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porto velho, segunda-feira 14 de julho de 2025
BRASIL: Fazendeiros se organizam em dezenas de cidades da Bahia para reagir ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e à onda de invasões anunciadas para o chamado “Abril Vermelho”.
Na versão mais atualizada, havia 800 fazendeiros listados e distribuídos em 130 dos 417 municípios baianos em sete núcleos de cidades: Itabuna, Ipaú, Itapetinga, Eunápolis, Santo Antonio de Jesus e Vale do Jiquiriçá.
A origem do movimento foi na cidade de Santa Luzia, onde um pequeno grupo de fazendeiros conseguiu impedir a invasão dos sem-terra.
Desde então, o movimento cresceu e associações e sindicatos rurais têm servido de base para reuniões.
Mais recentemente, prefeituras de outras regiões do estado aderiram.
O presidente do Consórcio Chapada Forte, Wilson Paes Cardoso, prefeito de Andaraí, no centro do estado, divulgou uma nota dizendo apoiar a reforma agrária.
Ele diz, no entanto, “ser a desapropriação o caminho correto e que por este motivo discorda veementemente de qualquer ato de invasão ou ocupação por tratar-se de ação que fere garantia constitucional, o direito de propriedade e gera insegurança jurídica”.
Sindicatos rurais têm organizado encontros apoiados pelo time jurídico da Federação de Agricultura do estado da Bahia para “tratar de assuntos referentes às invasões de terra em nosso estado”.
Um dos organizadores do movimento é o fazendeiro Luis Uaquim, que produz cacau e cria gado em Ilhéus.
“O movimento é uma reação ao governo [do presidente Luiz Inácio] Lula [da Silva]. O governo Lula vai ter que se adaptar a muita coisa que ele acha que poderia fazer mas não pode mais”, afirma Uaquim.
“O dia 1º de abril é chave. O MST chama de Abril Vermelho porque gostam de deflagrar invasões. Faremos vigília. No governo passado [de Jair Bolsonaro] eles [MST] pararam porque o governo não deixava. Então, estamos nos organizando e esse movimento está ganhando corpo e dimensão nunca antes vista. É uma bomba pronta para explodir porque pode haver conflito na hora de retirar os invasores”, continua o fazendeiro.
Ele nega, porém, que esses grupos ruralistas estejam se armando.
“O grupo é muito claro. Não pode ter arma de fogo. A gente aposta na pressão. Se eles entraram na fazenda com 100 [pessoas], nós apertamos o botão do grupo e vamos para lá com 1.000 pessoas”, explica.
Na avaliação do fazendeiro Luis Uaquim, “a mudança de governo na esfera federal trouxe de volta uma política –apoiada pelo PT– das invasões de terra, que acaba sendo pior na Bahia porque o PT governa o estado há 16 anos, então, o MST encontra aqui solo fértil para invadir”.
Ele também afirma que “onde tem governo do PT há uma resistência do governo em ajudar”, por isso o grupo ganhou corpo.
De acordo com o Incra, foram comunicadas ao órgão 16 invasões neste ano no país, sendo seis em São Paulo, dez na Bahia e uma no Espírito Santo.
Como a comunicação não é obrigatória, os números não necessariamente não refletem a realidade, mas a forma como se deu o desfecho aponta que em governos mais à direita, como em São Paulo, a retirada acaba sendo mais rápida do que nos governos mais à esquerda, como o da Bahia.
Ajuda neste cenário o fato de governadores mais à direita no espectro político terem sinalizado que não tolerariam invasões.
No dia 7 de março, em evento de posse do novo presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, Pedro Lupion, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), antiga liderança ruralista, disse que “enquanto for governador de Goiás, não terá invasão de terra no estado”.
O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), divulgou vídeo no dia 11 de março dizendo que a “cerca deve ser respeitada”.
“Nós fazemos questão de dar paz para o homem do campo através de uma segurança reforçada e inibindo qualquer tipo de invasão. Cerca existe para ser respeitada. Aqui em Minas não vamos tolerar invasão. O homem do campo precisa de segurança e paz para trabalhar”, disse Zema.
O governador do Mato Grosso, Mauro Mendes (União Brasil), disse que haverá “tolerância zero” com o movimento. E em São Paulo, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) acabou preendendo um dos líderes da Frente Nacional de Lutas, José Rainha, após uma onda de invasões durante o carnaval.