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    porto velho, domingo 24 de novembro de 2024

Empresários se queixam de nova proposta de tributação do governo

Categoria avalia que redução do Imposto de Renda não será suficiente para compensar elevação em outras frentes


R7

Publicada em: 26/06/2021 11:44:53 - Atualizado


BRASIL - A proposta do governo para tributar lucros e dividendos e pôr fim ao Juro sobre Capital Próprio, uma forma de empresas remunerarem seus investidores pagando menos Imposto de Renda, desagradou a empresários e gerou críticas dentro da própria equipe econômica.

A avaliação é que a redução nas alíquotas do IRPJ (Imposto de Renda para Pessoas Jurídicas) não será suficiente para compensar o aumento em outras frentes e a combinação de alterações terá como efeito uma carga tributária maior para o setor produtivo. Integrantes do próprio governo avaliaram a proposta como "terrível" e apontaram reclamações de favorecimento ao setor financeiro em detrimento das empresas. Já é dada como certa uma investida dos empresários por mudanças no Congresso.

Escritórios de advocacia se debruçaram sobre os detalhes e também falam em aumento de carga, dos atuais 34% para 49%. Seriam 20% sobre lucros e dividendos, 20% de IRPJ (após a redução gradual da alíquota, hoje em 25%) e 9% de CSLL (Contribuição Social sobre Lucro Líquido), que se mantém igual.

Em uma ala do mercado financeiro, a crítica é que o governo ampliou a tributação sobre empresas e investimentos para bancar benesses prometidas pelo presidente Jair Bolsonaro aos trabalhadores no IRPF (Imposto de Renda da Pessoa Física).

O desenho final da proposta também já entrou na mira no Congresso Nacional. O ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (sem partido-RJ) afirma que a proposta aumenta muito a carga das empresas tributadas pelo lucro real. "Alíquota de 49% não dá", diz.

O governo propôs tributar em 20% os lucros e dividendos, com uma isenção até R$ 20 mil mensais para as micro e pequenas empresas - tratamento especial incluído a pedido de Bolsonaro. O Brasil não tributa lucros e dividendos desde 1996.

"A isenção de lucros e dividendos vinha gerando distorções em relação aos rendimentos do trabalho e incentivando a chamada 'pejotização'", explicou o secretário especial da Receita Federal, José Tostes. A "pejotização" é a prática de profissionais liberais com ganhos elevados pagarem menos imposto como pessoa jurídica. Em 2019, foram declarados R$ 479 bilhões em lucros e dividendos distribuídos à pessoa física, segundo dados da Receita. Nenhum centavo foi tributado.

O Ministério da Economia também quer o fim do JCP, usado pelas empresas de capital aberto (com ações em Bolsa) para distribuir lucros. O economista Isaías Coelho, assessor especial da pasta para a reforma tributária, disse que o JCP, criado em momento de maior dificuldade das empresas para acessar crédito, teve pouco resultado. "A prática mostrou que o JCP é um sacrifício tributário sem contrapartida na atividade econômica."

Para aliviar o bolso das empresas, o governo contrabalançou com uma redução gradual no IRPJ, hoje em 25%. A alíquota passaria a 22,5% em 2022 e a 20% a partir de 2023. Para os críticos, porém, a conta não fecha. O próprio governo informou que espera arrecadar R$ 18,5 bilhões em 2022, R$ 54,9 bilhões em 2023 e R$ 58,15 bilhões em 2024 com a tributação sobre lucros e dividendos, além de outros R$ 2,75 bilhões em 2022, R$ 7,18 bilhões em 2023 e R$ 7,6 bilhões em 2024 com o fim do JCP. Já a redução das alíquotas do IRPJ reduziria a arrecadação em R$ 18,52 bilhões em 2022, R$ 39,2 bilhões em 2023 e R$ 41,53 bilhões em 2024.

O presidente da Unafisco Nacional, Mauro Silva, afirma que as reclamações partem sobretudo dos que "se beneficiavam dessa tremenda injustiça". "Voltamos ao mundo normal, pois só o Brasil e a Estônia não tributavam."


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