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porto velho, sexta-feira 4 de julho de 2025
MUNDO - Quando os Estados Unidos foram atacados pelos terroristas da Al-Qaeda em 11 de setembro de 2001, o mercado das ações despencou e quase todos os setores da economia foram prejudicados. Após 20 anos, lembrar daquela manhã catastrófica ainda é algo devastador para quem vivenciou a tragédia.
Foram quase 3 mil mortos e milhares de feridos nos arredores do World Trade Center. Muitos estabelecimentos da região foram afetados e muita gente evitou frequentar a área por anos devido ao medo de um novo ataque.
Antes do atentado
O complexo do WTC foi inaugurado em abril de 1973 e era formado pelas torres gêmeas, consideradas as mais altas do mundo na época, e mais outros cinco prédios, que ficavam na parte baixa da cidade e faziam parte do distrito financeiro de Manhattan.
Desde da sua abertura, o complexo teve vários incidentes, prejudicando os negócios locais, incluindo um incêndio, em 1975, e um caminhão bomba, em 1993, que matou seis pessoas e deixou mais de mil feridos. Cinco anos depois, em 1998, bandidos assaltaram um banco que ficava em uma das torres e levaram quase dois milhões de dólares.
Especialistas estimam que 14 mil empresas tenham sido afetadas por causa dos ataques do 11 de setembro e dizem que, embora tenha sido um caminho longo para os empresários locais se recuperarem, com a reabertura do One World Trade Center, em 2014, a situação começou a se transformar e melhorar aos poucos.
Michael Davis, dono da Elan Flowers, localizada a algumas quadras do local da tragédia, diz que a floricultura vivia cheia e era muito requisitada pelos moradores da área. Ele relata que por causa do fechamento temporário da loja, ele perdeu 60% dos clientes.
“Foi devastador ter de ficar sem trabalhar e sem renda por cerca de cinco meses. Usei quase todo o dinheiro da minha poupança. Sinceramente, não acho que as pessoas tinham noção do tempo que levaria para conseguir ter as coisas funcionando do mesmo jeito novamente,” diz Michael.
Já a porto-riquenha Socorro Tejada, dona de um salão de beleza que também fica nos arredores do WTC, conta que a forma como foi criada pelos pais fez com que ela mantivesse o negócio aberto durante esse período difícil.
A cabeleireira só descobriu do que se tratava quando ligou a TV e viu que um boeing 767 havia atingido uma das torres. Ela lembra que viu ao vivo o exato momento em que a outra torre foi atingida, e foi quando os clientes começaram a gritar dizendo que seria um atentado.
“Os clientes se desesperaram para sair o mais rápido possível da ilha de Manhattan, mas eu confesso que apesar do medo que senti, eu queria continuar trabalhando. Tive uma criação rígida, onde as pessoas não param de trabalhar se ainda existe possibilidade e força no corpo. Na minha casa tínhamos que botar comida na mesa, e ninguém nunca teve tempo de sentir medo ou qualquer outro sentimento que fizesse a gente parar de trabalhar", diz Socorro.
Ela afirma que a situação na região não foi nada fácil e que levou anos para o negócio voltar a ter o mesmo fluxo de clientes. “As pessoas tinham medo de vir a Manhattan. Principalmente porque o meu salão era na mesma região do World Trade Center”.
A cabeleireira lembra com pesar desse dia que ficou marcado na história. “Eu estava trabalhando quando ouvi um estrondo muito alto. Foi um barulho ensurdecedor. Começamos a ver as pessoas passando pela porta correndo. Lembro de uma mulher, que deveria ter uns 50 anos, ela entrou no salão atônita, não falava, apenas chorava. O corpo dela estava coberto de cinzas e percebi que ela tinha feito xixi nas calças”.
Enquanto Socorro diz não carregar nenhum trauma devido à tragédia, a nora, Ivette Barias, sente calafrios só de lembrar do que vivenciou. Ela relata que cerca de 200 colegas de trabalho perderam a vida nos atentados e que ela ficou sem conseguir dormir direito por mais de duas semanas.
“Eu tive que tomar remédio para dormir durante muito tempo e, só consegui voltar à região onde tudo aconteceu em 2018, quando decidi visitar o memorial. Confesso que foi a minha primeira e última vez lá desde os atentados”, diz Ivette.
ARQUIVO PESSOAL
Ela trabalhava próximo do salão da sogra, exatamente na torre sul do WTC, a segunda a ser atingida. “Quando a primeira torre foi atingida eu estava no 67 andar e o meu instinto foi correr para as escadas, apesar de terem anunciado para voltar ao trabalho porque supostamente estaríamos em segurança, eu continuei a descer porque o meu chefe ignorou o aviso do prédio e mandou todo mundo ir embora”.
Durante a descida, aproximadamente no 23º andar, a torre que ela estava foi atingida, as luzes começaram a piscar e o prédio balançou de um lado para o outro. “Quando cheguei no térreo, vi as pessoas correndo e ouvi muitos gritos. Nunca vou esquecer o barulho dos corpos quando atigiam o chão. Tenho pesadelos até hoje com essa cena”.
Além de todo o trauma e lembranças ruins que esse dia deixou na memória, Ivette hoje tem pânico em viajar de avião. Tenta de todas as maneiras não ter que entrar em um, mas quando precisa ela diz que precisa fazer uso de calmantes.
Perto do local, também estava o filho de Socorro, o marido de Ivette, Israel Baris. Ele é professor e trabalhava em uma escola a cinco quarteirões do local. Por sorte, quando a mulher desceu da torre, conseguiu achar um orelhão e ligou avisá-lo sobre o que estava acontecendo.
Os dois se encontraram pelas redondezas e se abraçaram por alguns segundos. “Quando a gente parou de se abraçar e olhou um para o outro, ouvimos um estrondo muito alto e eu achei que fosse o prédio caindo para o lado onde nós estávamos. Começamos a correr sem parar, corríamos tão rápido que a minha esposa disse não sentir o chão debaixo dos seus pés”, descreve Israel.
O professor fala que parecia cena de filme, as pessoas correndo com a fumaça vindo atrás, e que havia pedaços dos aviões por todo lado. “Ninguém queria ficar em Manhattan, todo mundo estava tentando escapar”.
Ele descreve que felizmente só conseguiu fugir da ilha porque encontrou a esposa rapidamente e ainda deu tempo de se certificar que a mãe estava segura. “As pontes fecharam logo depois que eu atravessei com o meu carro. Ninguém entrava e nem saía de nenhum distrito de Nova York. As principais rodovias ficaram interditadas, mas eu precisava chegar logo em casa porque só pensava na minha filha de três anos que estava com a minha sogra”, desabafa.
O casal ainda se emociona quando relembra o terror vivido por eles e de como ficou os arredores na região. "Foi aterrorizante tudo o que aconteceu. Para onde a gente olhava, o cenário catastrófico. As fachadas das lojas quebradas, pessoas deixando os prédios, comerciantes correndo para fechar as portas, não sabíamos o que estava acontecendo, mas parecia o começo de uma guerra porque tinha pedaços de avião por todo lado e, muitos deles caíram destruindo os carros e as janelas dos estabelecimentos”, descreve Israel.
E como aconteceu com muitos negócios da região, Ivette finaliza dizendo que o salão de beleza da sogra demorou anos para ter o mesmo número de clientes de volta. “Acho que os donos de negócios ao redor do World Trade Center só começaram a voltar com força total depois de uma década, quando foi inaugurado o museu e memorial do 11 de Setembro.”
Esse ano, os familiares das vítimas irão se reunir na praça do memorial para ler em voz alta o nome das pessoas que morreram nos ataques de 11 de setembro de 2001 e também as do atentado com o carro bomba de 1993. A cerimônia será exclusiva para membros das famílias das vítimas, e apesar de não estarem lá fisicamente e de já terem se passado 20 anos, Socorro, Ivette e Israel, nunca conseguiram esquecer um dos maiores horrores que o mundo já testemunhou.