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porto velho, sábado 30 de novembro de 2024
O Brasil tem ao menos 23,6 mil testes do novo coronavírus (Sars-CoV-2) ainda à espera do resultado. Esse número equivale a 3,4 vezes o total de casos confirmados (6,9 mil) no balanço das Secretarias de Saúde, atualizado às 7h40 desta quinta-feira (2). Para especialistas ouvidos pelo G1, tal discrepância indica que pode haver muito mais gente com a doença Covid-19 no país.
Essa subnotificação de registros tem duas causas:
Pesquisadores explicam que esse cenário – quantidade de kits insuficiente e gargalo na hora de analisar as amostras coletadas – dificulta a realização de cálculos que mostrem o real avanço do surto por aqui. E fazem um alerta: como o Ministério da Saúde recomenda que sejam testados apenas pacientes graves, existe a chance de ser considerável o percentual de "positivos" nesse universo de pessoas já submetidas ao exame.
O G1 procurou as Secretarias de Saúde de todos os Estados e do Distrito Federal para saber quantos testes estão na fila. Apenas 11 responderam até a última atualização desta reportagem: Acre, Alagoas, Amapá, Ceará, Espírito Santo, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Paraná, Rio Grande do Norte e São Paulo (veja os números na tabela abaixo).
O RJ, segundo estado com mais casos e mais mortes, não informou os números até a última atualização desta reportagem.
Fila de testes
Estado | nº de testes aguardando análise | nº de casos confirmados |
Acre | 68 | 43 |
Alagoas | 100 | 18 |
Amapá | 311 | 11 |
Ceará | 1.840 | 445 |
Espírito Santo | 674 | 120 |
Minas Gerais | 3.856 | 314 |
Paraíba | 100 | 21 |
Pernambuco | 0 | 95 |
Paraná | 0 | 229 |
Rio Grande do Norte | 1.000 | 92 |
São Paulo | 16.000 | 2.981 |
Total | 23.638 | 4.085 |
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou mais de dez tipos diferentes de testes para detectar o coronavírus. Eles podem levar de 15 minutos (com uma picada no dedo para tirar o sangue) ou até sete dias (com uma coleta de material do nariz e da faringe por meio de cotonete). Clique aqui para ler mais sobre os testes.
Modelos que projetam o volume de casos para os próximos dias sugerem que o ritmo da pandemia está mais lento -- apesar do recorde de confirmações em um só dia (1.138) nesta terça-feira (31) e do acréscimo considerável (outros 1.119 casos) nesta quarta-feira (dia 1º), segundo o Ministério da Saúde.
Ao G1, pesquisadores de três grupos de monitoramento da pandemia no país — cada um com uma metodologia distinta — admitiram que a possível tendência de queda de contágio pode não retratar a realidade, tamanha a subnotificação.
O físico é integrante do Observatório Covid-19 BR, que reúne pesquisadores de outras seis instituições – Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade Estadual Paulista (Unesp), Universidade de Brasília (UnB), Universidade Federal do ABC (UFABC), Universidade de Berkley (nos Estados Unidos) e Universidade de Oldenburg (na Alemanha).
Em São Paulo, por exemplo, a demanda de testes no Instituto Adolfo Lutz é o triplo da capacidade atual de análise. Nesta quarta, o instituto informou que 16 mil análises aguardavam resultados. Do total de exames recebidos na semana passada, apenas 0,4% foi processado e liberado.
Essa avaliação de que o número de casos deve ser significativamente maior é compartilhada por equipes do Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde (NOIS), que agrega cinco instituições, e do MonitoraCovid-19, da Fiocruz.
Em entrevista coletiva nesta quarta, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmou: "Prestem atenção que o número de casos confirmados – a partir desta semana, eles vão começar a ter um aumento. O que significa esse aumento? A testagem que está represada, (...) estamos começando a fazer algumas máquinas em automático, vai chegar um momento [em] que vamos ter megamáquinas automatizadas, e esses números vão crescer muito".
Ele acrescentou: "O número de casos está muito menor que o número de casos [real] que está circulando dentro da nossa sociedade". De acordo com o ministro, "provavelmente hoje a gente já estaria em espiral de casos mesmo fazendo esse isolamento [distanciamento social]".
De acordo com o NOIS, a pandemia no Brasil evolui "de forma mais controlada" em comparação com uma "cesta de países" – China, Coreia do Sul, Irã, Alemanha, Itália, Espanha, França e Estados Unidos.
"No entanto, por mais que as medidas de contenção tenham sido tomadas logo no início da epidemia, o que se mostrou eficaz para outros países, não se pode atribuir o crescimento mais lento do Brasil exclusivamente a este fato", ponderam os pesquisadores.
Eles detalham: "Um exemplo da influência destes fatores pôde ser visto no dia 31 de março, quando o Brasil apresentou um aumento de 25% em comparação ao dia 30 de março, sendo que em São Paulo esse aumento foi de 54%".
O tema da subnotificação foi abordado por Helio Gurovitz em seu blog no G1 nesta quarta: "faltam testes, mesmo para os casos graves". "Todo número, portanto, não passa de uma ilusão", escreveu.