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porto velho, terça-feira 2 de setembro de 2025
BRASIL: O episódio envolvendo o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Flávio Dino, dentro de um avião comercial não é apenas mais um caso isolado de desrespeito à autoridade. É o retrato de um Brasil polarizado, em que o debate político cede espaço para o ódio pessoal e a desinformação. A mulher que tentou confrontar Dino em pleno voo não apenas desrespeitou um membro do Judiciário, mas comprometeu a segurança de todos os passageiros a bordo — sob gritos, insultos e atitudes inflamadas, num espaço onde o mínimo de civilidade deveria prevalecer.
A hostilidade, claramente articulada com motivações políticas, demonstra como figuras públicas vêm sendo atacadas não por seus atos, mas por sua simples presença — transformadas em símbolos de uma "guerra cultural" fabricada nas redes e realimentada por discursos irresponsáveis.
Ao gritar frases como “não respeito essa espécie de gente” e “o avião está contaminado”, a agressora não apenas demonstrou intolerância, mas também buscou incitar uma espécie de linchamento simbólico, quase literal. A tentativa de “levantar a plateia” — ou, neste caso, os passageiros — remete a um perigoso espírito de manada, fomentado por quem se sente amparado por um discurso que normaliza a agressão política como forma de protesto.
Comparar a abordagem da Polícia Federal à "perseguição" de Jair Bolsonaro reforça uma narrativa distorcida: a de que instituições do Estado não estão cumprindo seu papel constitucional, mas sim perseguindo adversários. Isso não é só falso, é perigoso. Alimenta a ideia de que qualquer ato de legalidade é uma ameaça à liberdade — quando, na verdade, é a própria liberdade que está sendo ameaçada por quem não tolera o outro.
Esse episódio deve acender um alerta: não estamos lidando apenas com divergências políticas, mas com a degradação do pacto civilizatório. Há uma linha tênue entre liberdade de expressão e incitação ao ódio — e ela foi cruzada, mais uma vez, num espaço público, com testemunhas, câmeras e consequências.
O STF, a PF e os demais órgãos envolvidos adotaram as medidas cabíveis. No entanto, mais do que punições pontuais, o país precisa refletir: até onde vamos permitir que a violência simbólica — e física — ocupe os espaços de convivência comum. A democracia não exige unanimidade, mas ela cobra respeito.