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    porto velho, domingo 24 de novembro de 2024

O poeta das marchinhas rondonienses, foi compor no céu - Arimar Souza de Sá

História triste, tristíssima, dessas que fazem chorar, danificam a própria alma e que daria um enredo para Silvio desenrolar com sua “pena”...


assessoria

Publicada em: 06/11/2021 12:59:34 - Atualizado

O POETA DAS MARCHINHAS RONDONIENSES FOI COMPOR NO CÉU

Arimar Souza de Sá

No sábado, 30, foi estar com Deus, o folclorista e compositor, Zé-katraca, o nosso Sílvio Santos, um patrimônio da cultura rondoniense, que a impiedosa covid sequestrou de nosso convívio e levou para bem pertinho de Deus.

História triste, tristíssima, dessas que fazem chorar, danificam a própria alma e que daria um enredo para Silvio desenrolar com sua “pena”, como homenagem numa marchinha de carnaval.

Mas, falemos de sua grandeza e trajetória nos céus de Rondônia. Nascido nas barrancas do Rio Madeira, cedo ele casou-se com a cultura e depois com carnaval, e há dois anos atrás, no meio do desfile da Banda do Vai quem Quer, oficializou essa união com sua amada ANA. No mais, viveu com dignidade sua alegria neste espaço lindo da natureza.

Sílvio Santos, caboclo da beira do rio, fazia parte da transição entre o fantástico ambiente amazônico de virgens matas, de rios caudalosos, para a devastação de Rondônia na ganância das madeireiras, das hidrelétricas, tudo testemunhado por ele com a chispa de sua inteligência.

Zé katraca foi testemunha também do primeiro ouro de aluvião retirado do madeira, até a chegada das hidrelétricas que extirparam nossas belezas naturais para gerar energia para outros brasileiros.

Antes, a Porto Velho, “dengo do compositor Ernesto Melo” e de todos nós, sonolenta, irradiava emoções, onde matrinchans entrincheiradas na época das desovas, patrocinavam na Cachoeira de Santo Antônio, um célebre espetáculo sob a Regência de Deus.

Eles, os olhos do Folclorista-poeta, assistiram a tudo isso e ainda registraram o pôr do sol do belo madeira sobre o espelho do Rio em sua brilhante composição.

Na música autoral, Porto Velho, velho Porto, que ele cantava reverenciando a cidade, a sua grande paixão, ficará para sempre nos anais da história desta terra de destemidos pioneiros, o retrato da lâmina de sua inteligência, no manuseio das letras que tanto encantou multidões.

A música em si é um resgate da história neste piso pertinho das cordilheiras dos andes… Acho até que a inspiração vem lá…

Na última entrevista que fiz com ele e seu filho Silvinho, no Programa A Voz do Povo, há quinze dias aproximadamente, animado, “Silvão” cantou a música “Porto Velho meu Dengo”, do poeta Ernesto Melo, que ganhou, assim, foro de hino, na interpretação de um homem de cabelos brancos e de “tez” queimada de sol, filho dessa amplidão de verdes sem fim, e de rios barrentos.

Da Vince imortalizou-se com a sua Monaliza, e Sílvio ficou imortal na memória do povo rondoniense, com sua forma de compor, cantar e interpretar Porto Velho e suas marchinhas:

“Eita! Ceará de Iracema, sua história é um poema parte agora vou contar”. Ou…
“Chegou a banda, a banda, a banda. A banda do vai quem quer, nós não temos preconceitos, na brincadeira entra quem quiser”.

Na estrada de emoções, Sílvio era assim, um “ás”. Sua alma estava sempre a serviço do esplendor ecumênico da cultura, nos palcos das emoções da terra de Rondon.

A sua cidade, eram as ruas, sua matéria prima, onde desnudava os “desaventos” com as suas manifestações folclóricas de boi bumba e escolas carnavalescas. Dir-se-ia: um poeta com o bisturi nas mãos, operando as emoções do folclore regional.

Um ser assim, não morre nunca, se desliga, e vai para morada eterna compor para exclusivamente para Deus.

E, aqui embaixo, rogamos nós:

Senhor! conceda ao Sílvão um lugar de destaque ao seu lado neste reino celestial, e permita que sua inspiração permaneça com seu filho, o Silvinho, que ficou. De agora em diante, com a incumbência de dar prosseguimento à sua magnifica obra.

Fica na paz de Deus, poeta do folclore rondoniense.


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