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CRÔNICA DE FIM DE SEMANA O GALO, O GRITO E A HARMONIA - Arimar Souza de Sá


Publicada em: 22/09/2019 21:47:10 - Atualizado

CRÔNICA DE FIM DE SEMANA
O GALO, O GRITO E A HARMONIA
Arimar Souza de Sá

Nesta madrugada acordei com o canto do galo. Era um cantar estridente que se ouvia de bem longe: Cocorococó! E, de repente, muito mais que de repente, outro galo e outros galos, pegaram carona e teceram a manhã.

Depois, fez-se um silêncio sepulcral e aos poucos surgiu, de mansinho, o amanhecer. Suave, é bom lembrar, é que à noite, sagrada noite, morrem-se os gritos e as aflições... é tempo de silêncio, de descanso, é mundo, é hora de reflexão para enfrentar as agruras do dia seguinte.

Aí estive a imaginar por que o galo canta só ao amanhecer? E pasmem! No reino dos animais, ninguém canta com a força do galo. A fantástica liturgia da natureza explica esse capricho de Deus.

E o galo canta ao amanhecer quiçá para dizer ao mundo “eu sou o macho”, acordem, porque neste galinheiro quem manda sou eu, mesmo que, de quando em quando, um pintinho assanhado ensaie um Cocorococó! – prontamente reprimido.

A natureza é assim, sábia, tudo em seu lugar: o rio que corre para o mar, as nuvens que se formam para chover, a terra que espera a chuva para florir, o vento que sopra para abrandar a ira do sol, a lua que prateia, as estrelas que brilham no céu, a morfologia dos homens no contemplar de amores, a vida, que vem de outra vida, e somos todos agentes, gestores, autores e intérpretes do grande espetáculo da terra, enquanto ela roda calmamente em torno si mesma e ao redor do sol – e assim caminha a humanidade!

A natureza é dividida. Quando vem a chuva, brotam as sementes na essência da criação, androceu, gineceu, tudo a dois, para a harmonia do universo. Qui-lo assim Deus – fazer a natureza com a junção de pares, e melhor, de múltiplos pares, um parindo aqui, outro ali, para formar o todo da vida.

Falo, assim, do grito e da harmonia, o grito para o alerta, a harmonia para construir bom senso e felicidades.

Na seara politica, e sem críticas partidárias ou formação de juízo, imagino que o governante deveria fazer como o galo, encontrar um horário no dia para cantar, como se dele emanasse o grito de alerta e, como o galo, no decorrer do dia, transformar-se em gestor do espetáculo.

Na simbologia da vida animal, observa-se que o galo, já no terreiro, dirige as galinhas sem emprestar-lhes as cores. Enfim, tudo é galinha, mas galo é só ele, e ponto!.

Do dirigente maior espera-se a direção da harmonia, e não fendas de litígio, como meta principal, até para que não apareçam outros galos para cantar em seu terreiro.

Compreender a harmonia, e não a discórdia, é entender a natureza das coisas, onde todos servem, serve o sol, a chuva, a terra, as árvores, os animais – e nessa seara, até Cecília Meireles disse: a natureza é um anelo de servir.

Como citou um famoso pensador francês, o estilo é o próprio homem. Não se pode confundir, porém, estilo com balbúrdia, a não ser que se queira dar um xeque-mate no “status quo” antes existente, que vem sendo dilacerado pelo presidente, para restabelecer a ordem no galinheiro.

O estilo PT de governar entrou em colapso quando inverteu a ordem da harmonia democrática e mergulhou na cleptocracia, ou seja, seus dirigentes mexeram nos ovos do galinheiro e ganharam, com isso, a repulsa do povo brasileiro, sendo colocados, com o chicote universal do voto, fora do poder.

É natural que os vermelhos rosnem, estejam dentro ou fora das jaulas, mas o importante é não alimentar as feras feridas. Eles perderam o filé, a picanha, o coxão mole e até o Danoninho, e hoje estão comendo as vísceras dos bois, mas não é bom facilitar: fera é sempre fera.

O estilo Bolsonaro é de revisitação aos podres do passado, conclamando sempre ao embate, como se estivesse na arena dos tempos romanos buscando eliminar o inimigo criado no tempo e espaço. Ledo engano do presidente.

Diante de inimigos com as garras de fora, ele deve mesmo é repensar o seu estilo, e governar. Os seus 28 anos na Câmara Federal, pertencendo ao baixo clero, devem ter sido de humilhação constante, máxime por se tratar de um homem de direita na convivência com um período conturbado, repleto de Leninistas, Stalinistas, Castristas e Chavistas e, principalmente, na convivência da turma do “cadê o meu”?

Mais que isso, no seu próprio terreiro, o capitão deve bater no peito e cantar de forma estridente, mas sobretudo, deve calar a boca de pinto atrevido que se atreva a cantar sem a ordem do papai.

Não é bom, contudo, pela desforra em marcha, ver o seu estilo forte afastar-se, do povo, que é composto, queiramos ou não, também de esquerdistas de várias siglas que estão à míngua, sem as comissões de cargo e as polpudas somas de dinheiro nos paraísos fiscais, e dos que o elegeram. Deve, sim, de forma veemente, afastar-se apenas dos predadores do Estado.

A mudança de estilo do capitão, ex deputado, é a solução que se impõe, entendendo que, no momento, ele está no topo, isto é, o comandante em chefe dos exércitos e dirigente maior de um país continental. Portanto, o equilíbrio deve sempre ser o norte de suas ações.

O caminho a seguir é inverter o pensamento, isto é, unir para não sucumbir. Pedir a paz aos brasileiros, evitar confrontos verbalísticos diários que só trincam o eixo desta nação que fala a língua portuguesa do Oiapoque ao Chuí.

Precisa, Sr. Presidente, diante de cruéis adversidades, se for o caso, de estudar Maquiavel, Golbery, Richelieu, Getúlio Vargas e quem sabe até Sarney, o que transitou entre a espada e a democracia, enfim, embebedar-se de sabedoria dos oráculos dos Reis nesse momento de travessia, para chegar a um porto seguro.

Vossa Excelência “é”, e não “está”, Presidente de todos os brasileiros. Desenvolva, pois, uma nova e harmoniosa técnica de convivência pacífica. Vista-se de Rei. Grite uma vez por dia e, como na natureza, deixe os rios correrem para o mar.

As sujeiras, ah! As sujeiras! Elas ficarão nos leitos e serão apenas assistentes do seu sucesso. Porque neste momento vossa excelência é o galo do terreiro da nação.

Por isso, cante de forma estridente ao amanhecer, teça também a manhã e ponha ordem na Casa, sem criar caso com quem quer que seja.

Amém...


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