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porto velho, domingo 24 de novembro de 2024
DIA DE SÃO JOÃO – O SANTO DO AMOR
Autor: ARIMAR SOUZA DE SÁ
Hoje é o dia de São João Batista, o SANTO PRECURSOR, aquele que previu o advento do Messias, o Cristo, e o batizou no Rio Jordão, dando início ao Seu Ministério.
É o Santo milagreiro, para milhares de pessoas, desde o seu nascimento. No Brasil, tenho certeza, é o Santo do amor.
De Norte a Sul, São João Batista consagrou-se como o santo mais querido. Com ele, as fogueiras nas danças da roça e as cantigas de ciranda, que até hoje trazem alegria ao povo e unem famílias.
E os quitutes das mesas fartas, então? No terreiro todo enfeitado, com bandeirinhas multicores, as barracas decoradas dos arraiais davam o tom da festa, onde se servia pipoca, bolo de macaxeira, quentão, canjica, mugunzá, milho cozido, milho assado, o amendoim...
Nas quadrilhas, onde a ordem era a alegria, os “cavalheiros” faziam seus salamaleques às damas com flores nos cabelos,e entravam na “coreografia caipira” o noivo, a noiva, o padre, o sanfoneiro, o zabumbeiro– eita dia comprido! -- de noite bem grande que a gente não queria que amanhecesse.
Dia que pintou, com as cores fortes de Deus, os lindos dias de minha infância.
Dia de foguetes e de “pular fogueira”, de pingar vela na bacia d’água e de “cravar a faca no tronco da bananeira”, para ver se apareciam as iniciais do grande amor das nossas vidas.
Dia de provar um gole de pinga às escondidas, olhando de um lado para o outro, bem longe dos papais. Cruz Credo!
Dia em que começávamos a achar bonita a filha do vizinho, sem ele saber, claro, e de se encantar com meninas que vinham de longe, de outros bairros, dançar com a gente.
Dia de sentir as primeiras comichões do amor. Grande dia, creiam, que sempre se fez santo em mim.
A mim, e a centenas de pessoas, não tenho dúvidas, o santo iluminou nossas esperanças, tornando-nos mais leves, menos egoístas, mais distantes dos “tijolos, do asfalto e do concreto” e mais próximos do alimento do espírito e do bem querer.
As brincadeiras nos dias de João revelavam, nas telas, algo concreto – o exercício do amor em sua plenitude. Éramos felizes, invadidos pelo sentimento de sermos a criança que guardávamos com carinho no cofre da imaginação.
Que pena que tudo isso passou célere!
Este dia 24, antes festivo, hoje se revela triste, melancólico, pela reclusão imposta via Covid 19, que sequestrou de mim, de ti e de todos, a alegria, o nosso cogitar de alma limpa neste dia tão querido.
Mas estou certo de que, no próximo ano, dançaremos nas quadrilhas, devoraremos os quitutes, cantaremos e bailaremos igualmente felizes como outrora, ao som da sanfona do eterno Gonzagão:
“Tem tanta fogueira, tem tanto balão, tem tanta brincadeira, todo mundo no terreiro fazendo adivinhação; meu São João, eu não, meu São João eu não, eu não tenho alegria, só porque não vem, só porque não vem, quem tanto eu queria”...
E dançaremos, e brincaremos, e nos amaremos até o amanhecer, para reaver a alegria renascida desta dor terrível, que hoje nos persegue e faz do São João restar só saudades.
E poderemos gritar de novo, com a esperança renascida: Viva São João!
AMÉM!