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    porto velho, sábado 15 de novembro de 2025

A Raposa Cuidando do Galinheiro por De Assis Teixeira

A Raposa Cuidando do Galinheiro


Por De Assis Teixeira

Publicada em: 14/11/2025 09:38:39 - Atualizado

Seria cômico, se não fosse trágico, ver a raposa cuidando do galinheiro. É exatamente essa a sensação que tenho ao ver o presidente do Congresso escolher Derrite, Secretário de Segurança e homem de confiança do governo de São Paulo para ser o relator de um projeto sensível, que atualiza a Lei de Organizações Criminosas. A escolha é tão absurda que beira uma piada de mau gosto. Comparar essa decisão a colocar a raposa no comando do galinheiro não é exagero.

Asnotícias,acompanhadas de fatos e provas amplamente divulgadas, deixam claro que existe uma proximidade perigosa entre o governo de São Paulo e estruturas do crime organizado. E o cenário não é diferente no Rio de Janeiro, sob a gestão de Cláudio Castro.

A realidade mostra que o crime se infiltrou nas estruturas do Estado de forma profunda.Lembro-me de que, anos atrás, Lula afirmou que o crime organizado possui braços em todas as esferas da federação: alta sociedade, Judiciário, câmaras legislativas e Senado. Disse que, para combater o problema, seria necessário quebrar a espinha dorsal dessas organizações. Concordo. E sei que qualquer presidente que encare esse enfrentamento de forma séria precisa agir com firmeza e sem tréguas.

A verdade é que os bilhões bloqueados, o combate à lavagem de dinheiro, as prisões de chefes do crime do “andar de cima” e o avanço sobre organizações com forte influência política são, de fato, a parte mais difícil dessa batalha. E é por isso que a escolha do relator desse projeto é tão decisiva , e tão preocupante.

O texto que está sendo debatido no Congresso atualiza a Lei 12.850/2013 e cria oficialmente a figura da “facção criminosa”, termo que, até então, não existia na legislação. No entanto, o projeto apresentado por Guilherme Derrite, secretário licenciado do governo Tarcísio, causa estranheza. Sua atuação política e seu histórico à frente da segurança de São Paulo fazem muita gente desconfiar de que há, por trás dessa relatoria, a intenção de limitar a atuação da Polícia Federal no combate ao crime organizado.

E esse é o ponto central da minha inquietação: limitar a atuação da PF significa, na prática, blindar os verdadeiros chefes do crime , aqueles que nunca aparecem, mas movimentam fortunas, influenciam eleições, compram proteção e vivem acima de qualquer suspeita. Enfraquecer a PF é um presente para quem realmente comanda as organizações criminosas no Brasil.

O mais curioso é que os próprios tarcisistas deixam pistas por onde passam. Seja por declarações, movimentações políticas ou tensionamento internos, a impressão que fica é a de que há mais sujeira por baixo desse tapete do que qualquer um de nós consegue imaginar. E, quando digo isso, não é exagero: basta acompanhar as investigações, os vazamentos de relatórios e o comportamento das autoridades estaduais para perceber que a narrativa oficial não fecha com a realidade.

Para enfrentar o crime organizado da elite, aquele que veste terno, frequenta gabinetes e usa empresas de fachada , seria necessário multiplicar o número de presídios no país.

O sistema prisional brasileiro não está preparado para receber os criminosos de colarinho branco em massa, e talvez seja esse um dos motivos pelos quais tantos tentam sabotar investigações e operações.

Enfim, reafirmo: a escolha do relator desse projeto não é só inadequada. É perigosa. E diz muito sobre quem realmente está disposto a combater o crime organizado , e quem está tentando apenas parecer que combate.

E tenho dito


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