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porto velho, sábado 30 de novembro de 2024
BRASIL: Profissionais da saúde de Fortaleza, capital com mais contaminados pela Covid-19 por milhão de habitantes (600, segundo o Ministério da Saúde), convivem com falta de EPIs, os equipamentos de proteção individual. Enfermeiros estão racionando material, e a previsão do próprio governo cearense é de que a situação piore nos próximos dias. A cidade registra 1.845 casos confirmados e 91 mortes -o Ceará tem um total de 2.157 infectados e 116 óbitos.
"Há varias situações: material chega de forma inadequada ou escassa, aventais não impermeáveis, alguns profissionais estão tendo que lavar seus próprios equipamentos para reúso ou usar máscaras de pano, o que não é recomendado. As máscaras têm que ser trocadas a cada duas horas, mas muitos profissionais têm uma ou duas para um plantão de 12 horas", disse a enfermeira Ana Paula Brandão.
Ela preside o Conselho Regional de Enfermagem no Ceará, que entrou com uma ação civil pública para que o governo informe a quantidade de material e como ele está sendo distribuído aos profissionais da saúde. Segundo a Secretaria de Saúde do Ceará, 137 profissionais já foram afastados do trabalho por suspeita ou confirmação de infecção pelo novo coronavírus. Quatro morreram.
O secretário de saúde, Carlos Roberto Rodrigues Sobrinho, conhecido como Dr. Cabeto, confirmou nesta terça (14) durante uma videoconferência com representantes da indústria da construção civil do estado que há preocupação com os EPIs e que o material deve acabar no estado nos próximos sete dias. O governo está com dificuldade para compra de equipamentos por falta de produtos no mercado internacional.
Na conversa, Cabeto falou que há uma previsão de colapso do sistema de saúde do Ceará e que já avisou o Ministério da Saúde a esse respeito.
"Podem morrer 250 pessoas por dia somente em Fortaleza no início de maio", disse o secretário, referindo-se à projeção do governo no pior cenário no pico das contaminações.
O Ceará, terceiro estado com mais casos confirmados do novo coronavírus, atrás apenas de São Paulo e do Rio de Janeiro, tem quase 90% dos leitos de UTI ocupados, segundo o secretário de saúde.
Até terça (14), 245 pessoas estavam internadas em Fortaleza com confirmação ou suspeita de Covid-19, 129 delas em UTIs.
Há expectativa de que na próxima semana seja inaugurado o hospital de campanha que a prefeitura está construindo no estádio Presidente Vargas, com previsão de 204 leitos. O governo estadual trabalha também para aumentar leitos no interior e nas UPAs (Unidades de Pronto Atendimento).
"É uma ocupação alta [de UTIs]. Quando a gente vai para os leitos que não são de UTI, essa ocupação é de 50%. Isso mostra que as pessoas já estão chegando em caso grave às unidades de saúde", disse Cabeto em entrevista à imprensa realizada na terça (14).
Pelo levantamento da secretaria, dos 116 mortos no Ceará, 4 morreram em casa, sem nem chegar a uma unidade de saúde. O governo enfatizou campanha para que as pessoas, principalmente as que se encontram em grupos de risco (idosos ou com doenças crônicas), procurem unidades de saúde o mais rapidamente se apresentarem sintomas como tosse e falta de ar.
Os profissionais de saúde do Ceará veem fragilidade não só em hospitais que recebem os doentes para internação mas também nas unidades básicas, os postos de saúde que em muitos casos são o primeiro lugar que alguém procura quando sente sintomas da doença.
"Quem está dentro das UTIs ainda tem, de certa forma, a roupa adequada. Quem está na unidade básica, não, e recebe pacientes com suspeita e você não sabe se ele está com a Covid-19 ou H1N1, por exemplo. E não há equipamentos para esse médico ou enfermeiro que trata diretamente com esse paciente em caso suspeito", disse Ana Paula Brandão.
Esse panorama em unidades básicas preocupa governo e prefeitura, porque o isolamento social recomendado é precário na periferia de Fortaleza, onde estão essas unidades prioritariamente. Hoje, a maioria dos casos da Covid-19 está concentrada em áreas nobres da capital, como o bairro de Meireles, que registra 168 infectados.
A explicação é que as infecções no estado começaram com viajantes do exterior -hoje o Ceará é porta de entrada do Brasil para voos internacionais por ser hub de empresas aéreas. Mas a falta de isolamento social em áreas periféricas pode inverter esse quadro, avaliam os governantes.
"Não é só não sair do bairro. É importante tanto evitar sair para outro bairro quanto é fundamental evitar aglomerações dentro da nossa própria comunidade. Nós conseguimos aumentar o isolamento em alguns bairros, segundo nossa série de indicadores, mas isso não quer dizer que as pessoas tenham ficado em casa", disse nesta terça (14) o prefeito Roberto Cláudio (PDT) por meio de redes sociais.
Guarda Municipal e Polícia Militar iniciaram nesta quarta (15) rondas por bairros da periferia para orientar as pessoas a ficarem em casa e evitarem aglomerações em praças ou mesmo nas calçadas.
Decreto do governador, Camilo Santana (PT), mantém fechado o comércio não essencial desde 20 de março. Ele já foi renovado duas vezes; as determinações atuais valem até 20 de abril, mas há possibilidade de nova prorrogação.