• Fundado em 11/10/2001

    porto velho, sexta-feira 18 de outubro de 2024

A República, a punição dos poderosos e a suruba dos poderes - Arimar Souza de Sá


Publicada em: 06/04/2019 16:34:32 - Atualizado

CRÔNICA DE FIM DE SEMANA

A REPÚBLICA, A PUNIÇÃO DOS PODEROSOS E A SURUBA DOS PODERES

- Arimar Souza de Sá

Diz a história que, ali por volta do século XVII, John Locke, filósofo inglês, conhecido como o "pai do liberalismo", observou que o poder absoluto do rei deveria ser dividido com os representantes do povo.

Montesquieu, no século seguinte, absorvendo as idéias de Locke, em seu livro Espírito das Leis, propôs a tripartição do poder que, enfim, foi consolidado após a Revolução Francesa.

Por conseguinte, as sociedades modernas e democráticas, como foi o caso dos Estados Unidos da América, absorveram as idéias do revolucionário Montesquieu e dividiram o poder em três fatias.

Nós cá, meio-lusitanos, após a instalação da Republica aderimos à forma republicana de governar, com a presença do Executivo, Legislativo e Judiciário. Essa convivência - há que se admitir - nunca foi tão saudável em solo brasileiro.

Desde a primeira Constituição, ficaram delineados os limites de ação desses poderes, para desaguarmos na chamada “Constituição Cidadã” de outubro de 1988 que, apesar do grande avanço, deixou no entanto uma porta aberta às “Emendas Constitucionais”, que a foram minando de normas constitucionais de eficácia limitada e contida, transformando-a numa colcha de retalhos, por sobre a vontade do constituinte de 1988, levando-se em conta, como pano de fundo, a saudável criação, no bojo da “Cidadã”, de um quarto poder, o Ministério Público.

Com o sopro democrático, eis que surge o Partido dos Trabalhadores-PT, recheado de "companheiros", de camaradas “honestos” de “mentes iluminadas”, que encaminharam suas ações ideológicas por sobre clara afronta as Forças Armadas, deixando-as a pão e água no período de 13 anos.

Nesse conflito ideológico, militar "versus" esquerda, eis que surge um novo poder, as redes sociais - e a direita renasceu com o “mito”, chamado Bolsonaro, tudo porque os militares no poder, dizem, foram éticos e os da esquerda, ditos “inovadores”, mergulharam na mais desastrosa corrupção que a humanidade já conheceu.

Vinda do mensalão no primeiro governo de Lula, desembocando com o petrolão no governo Dilma e seqüenciada por Temer nas sanhas da JBS e Angra três, a corrupção virou a "namoradona" do Brasil. Ao longo do tempo, de forma assustadora, se veio roubando em todos os tempos do verbo.

É evidente que o imbróglio foi feio, e a "mistura" atingiu os políticos municipais, estaduais e federais, empresários e os chamados representantes do povo e por ele eleitos - Lula, Dilma, Temer É toda a Corte - graças à força do quarto poder, os corajosos membros do ministério público.

Dir-se-ia a saudável revolução jurídico-social sem utilização de forças física, "apenas" a força da Lei, onde a coragem e as canetas de Joaquim Barbosa e Moro fizeram soar os tamborins da Republica, tinindo nos ouvidos e na mente delitiva dos influentes.

E estritamente dentro da lei, de presidente a senadores da república, deputados federais e grandes empresários, ouviam-se as chicotadas, pela ação da Policia Federal, nas costas dos poderosos, daqueles que, de plantão, se imaginavam donos do Brasil.

Na estratégia do esforço-tarefa para abrir o cofre da desordem, criou-se a delação premiada e aí Marcelo Odebrecht abriu o bico, Palocci não agüentou e também abriu o bicão, Youssef mostrou os caminhos da lavagem de dinheiro e não faltaram denúncias. Lula foi preso por causa do “tripeque”, Sarney, Renan, Color e Jucá, e outros foram denunciados. E, agora, prenderam Temer e, pior, seqüestraram os seus “haveres”, muitos milhões. Dir-se-ia, é o desmonte da maior corja de que se tem noticia no país do faz de conta.

É evidente que a corrupção ainda vai fazer mais estragos, há muita coisa a vir à tona. Afinal, são trinta anos de roubalheira descarada - pesada e organizada.

Não obstante, os estragos não fizeram mortos - tudo feito sob o rigor da lei. Agora, a idéia é levar os princípios da lava-jato para o resto do Brasil e, nisto, diríamos: cuidado prefeitos, deputados estaduais e vereadores! a bomba vai explodir!

Quem viver verá mais gente grande em cana, nos fétidos cárceres, misturados a estupradores, porque estupraram os cofres públicos; a homicidas, porque suas ações mataram os necessitados; a infanticidas porque assassinaram cruelmente a as perspectivas de vida das novas gerações e roubaram a merenda escolar; a latrocidas, porque pilharam os cofres públicos e mataram as esperanças de toda uma sociedade.

Nesta invernada de horrores cometidos pelos poderosos, há algo que preocupa mais - é a chamada “suruba” de poderes.

A tripartição do poder, concebida por Montesquieu, não é mais a verdade real. Hoje o poder pulverizou-se, e está dividido em vários segmentos: Executivo, Legislativo, Judiciário, o mundo midiático, a FIESP, o Ministério Público, e agora, no Governo Bolsonaro, as Forças Armadas e, de lambuja, o “by-pass”: o judiciário elaborando leis, os filhos do presidente jogando lenha no fogo, o vice-presidente apagando, o Supremo dividido em esquerda e direita, entre defensores do crime organizado e homens de bem.... E o Legislativo (Maia e seus asseclas), como um cão raivoso e faminto, ainda agarrado ao osso, na luta pela volta do toma-lá-da-cá.

O que se espera, enfim, é que se restabeleça a ordem. E que se peça, em romaria e prece, que não apareça um ditador tipo Maduro para consertar os estragos, porque senão, adeus democracia.

Daí pra frente, as portas estarão abertas para o inferno, sob o comando de satanás - e que Deus nos defenda a todos!...

Amém.


Fale conosco