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porto velho, quarta-feira 27 de novembro de 2024
BRASIL - O laudo cadavérico do empresário Leandro Troesch, dono da Pousada Paraíso Perdido, na cidade de Jaguaripe, baixo sul da Bahia, aponta que as lesões encontradas no corpo dele "são compatíveis com suicídio". Ele foi encontrado morto em um dos quartos do estabelecimento no dia 25 de fevereiro.
Além disso, o documento também afirma que uma simulação poderia deixar as mesmas lesões. Assim, o Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA) pediu novas informações e a reconstituição do caso, à Polícia Civil, já que os documentos encaminhados pelo delegado Rafael Magalhães, que preside as investigações, são inconclusivos.
A hipótese do suicídio já havia sido levantada no começo das investigações. No entanto, o delegado descartou a possibilidade no dia 19 de abril. Segundo ele, o laudo pericial aponta que Leandro foi assassinado.
O inquérito que apura a morte de Leandro já havia sido concluído e remetido à Justiça. Com o novo pedido do MP-BA, o prazo para que as novas provas sejam apresentadas à Justiça é o mês de maio. Para o delegado, o laudo cadavérico está equivocado.
“Inclusive, eu acho que o médico se precipitou, porque ele não pode opinar, uma vez que o exame de pólvora combusta deu negativo na mão da vítima, do cadáver. Deu negativo também na mão dela [Shirley]. Mas, como eu sou o delegado presidente do inquérito, tenho depoimentos de que ela lavou a mão, tomou banho e se limpou, para fazer o laudo de prova combusta”.
O exame de prova combusta, também conhecido como residuográfico, analisa a presença de metais como chumbo, nas roupas e mãos de uma pessoa, para identificar se ela disparou uma arma de fogo.
“Se dentro desse prazo eu conseguir concluir todos os pedidos e todas as requisições que o Ministério Público solicitou à juíza e que a juíza determinou, será enviado de volta para ele, com o indiciamento de Shirley, como homicídio. Agora, quem vai denunciar ou não é o promotor. E quem vai acatar, ou não, a ação final é a juíza da Vara Penal de Nazaré", disse Rafael Magalhães.
Laudo cadavérico x laudo pericial
O laudo cadavérico é feito com base no corpo da vítima, já o pericial é a interpretação das lesões, junto com as provas coletadas pela polícia. Para produzi-lo, usa-se o laudo cadavérico, junto com outras provas que são apreendidas durante as investigações, como explica o perito Ricardo Matos.
“O laudo cadavérico se baseia nos vestígios que estão no corpo da vítima, como as lesões, entre outras características. Então é possível, por exemplo, para o médico legista, em regra, determinar o local da morte, se aquele corpo foi transportado, se foi executado no local do encontro. Agora, o perito criminal, como correlaciona vestígios, tanto do ambiente, quanto do próprio corpo, ele pode ir além".
"Se a gente for fazer uma comparação, o laudo cadavérico é mais limitado em suas conclusões, que o laudo de perícia criminal”.
Apesar disso, Ricardo afirma que não é comum haver a diferença nos resultados dos dois laudos, porque um geralmente corrobora o outro.
“Não é normal haver discrepâncias, todavia, o que é importante é a interpretação, é a correlação. Porque, muitas vezes, haver determinados vestígios que podem indicar determinadas possibilidades, seja do homicídio, seja do suicídio, não é definitivo. Não se bate o martelo única e simplesmente por aquele vestígio que foi visualizado, seja pelo perito criminal, ou pelo médico legista”.
Esposa e amiga acusadas pela morte
A viúva de Leandro, Shirley Silva Figueredo, e a amiga dela, Maqueila Santos Bastos, foram indiciadas por envolvimento na morte do empresário. Apesar disso, a polícia não detalhou a participação delas no caso. Maqueila chegou a ser presa em março e ficou detida por 30 dias.
Ela foi solta no dia 22 de abril, porque a Justiça não autorizou a manutenção da prisão. O advogado dela diz que o laudo pericial confirma a tese da defesa.
“Na realidade, o laudo colabora com a nossa tese. Ele vem com uma forma defensiva. No laudo, vem dizendo que as lesões que foram encontradas no corpo do senhor Leandro são marcas de suicídio”, concluiu João Alves.
Shirley segue foragida, porque ainda há um mandado de prisão contra ela. A viúva ainda não se apresentou à polícia. depois de ter fugido da pousada na etapa das investigações da morte do marido. A defesa dela também considera que o laudo comprova que ela não teve envolvimento no caso.
“Tivemos acesso do laudo pela imprensa. A defesa continua na mesma tese desde o início. E sabemos que o que houve lá, acreditamos na versão da nossa constituinte, a Shirley. Tanto eu, quando o doutor Sampaio, de que o que ocorreu foi o suicídio. Na narrativa de Shirley, o tempo todo ela fala e afirma que o que houve ali foi o suicídio”, disse o advogado Cleber Nunes.
Entenda o caso
Leandro Troesch, dono da pousada Paraíso Perdido, foi encontrado morto dentro de um dos quartos do estabelecimento, com marca de tiro na cabeça, em 25 de fevereiro deste ano. O empresário já havia sido preso e condenado a 14 anos de prisão por crimes de sequestro e extorsão cometido em 2001.
Em 2022, ele estava em prisão domiciliar na pousada. A viúva, Shirley da Silva Figueiredo, disse à polícia que estava no banheiro e somente ouviu o barulho do tiro. Dias depois da morte de Leandro, o braço direito do empresário, o Marcel da Silva Vieira, conhecido como Billy, foi morto a tiros e facadas.
Ele era uma testemunha fundamental na investigação. Marcel, que tinha envolvimento com drogas, foi morto no dia 6 de março, às vésperas de ser ouvido pela polícia, no distrito de Camassandi, que também fica em Jaguaripe.
O homem, que era funcionário de confiança de Leandro, prestou depoimento logo após a morte do empresário, mas seria ouvido, mais uma vez, um dia depois de ser assassinado. O delegado disse também que o cofre da pousada foi esvaziado e que o local do crime foi alterado.