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porto velho, terça-feira 23 de setembro de 2025
Um grupo de cientistas acaba de anunciar os detalhes da maior bactéria já encontrada na natureza. Ela é tão grande que pode ser vista a olho nu, sem a necessidade de um microscópio.
Com o sugestivo nome de Thiomargarita magnifica, ela se assemelha a fiapos brancos e habita os mangues de Guadalupe, arquipélago localizado no sul do Caribe.
Para ter ideia do tamanho, essa bactéria tem mais de 9 mil micrômetros de comprimento (um micrômetro é a unidade de medida que equivale à milésima parte de um milímetro), ou supera 0,9 centímetro.
"A princípio, isso nos faz questionar até o uso de 'micro' para descrever essas bactérias, já que a microbiologia lida com coisas que a gente não vê a olho nu", comenta a bióloga Sylvia Maria Affonso Silva, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
As maiores bactérias conhecidas chegam, no máximo, a 750 micrômetros. Na média, esses seres têm cerca de 2 micrômetros.
Isso significa, portanto, que a T. magnifica tem um tamanho doze vezes superior em comparação com as maiores bactérias — e chega a ser 4,5 mil vezes mais comprida do que um micróbio "típico".
Seria possível, portanto, enfileirar 625 mil unidades de Escherichia coli, um dos micro-organismos causadores de infecções intestinais, na superfície de uma única T. magnifica.
Esses achados "desafiam o conhecimento tradicional sobre as células bacterianas", escrevem os autores.
A descoberta, que contou com a participação de pesquisadores de diversas instituições, como o Laboratório Nacional Lawrence Berkeley, nos Estados Unidos, e a Universidade das Antilhas, em Guadalupe, foi publicada na mais recente edição do periódico especializado Science.
Vale lembrar aqui as bactérias fazem parte da natureza e nem todas fazem mal à nossa saúde — a T. magnifica mesmo não parece representar nenhuma ameaça e parece estar em equilíbrio no ambiente em que ela é encontrada.
A T. magnifica foi encontrada perto de folhas que caem de árvores localizadas em mangues das ilhas de Guadalupe.
Os cientistas usaram várias técnicas e equipamentos para desvendar a estrutura e o metabolismo da nova espécie.
Pelo que foi observado, ela integra um grupo conhecido como bactérias sulfurosas.
Em linhas gerais, isso significa que esses seres utilizam o enxofre, um elemento químico presente em abundância naquelas águas, para viver e se multiplicar.
"As bactérias são seres unicelulares, compostos de uma única célula, que possuem o material genético disperso em seu interior", explica Silva.
Em organismos mais complexos, o DNA fica guardado dentro do núcleo da célula.
Já a T. magnifica parece ficar "no meio do caminho" entre esses dois cenários. Os mais de 11 mil genes dela — número três vezes superior ao código genético de outras bactérias — são encapsulados dentro de estruturas membranosas.