Fundado em 11/10/2001
porto velho, domingo 24 de novembro de 2024
CRÔNICA DE FIM DE SEMANA
CORAÇÃO, O MOTOR DA VIDA
-Arimar Souza de Sá
Sempre ele. Se não fosse ele, a humanidade seria insulsa, insípida, fria, xacoco, pífia, reles, chulé. Falo do coração, o motor que bombeia o sangue e os sentimentos.
É do coração que nascem as grandes façanhas e as mais inspiradas poesias. Olha só a sacada de Drummond:
“Mundo, vasto mundo, meu coração não é maior que o mundo. Nele cabem as minhas dores. O vasto mundo, o vasto e triste coração.”
Na música Fumo, composta por Fagner e Florbela Espanca, o coração deve ter pulsado no gogó: “Longe de ti são ermos os caminhos. Longe de ti não há luar nem rosas. Longe de ti há noites silenciosas, há dias sem calor, beirais sem ninhos”...
E veja Cecília Meireles, em sua Canção Excêntrica:
“Meu coração, coisa de aço, começa a achar um cansaço, está à procura de espaço para o desenho da vida. Já por exausta e descrida, não me animo a um breve traço – saudoso do que não faço – do que faço arrependida.”
O singularíssimo Poeta das Américas, Pablo Neruda, sempre metafórico, despeja da alma no trânsito pelo coração: “para o meu coração basta o teu peito, para a tua liberdade as minhas asas. Da minha boca chegará até ao céu o que denuncia sobre a tua alma.”
E mira só o que o grande poeta rio-grandense, Mário Quintana, fala sobre o coração: “foram-nos dadas duas pernas para andar, as duas mãos para segurar, os dois ouvidos para ouvir, dois olhos para ver.… mas por que só um coração?! Porque o outro foi dado a alguém para nos encontrar.”
Rui Barbosa, esplendoroso, na sua Oração aos Moços, é simplesmente genial: “Para o coração, pois, não há passado nem futuro, nem ausência. Ausência, pretérito e porvir, tudo lhe é atualidade, tudo presença. Mas presença, animada e vivente, palpitante e criadora, neste regaço interior, onde os mortos renascem, pré-nascem os vindouros, e os distanciados se juntam, ao influxo de um talismã, pelo qual, nesse mágico microcosmo de maravilhas, encerrado na breve arca de um peito humano, cabe, em evocações de cada instante, a humanidade toda e a mesma eternidade.”
A lâmina, a sensibilidade do Águia de Haia, perpassa as fronteiras do conhecimento para transformar o coração em um mito, como as nascentes das águas, que também são vida, e que todos desconhecemos...
Na verdade, trouxe-os até aqui, desafiado por um amigo, para falar do coração e seus contornos do bem, mas também para abrir um parêntese e falar sobre o desamor – a ausência do coração – o monstro que ceifa vidas e abraços, que abate e enfeia a alma da humanidade.
Para ir mais longe, falando agora da falta do coração como fonte do desamor, a morte de Lampião, Maria Bonita e os cangaceiros, na Grota de Angicos, Sergipe, seria apenas o fim de uma guerra fratricida, se eles não tivessem sido decapitados após a morte e levados para uma cruel exposição numa vitrine em Salvador.
Che Guevara, em Sierra Maestra, ao ver um de seus soldados atirando em um inimigo caído, repreendeu-o e consta que, na ocasião, teria dito a famosa frase que encheu de orgulho várias gerações de seguidores: “Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás” - um exemplo vivo da voz do coração no guerriheiro.
Juscelino Kubistchek, ao anistiar os militares dos Levantes de Aragarças e Jacareacanga, em 1956, agiu com o coração. Louvado seja o diamantino.
A morte de Antônio Conselheiro, líder religioso, e o massacre de seus seguidores, no Arraial de Canudos, interior da Bahia, ultrapassa a ausência de coração, foi um dos maiores ultrajes da humanidade brasileira.
Para ser bem recente, a violência nos morros da cidade do Rio de Janeiro e nas periferias do País, representa um desamor continuado, portanto sem a vigilância do coração.
A facada de Adélio Bispo, durante ato de campanha em Juiz de Fora, não atingiu somente o corpo de Bolsonaro, mas doeu no coração do Brasil. Faltou coração para o criminoso.
Por falta de sorte, ou quem sabe por estar dormindo o seu coração, Bolsonaro, esta semana, trouxe à baila o episódio já adormecido pelo tempo com referência ao pai do presidente nacional da OAB, o desaparecido Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira.
As facções criminosas em luta em Altamira-PA, ao decapitarem 15 presos, e os restantes 47 matarem asfixiados, é a violência vomitando podridão na seara do desamor carcerário. Onde estava o coração?
Na verdade, estamos em tempos novos da barbárie, onde já se registra o canibalismo nas prisões da Venezuela e asfixia uma espécie de chuva de desamor espraiada pelo mundo bolivariano, contaminado pelo ódio, onde não se vê a porta de entrada – nem esperança de saída. Ali ... não se vê nem vestígios de coração.
Os desvios de recursos sordidamente gestados pela corrupção e retirados da saúde, da educação e dos serviços públicos – da mesa das famílias brasileiras, além da ladroagem desenfreada de boa parte classe política, especialmente da gestão petista, “safenaram” o coração do Brasil e ultrajaram a vida dos brasileiros – e haja coração sangrando...
Em momentos assim, vale a reflexão, e a saída é olhar para o céu, rogar pela presença de Cristo e pedir-Lhe, com seu CORAÇÃO, que interceda junto ao Divino Mestre, por juízo e misericórdia às ações dos HOMENS, repetindo a célebre frase dita na Cruz:
“PAI - PERDOA-LHES, PORQUE ELES NÃO SABEM O QUE FAZEM”.
Esse, sim, é que é o perdão do verdadeiro CORAÇÃO...
E se não fosse por ele, minha alma não se animaria a falar sobre o motor da vida: O CORAÇÃO.
AMÉM!