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porto velho, quarta-feira 28 de maio de 2025
No recente quadro “Isso a Globo Não Mostra”, a emissora decidiu ironizar Virginia Fonseca, influenciadora digital que depôs na CPI das Bets e, pouco depois, foi anunciada como rainha de bateria da Grande Rio para o Carnaval 2026. A sátira incluiu frases como “Põe tigrinho na avenida pra rolar mais um din din”, numa clara alusão ao envolvimento de influenciadores com casas de apostas online.
Entretanto, a crítica perdeu força — e até credibilidade — diante de um ponto levantado por internautas: a própria Globo mantém contratos milionários com empresas do setor de apostas. A incoerência é gritante. Como uma emissora pode satirizar publicamente uma figura por seu envolvimento com bets, enquanto lucra com o mesmo tipo de negócio nos bastidores?
Esse episódio revela um dos grandes dilemas éticos da mídia tradicional: a seletividade moral. Quando a crítica é conveniente ou rende engajamento, ela é liberada. Mas quando o alvo é um dos seus próprios patrocinadores, o silêncio impera — ou pior, a crítica é desviada para figuras mais vulneráveis ao julgamento popular.
Mais do que uma simples piada de Carnaval, a paródia escancara a hipocrisia da indústria do entretenimento, que se posiciona como guardiã da moral pública enquanto negocia com os mesmos interesses que critica. O público, cada vez mais atento, cobra coerência. E com razão: não se pode desfilar com a fantasia da ética enquanto se dança ao som do dinheiro fácil das bets.