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porto velho, sexta-feira 27 de junho de 2025
BRASIL - A Polícia Civil de Santa Cruz do Rio Pardo (SP) interrogou na última quinta-feira (9) o padre Gustavo Trindade dos Santos, que é acusado de atropelar um homem suspeito de furtar uma igreja na cidade. O caso foi registrado no dia 7 de maio.
O religioso, investigado por tentativa de homicídio qualificado por conta do atropelamento de Ângelo Marcos dos Santos Nogueira, finalmente prestou depoimento à polícia, após não ter comparecido à sede do Departamento Especializado de Investigações Criminais (Deic), na capital paulista, quando foi intimado pela primeira vez.
À época, o local para depoimento foi definido após o padre informar que mudou seu endereço para o convento Santo Alberto Magno, no bairro de Perdizes, na capital. Inclusive, quatro dias depois de faltar ao depoimento, o padre Gustavo participou de uma missa no Santuário Nossa Senhora de Fátima, em Santa Cruz do Rio Pardo.
Interrogatório
Desta vez, o frei Gustavo foi interrogado por videochamada pelo delegado Valdir Oliveira, que comanda as investigações, e, acompanhado dos seus dois advogados, deu a sua versão sobre o caso.
Durante o interrogatório, o padre confirmou que havia terminado de celebrar um casamento, quando, na saída, escutou o alarme da casa paroquial e avistou Ângelo pulando o muro e fugindo do local.
No prosseguimento do interrogatório, o padre afirmou que ele e a pessoa que o acompanhava no carro no momento do caso pediram para Ângelo parar. No entanto, as imagens de segurança que flagraram o atropelamento mostram os vidros do carro fechados durante toda a perseguição, que foi de 1,4 km.
Em relação ao atropelamento, o frei afirmou que encontrou um caminho para fechar Ângelo, sendo que, no momento em que ele entrou na calçada para pará-lo, o suspeito do furto na igreja teria se jogado no carro. Portanto, o que estaria sendo tratado como um atropelamento não teria sido.
Quando questionado sobre por que não prestou socorro, o padre alegou que temeu a possibilidade de Ângelo estar armado e que, por isso, evitou o risco. Desta forma, ele retirou o carro e fugiu do local. O frei chegou a alegar que pediu ajuda à polícia.
Após o atropelamento, o padre contou que foi até o convento onde morava, guardou o carro, que pertence à Diocese de Ourinhos (SP), e viajou para Ribeirão Preto (SP), onde iria aproveitar o Dia das Mães e o próprio aniversário, que seria no dia posterior.
Investigação
Durante as investigações, a polícia descobriu que o frei Gustavo, apesar de habilitado, deveria ter renovado a carteira de habilitação em fevereiro de 2020.
A defesa do padre mostrou um documento da União Europeia que o autorizava a dirigir. O aceite, do tempo em que ele morava na Espanha, no entanto, não é válido em território nacional. Por esse delito, Gustavo deve responder apenas administrativamente pela CNH junto ao Detran.
O inquérito policial, concluído antes mesmo do depoimento de Gustavo, indiciou o padre por tentativa de homicídio qualificado. Nas duas vezes em que a polícia fez pedidos de prisão, o Ministério Público se posicionou contra e os dois pedidos de prisão preventiva contra ele foram negados pela Justiça.
Após a finalização do inquérito policial, para poder avaliar melhor o caso, o MP solicitou, além da oitiva do padre, um exame de corpo de delito para periciar a gravidade dos ferimentos no atropelado. No momento, as investigações aguardam esse parecer para que o órgão possa se posicionar sobre o caso.
Motorista que atropelou suspeito de furtar igreja em Santa Cruz do Rio Pardo (SP) foi identificado como sendo o frei Gustavo Trindade dos Santos — Foto: Reprodução
Ângelo, que, segundo o boletim de ocorrência, teria furtado três moletons e uma camiseta, segue com graves sequelas do atropelamento. Ele ficou internado, a princípio, na Santa Casa de Santa Cruz do Rio Pardo e, depois, foi transferido para a Santa Casa de Ourinhos.
De acordo com a sua defesa, ele se encontra em casa, sem conseguir se comunicar e andar, sendo necessário o uso de fraldas para as necessidades básicas. Por conta da sua condição, a defesa pretende entrar com uma ação frente à igreja pedindo ajuda, inclusive com a retirada da queixa de furto.
Ângelo chegou a ser preso em flagrante no dia do atropelamento, mas será investigado em liberdade.
O furto
Segundo o boletim de ocorrência, o homem atropelado furtou a casa paroquial da Igreja São Sebastião arrombando uma das janelas. Ele fugiu do local levando três moletons e uma camiseta. Câmeras de segurança flagraram Ângelo furtando a casa paroquial momentos antes de ser atingido por um carro da Diocese de Ourinhos.
Após mexer nas gavetas e circular pela área, ele se dirige a um cesto, no qual se encontram algumas roupas. O suspeito remexe em várias peças, quando decide levar algumas e foge do local
Em outras imagens de câmeras de segurança, é possível ver a fuga de Ângelo por um outro ângulo. Ele corre pela rua, quando o carro da casa paroquial, sob direção do padre Gustavo, vira a esquina, persegue Ângelo, entra na calçada e o atinge.
Após prensar o suspeito do furto contra a vitrine de uma loja de tintas, o padre retorna à via e sai em disparada do local. Nas imagens, é possível ver parte da lateral dianteira do carro danificada.