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porto velho, sábado 23 de novembro de 2024
CRÔNICA DE FIM DE SEMANA
As Olimpíadas de Horrores no país do faz de conta
- Arimar Souza de Sá
De repente, sem atletas convocados, vivenciamos, neste inicio de 2019, uma grande olimpíada de horrores, como se o fim do mundo tivesse começado por aqui. Tragédias em série dão o exato tom da consternação Nacional.
Com elas, o choro, o ranger de dentes e a dor dilacerando famílias, como se os espíritos malignos, à espreita, tivessem sorrateiramente instalado o caos nesta parte do mundo, e deixassem a conta para cada um de nós pagarmos.
Nas Gerais, a corrida dos horrores começou por Mariana, depois Brumadinho, onde foram sepultadas pessoas inocentes e a vergonha nacional.
Nos cemitérios onde foram enterrados os padecentes dessas catástrofes, muitos ainda sem o símbolo sagrado da cruz, não estão apenas os corpos mutilados, senão um pouco de tudo: irresponsabilidade dos dirigentes da VALE, falta de fiscalização do poder público e, como sempre, o tal jeitinho brasileiro de emendar as coisas quebradas.
Em meio ao desespero, o flagrante abandono da cidadania num país molhado de covardia e fragilizado de tanto suportar as intempéries, onde não há mais sepulcros, senão valas imundas onde sempre serão escondidas as imundícies de quem tem poder de mando, na manjada tônica: do bajula-se pra cima, e massacra-se pra baixo.
Neste país de Cabral, seja nas extrações de minério, no interior das fazendas ou na exploração da borracha, o homem pobre não foi ainda resgatado dos nojentos porões instalados pela burguesia desde os tempos da escravidão. Se o foco fosse o homem, não o dinheiro, o PT poderia ter resgatado em parte este horror.
E no imbróglio, por completo, a lama e o homem se confundem nesta olimpíada de horror. A lama impregnada com o processo químico, o homem navegador que se vitimou no grande delta da tragédia.
Para os que morreram, o fim do mundo, o apocalipse dos Cristãos e o Armagedon, em forma de lama e dor, onde apenas os cemitérios e o tempo poderão aplacar a agonia das famílias. Pena é que, em breve, Mariana e Brumadinho serão esquecidos, porque infelizmente assim continua caminhando a humanidade brasileira...
Em passado recente, os meninos do Flamengo também foram convocados para essa nova modalidade de olimpíada e morreram como morrem os pobres, pela impaciência dos humanos, que os colocaram em containers, como cargas vivas destinadas ao abate. Dir-se-ia, meu Deus! O horror comendo o próprio horror!
E o tempo, escravizado pela destemperança, acumula saldo imensurável de horrores, e num piscar de olhos lá se vão as casas deslizando nos barrancos do Rio de Janeiro, da Bahia, de Belo Horizonte, porque assim continua e continuará caminhando a humanidade brasileira. Ora, Precisamos mudar com a urgência necessária o curso dessa história!
As guerras urbanas em Fortaleza, os tiroteios continuados nas favelas do Rio de Janeiro, com milícias e traficantes, compõem um cenário de horror, caricato e permanente no país do faz-de-conta e são contributos para o desregramento geral.
Nesta semana, em Suzano-SP, dois jovens mataram colegas, professores e depois se mataram. Para eles, suas presas deviam ser apenas uma espécie de “tripa fétida”, e o lugar era a cova rasa de um país que, por sobre a torpeza, gerou milhares de monstros, como os que habitam as praias da Tasmânia, da Austrália.
A parceria da Internet e dos demais veículos televisivos estimulam essa prática de horrores e, o pior, os soldados dessa aventura infernal são, queiramos ou não, os nossos próprios filhos, enganchados como vítimas nas telinhas dos celulares, dentro dos quartos, amestrados para o mal na observação científica e metódica da repetição, onde até os ratos se dobram às experiências, com o tempo.
O pior é que o aparato cibernético é global, não havendo como imobilizá-lo nesta guerra feia, contaminada de horrores. E, se nada for feito, haverá mais tristezas neste capítulo de horrores, posto que a família é sócia remida dessa dor.
Nessa olimpíada também estão competindo os horrores contra as mulheres. Feminicídios, estupros, assédio sexual e moral, bacanais noturnos, drogas e infinitas variáveis criminais a que submetem o ser feminino, integrando-as na competição dos sacrificados.
A pedofilia nas igrejas e a falta de punição, como se o Estado ainda se confundisse com a religião, é horror de quilos, uma espécie de tempero fervente neste caldeirão do inferno que se criou por aqui.
Assim, não devia mais caminhar a humanidade, mas caminha...
E você, que todo final de semana acompanha minhas crônicas, há de perguntar: Nessa olimpíada desses monstros quem será o vencedor?
É difícil vaticinar, posto que os árbitros das modalidades estarão vindo do inferno e, pelo visto, cumprindo as regras de satanás.
AMÉM