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porto velho, quarta-feira 12 de fevereiro de 2025
PORTO VELHO, RO: Cinco das dez capitais brasileiras com a maior concentração de escolas localizadas em áreas mais quentes estão na Região Norte, conforme aponta o estudo "O acesso ao verde e a resiliência climática nas escolas das capitais brasileiras", realizado pelo Instituto Alana em parceria com a Fiquem Sabendo, a partir de dados levantados pelo MapBiomas. Porto Velho ocupa a quinta posição nesse ranking.
O mês de janeiro de 2025 foi registrado como o mais quente da história, segundo dados do programa de observação Copernicus. Desde o início do ano, ondas de calor severas vêm impactando diversas regiões do Brasil, elevando as temperaturas a níveis recordes. O calor extremo afeta toda a população, mas é especialmente prejudicial para crianças, que possuem maior vulnerabilidade a essas condições. No Rio Grande do Sul, por exemplo, a solução encontrada para minimizar os impactos foi adiar o início do ano letivo. No entanto, em boa parte do país, muitas escolas carecem de infraestrutura adequada, como áreas verdes e acesso facilitado à água, o que compromete a criação de ambientes resilientes ao clima.
De acordo com o estudo, cinco capitais da Região Norte figuram entre as dez cidades com maior porcentagem de escolas situadas em ilhas de calor, caracterizadas por desvios de temperatura de pelo menos 3,57ºC acima da média urbana. Manaus (AM) lidera a lista, com 77,7% das escolas em áreas mais quentes que a média urbana, seguida por Macapá (AP), com 76%, e Boa Vista (RR), com 69,1%. Porto Velho (RO) ocupa a quinta posição, com 62,6% das instituições de ensino nessas condições, enquanto Rio Branco (AC) aparece em décimo lugar, com 39,8%.
Entre as capitais da Região Norte, Palmas (TO) apresenta uma situação relativamente melhor, com 23,7% das escolas em áreas de calor intenso. Por outro lado, Belém (PA) se destaca positivamente, ocupando a 25ª posição no ranking nacional, com apenas 1,73% das escolas em ilhas de calor.
O estudo revelou que aproximadamente 370 mil alunos estudam em escolas localizadas em áreas de risco hidrogeológico e que, em um terço das capitais brasileiras, pelo menos metade das instituições está situada em regiões com desvio térmico elevado. Isso compromete diretamente o aprendizado, uma vez que a capacidade de concentração das crianças diminui sob calor extremo, podendo até levar ao cancelamento de aulas. Durante o recreio, o calor excessivo reduz a atividade física dos alunos, que buscam se proteger do sol.
A falta de infraestrutura verde nas escolas é um dos fatores que agravam essa situação. O estudo indicou que 78% das escolas mais quentes possuem menos de 20% de cobertura vegetal. A situação é ainda mais crítica na educação infantil, onde 43,5% das instituições não contam com áreas verdes. Além disso, cerca de 20% das escolas nas capitais brasileiras estão situadas em locais sem praças ou parques em um raio de 500 metros, afetando diretamente mais de 1,5 milhão de estudantes.
De acordo com JP Amaral, Gerente de Natureza do Instituto Alana, a exposição prolongada ao calor extremo pode trazer danos duradouros à saúde e ao desenvolvimento das crianças, como dificuldades de aprendizado, baixa qualidade do sono e impactos negativos na saúde mental. "Para bebês e crianças pequenas, o calor intenso é ainda mais perigoso, pois seus corpos aquecem mais rapidamente e transpiram menos. Além disso, eles possuem menor autonomia para buscar locais frescos ou se hidratar", explica.
A pesquisa também revelou que as desigualdades raciais e econômicas influenciam diretamente a exposição ao calor. Aproximadamente 35% das escolas localizadas em ilhas de calor são predominantemente frequentadas por alunos negros (escolas em que mais de 60% dos estudantes se identificam como negros), enquanto apenas 8,6% dessas instituições têm maioria de alunos brancos. Esse dado reforça a necessidade de investimentos em infraestrutura escolar, levando em consideração a justiça climática e social.
O estudo apresentou recomendações para gestores públicos e profissionais da educação, com o objetivo de minimizar os impactos das ilhas de calor nas escolas. Entre as soluções propostas, estão:
Infraestrutura adaptada: Implementação de pavimentos frios, telhados reflexivos, materiais isolantes, ventilação cruzada, refrigeração adequada, iluminação natural e salas de aula abertas.
Aumento da cobertura vegetal: Ampliação do plantio de árvores e florestas urbanas para criar áreas de sombra, favorecendo o aprendizado e a convivência ao ar livre.
Adaptação da rotina escolar: Reorganização das atividades ao ar livre para os horários mais frescos do dia, incentivo ao uso de uniformes leves, distribuição de água potável e recomendação do uso de chapéus ou bonés.