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porto velho, domingo 24 de novembro de 2024
Com mais intensidade para uns, com menos para outros, vai se formando a ideia de que, de fato, o mundo será outro após o controle da pandemia do Coronavirus.
Só pra ficar num exemplo, nosso Poder Judiciário, onde estive até anteontem, jamais será o mesmo. O trabalho em Home Office, por exemplo, já mostra seus resultados de aumento da produtividade e brutal economia de manutenção dos prédios.
Audiências de custódia estão sendo feitas à distância, mais um paradigma quebrado sem qualquer prejuízo ao acusado ou à jurisdição. A digitalização dos feitos criminais deve ser feita nos próximos dias, e as centrais de processo eletrônico vão se espalhar pelo Estado.
O emprego doméstico também está a sofrer brutal transformação. Nossa secretárias do lar foram mandados para casa, e agora percebemos, como os americanos do norte já haviam percebido, que elas podem ser substituídas tranquilamente por uma diarista de duas vezes por semana.
O envolvimento da família nas lides domésticas é maior, a sinergia se dá com mais facilidade, e aos poucos vamos nos livrando daquilo que já não nos questionavam nos mais se era necessário ou não.
Frequentemente tenho me lembrado de meu pai, que passeava pelo supermercado enquanto eu fazia compras e dizia: quanta coisa que eu não preciso!
O momento é mesmo de profunda reflexão: o que de fato é essencial na nossa vida? É claro que tenho muita saudade dos abraços calorosos dedicados aos amigos nos encontros do dia a dia. Sinto falta de beijar as amigas, o que sempre fazia em sinal de respeito e contentamento.
Nesse momento pré-eleitoral, é complicado conhecer as pessoas e não estender a mão ao seu pré eleitor. Mas daqui para frente as coisas serão assim. Não me pergunte o que é esse "assim", mas quanto antes pudermos nos adaptar aos novos tempos, mais próspera e feliz será a nossa vida.
Tenho acompanhado a batalha incessante de centenas de empresários no Estado de Rondônia, lutando com toda a sua energia pela restauração dá "normalidade". Lamento dizer que não haverá normalidade, no sentido em que a vivemos em novembro e dezembro do ano passado.
Inteligência é a capacidade de se adaptar rapidamente a questões novas. Empreendedores de sucesso, não são empreendedores designados por Deus, não são os que tem vontade de empreender, mas são aqueles que se dedicam 110% do tempo disponível para reinventar-se, reinventar seu negócio, fazer diferente e, principalmente, adaptar-se.
Aqueles que se deixam levar pelo canto da sereia de autoridades que não sabem suportar pressão política, autoridades que não tem o discernimento necessário do que é realmente importante para seu povo, vão sucumbir em breve, inexoravelmente. Lamentavelmente, vão sucumbir junto com o ocaso dessas mesmas autoridades.
O momento pede adaptação. O momento pede fazer diferente. É claro que devemos continuar, mas continuar dentro das novas regras. Não cabe nesse momento discutir se quem está certo é o prefeito, ou seu secretário de saúde. O poder judiciário, como sempre fez, vai se socorrer de especialistas para tomar decisões, e vai se socorrer dos especialistas que são autoridades constituídas. Enquanto houver uma pandemia Mundial, queiramos ou não, a autoridade de saúde constituída é a Organização Mundial de Saúde. É essa autoridade que o Supremo Tribunal Federal vai levar em conta para decidir, ponto.
Causa espanto, portanto, o decreto municipal de ontem, quando anteontem nos deparamos com a decisão da doutora Inês Moreira, o norte verdadeiro a ser seguido. Ora, o que o Supremo decidiu ontem foi no sentido de restabelecer a autoridade de estados e municípios para tratarem, cada um a seu modo, das questões sanitárias do seu entorno. Isso não significa permissão para substituir a autoridade da ciência sanitária pela sua própria.
O que cabe a cada um, neste momento, é aproveitar a mão estendida do governo federal, dos Estados e dos municípios para adaptar-se. Dos 600 reais aos rios de crédito, passando pelas férias coletivas, adiamento de vencimentos, e também pelas novas formas de contratar, a palavra de ordem é adaptação.
Quanto mais cedo Magazine Luiza se adaptou, mais próspera se tornou. As locadoras não observaram a oportunidade, e o Netflix liquidou com o sonho de seus empreendedores. Assim é o mundo.
Sem dúvida, a estação é inverno. Quem fizer compra de peças para o verão ficará encalhado junto com seu estoque. E nada há que se possa fazer quanto a isso.
Fim.
•O autor é empreendedor do setor do agronegócio - Desembargador aposentado do TJRO