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porto velho, sábado 21 de junho de 2025
BRASIL: O primeiro a ser interrogado no tribunal do júri, nesta quinta-feira (9) foi Luciano Bonilha, ajudante da banda Gurizada Fandangueira. O réu, que prestava serviços como ajudante da banda Gurizada Fandangueira, que se apresentou no dia 27 de janeiro de 2013, quando ocorreu o incêndio que deixou 242 mortos e mais de 600 feridos, disse que o fogo na boate se alastrou quando ele jogou água para tentar reduzi-lo.
“Quando foi instalado tudo [artefatos pirotécnicos] na frente do palco e atrás da cortina, quando abriu começa a banda com o gaitaço. Tocaram quatro músicas e uma introdução de gaita. Eu introduzo a munhequeira na mão do Marcelo. Daí eu apertei, tirei a luva da mão dele e fui fazendo. No lugar que eu estava era muito apertado. Eles continuaram tocando por uns três minutos e eu ouvi que disseram ‘Luciano está pegando fogo’. Era bem azul o fogo. O fogo se propagou no momento que eu joguei água.”
Luciano afirma que os artefatos pirotécnicos eram montados ao lado do palco e um dos objetos era dado ao Marcelo de Jesus do Santos. “O Danilo e os músicos não iam querer se queimar, eles não iam querer colocar em risco seus instrumentos.” No dia 27 de janeiro, Luciano conta que colocou a munhequeira no vocalista da banda.
“Eu vi o rapaz pegar o extintor debaixo do bar e alcançar para o Marcelo. Eu estava do outro lado, o Marcelo pegou o extintor e não funcionou, achei que o Marcelo não sabia usar o extintor. Não tinha o lacre, era xoxo. Nós só saímos porque eu ouvi alguém gritar ‘sai, sai’”. Segundo ele, tinham 26 microfones.
Luciano disse no tribunal do júri que chegou a atuar em 14 apresentações da banda. Dessas, em nove ele diz que foram utilizados artefatos pirotécnicos. “Não conhecia a banda. Na boate Kiss, foram três ou quatro shows. No palco novo, foram duas vezes”, disse. O ajudante disse que conheceu o sócio Elissandro Spohr no dia 26 de janeiro de 2013, quando os músicos faziam o ensaio para a apresentação no dia 27.
“Fiz todo o meu trabalho. Eu e o Danilo andávamos sempre juntos. Acredito que o Danilo não ia me colocar na situação que eu estou de estar preso. Eu acredito que o Danilo não ia me levar para dentro de uma casa se fosse proibido. Não foi avisado [revestimento de espuma e rebaixamento do teto]. Se acreditava que tudo era seguro”, relatou ao juiz. Luciano afirmou que quem pediu que ele comparasse o objeto utilizado pela banda na apresentação foi Danilo Jaques. “Ele me designou para comprar. Eu tinha outras obrigações muito mais séria do que comprar aquilo para ele. Eu comprei o que o Danilo disse. O disparador ele comprou na internet. Só apareceu caixa depois que apareceu o sinistro. Vinha individual na sacola.”
Luciano, que nasceu em Porto Alegre, relatou que começou a trabalhar aos 12 anos. “Lavei carro, trabalhei num supermercado, trabalhei numa empresa de frangos. Trabalhava de office boy e sempre sonhei que eu poderia trabalhar nesse ramo de som”, lembra. Ele disse ao juiz que conheceu Danilo Jaques, líder da banda Gurizada Fandangueira, em um evento e começou a prestar serviços para ele. “Minha esposa disse “vai com o pé direito que minha vida vai mudar”.
O ajudante do grupo musical diz que suas atividades eram levar água e transportar os instrumentos da banda. “Queria saber tocar uma guitarra, um baixo. Mas eu dava um suporte em cima do palco. Quando aconteceu isso [incêndio] e disseram que eu era produtor, eu não era, eu não desenhava aquilo que tinha que ser para o show. Costumo dizer ‘não chame esse guri de produtor, vocês não têm noção da responsabilidade que é’”.
Após um interrogatório que durou cerca de uma hora, os advogados de defesa começaram a fazer perguntas ao réu, que aproveitou a ocasião para se referir aos familiares das vítimas da tragédia. “Queria dizer que o coração dos pais não está entendendo a minha dor, mas eu não tenho como entender a dor deles. Se eu tivesse morrido lá, eu tenho aqui a maior joia da minha vida, que é a minha mãe. Esses pais não têm mais o abraço dos filhos, o carinho. Eu digo que hoje estou sentado aqui, tenho a consciência tranquila que não foi o meu ato. Para tirar a dor dos pais, eu tô pronto, me condene.”