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Inflação oficial fecha 2020 em 4,52%; maior índice em quatro anos

O Brasil é um país com problemas estruturais e, com qualquer estímulo que você faz à demanda, a inflação volta.


Assessoria

Publicada em: 12/01/2021 10:35:44 - Atualizado

Pressionado, principalmente, pelos preços dos alimentos, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que calcula a inflação oficial do Brasil, encerrou 2020 em 4,52%. Além de estar acima do centro da meta para o ano, que era de 4%, o índice é o maior desde 2016, quando a inflação do Brasil foi de 6,3%.

Os números foram divulgados nesta terça-feira (12) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ainda que acima do centro da meta, a inflação ficou dentro do limite pelo quarto ano seguido. Com margem de 1,5 ponto percentual, a margem da meta do ano passado, estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), variava entre 2,75% e 5,75%.

Na avaliação da consultora econômica Zeina Latif, a pressão inflacionária observada em 2020 traz uma lição sobre a atenção dos agentes econômicos com o IPCA. “Aquela visão de que inflação no Brasil morreu, de que não existe e que pode colocar a Selic em 0…. mostrou que não é assim. O Brasil é um país com problemas estruturais e, com qualquer estímulo que você faz à demanda, a inflação volta. Então, a primeira lição é que inflação não elevada não quer dizer que a gente possa fechar os olhos”, observou.

Latif destaca que a ida ao supermercado com cada vez um pacote de compras menor é um fator que perturba a classe média do país. “É um fator de inquietação. Para as classes populares nem se diga. Quando a gente fala em inflação, geralmente os alimentos têm um peso elevado. Então, tem uma questão social, que em momentos com desemprego elevado, uma inflação elevada machuca muito uma parcela importante da nossa sociedade”, explicou.

Somente em dezembro, o IPCA avançou 1,35%, após ter registrado altas de 0,86% e 0,89%, respectivamente, em outubro e novembro. O resultado também é o maior para meses de dezembro desde 2002, quando o índice cresceu 2,10%.

Embora não veja riscos de uma hiperinflação, Latif acredita que a inflação precisa ser entendida como um alerta de desequilíbrio econômico. “Quando a inflação sobe, em função do próprio desconforto social, isso é um alerta para a gente avaliar se estamos fazendo algo errado na política econômica. É como a febre do paciente que sobe e o médico fala que não é nada. A inflação tem esse papel. Nós, como sociedade, não aceitamos mais inflação alta. Então, é muito importante os governantes estarem atentos a isso”.

Nesse sentido, a economista reforça que uma má gestão dos recursos públicos traz a inflação de volta. “É também um lembrete de que não podemos descuidar da política fiscal. O descuidado fiscal significa poder gerar alguma rigidez inflacionária no país, mesmo que não seja uma situação de descontrole, mas ainda com efeitos preocupantes. Temos um problema fiscal que alimenta a inflação”, completou.

Na mesma linha, o coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), André Braz, também defende que a política fiscal sirva de auxílio para a monetária, diminuindo a incerteza e a volatilidade do câmbio, ambos fatores que dificultam o controle de preços.

“O desequilíbrio fiscal cria uma sobrecarga na política monetária porque se a gente não encaminha bem soluções para diminuir o déficit público, a gente aumenta a incerteza na nossa economia, o que também promove a volatilidade no câmbio, que cria a inflação. Essa desvalorização cambial acumulada no ano passado, em média em 25%, trouxe desequilíbrio para a inflação porque ora favoreceu a balança comercial, desabastecendo o mercado brasileiro e fazendo preço de produtos subirem aqui, e ora encareceu os custos de produção de vários produtos contaminados pelo câmbio”, esclareceu ao lembrar que a questão da vacinação contra Covid-19 também é uma incerteza a ser melhor encaminhada para o controle da inflação em 2021.


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