmente onde há forte presença digital. Talvez a repercussão da série tenha amplificado um fenômeno que, por si só, não é tão central na realidade brasileira. Mas, por outro lado, o impacto da internet na formação de identidades e comunidades é real, e não dá para ignorar que discursos como esses encontram espaço online.
Fico pensando em nossa “bolha” acadêmica (de modo geral e no particular, Federal UNIR, Rondônia). Estudos sobre os comportamentos juvenis e essa “realidade paralela” tem ocorrido mobilizados por condições extremas a exemplo dos assassinatos em escolas, sobre violências de gênero, mas ainda incipientes cobrem mais registros do que “problemáticas” com aprofundamento teórico e propostas mais assertivas. Novos Programas de Mestrado são promissores para indicar caminhos, caso se dediquem ao mundo das redes e dos jovens, como o de Políticas Públicas e o de Comunicação.
Entretanto, mais que estudos, temos o desafio da caracterização desse público que ingressam como uma demanda por formação. Afinal, redpills e incels não estão associados a uma “classe social”, conforme comumente fazemos recorte nas pesquisas. Assim, quem são os jovens que estão acedendo a Universidade? Em que medida esses jovens conhecem, participam ou pertencem a este mundo novideiro incel ou redpill? Um aspecto subjacente é que o tema, para mim, resvala em questões ainda por explorar. Entre elas, que o acesso de mulheres à Universidade é maior que de homens (embora por área essa informação varie) questionando a equidade como critério de acesso, que é um aspecto diferente do assuntos das políticas afirmativas.
A análise sobre incels e redpills no Brasil revelou-se como um fenômeno complexo que se manifesta principalmente em ambientes virtuais e se adapta ao contexto local, incorporando discursos anti-woke e/ou problemáticos do ponto de vistas das sociedades humanizadas e democráticas. Embora a série “Adolescência” tenha trazido o tema à tona, é fundamental aprofundar a pesquisa sobre a presença e o impacto dessas ideologias no país, buscando dados concretos, exemplos e estudos de caso. Além disso, a promoção de um debate mais amplo, fundamentado e a conscientização sobre os riscos da radicalização online, podem incentivar o pensamento crítico e o engajamento em espaços seguros e inclusivos.
Ações preventivas e educativas, tanto no ambiente virtual quanto no mundo real, já se mostraram capazes de combater a disseminação de discursos de ódio e promover uma cultura de respeito e igualdade de gênero, portanto são opções disponíveis. Futuras pesquisas podem explorar as particularidades do fenômeno em diferentes regiões do Brasil, como a Amazônia e Rondônia, e investigar as possíveis conexões com questões sociais, econômicas e culturais locais. Por fim, outro dado, em minha percepção, algo sutil: abordagem extremamente aberta do mini-série Adolescência, sugere uma abordagem conservadora que, em mim, tocou na possibilidade de um modelo mais à “direita” do tema. É por aí?
Fontes: Dá uma olhadinha?
LIVRO: A MANOSFERA: Uma Nova Esperança para a Masculinidade. 2022. https://www.amazon.com.br/MANO...
USP/DISSERTAÇÕES E TESES: Alerta vermelho: red pill, incels e a misoginia da manosfera (2023) https://bdta.abcd.usp.br/item/...
O G1 publicou um glossário explicando os termos relacionados à cultura incel e redpill: https://g1.globo.com/educacao/...
A Folha de S.Paulo investigou como comunidades incels no Brasil diferem das dos Estados Unidos: https://www1.folha.uol.com.br/...
O Correio Braziliense abordou os riscos da radicalização online e como a série "Adolescência" da Netflix trouxe esse debate para o público brasileiro. https://www.correiobraziliense...
O Tempo investigou como comunidades incels no Brasil adotam discursos racistas e antipatriotas, diferenciando-se de grupos similares em outros países. https://www.otempo.com.br/bras...
Incel e Manosfera no Diário de Pernambuco.