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    porto velho, quarta-feira 27 de novembro de 2024

Justiça autoriza menina de 11 anos, que engravidou após estupro, a sair de abrigo

Ela estava na unidade havia mais de um mês para ser impedida de realizar o aborto legal e para se manter afastada do agressor


R7

Publicada em: 21/06/2022 14:00:07 - Atualizado


BRASIL - O TJ-SC (Tribunal de Justiça de Santa Catarina) confirmou que a menina de 11 anos que está grávida de 29 semanas após ser vítima de estupro recebeu autorização para deixar o abrigo onde estava e ir para casa.

A garota estava longe da residência para afastá-la do agressor, mas também para impedir que a mãe da criança buscasse o aborto legal em casos de estupro. Isso porque a juíza Joana Ribeiro Zimmer tentou induzir a menina a não realizar o aborto.

A criança era mantida em um abrigo havia mais de um mês, depois de ter enfrentado a resistência da juíza e da promotora Mirela Dutra Alberton, que argumentaram contra o procedimento e a favor da vida do feto durante a audiência judicial. As informações foram reveladas pelo site The Intercept Brasil na segunda-feira (20).

Ainda de acordo com a reportagem, a menina foi atendida por uma equipe médica no início de maio. O hospital teria negado o aborto, já que ela estava na 22ª semana de gravidez e as regras da instituição permitiam o procedimento até a 20ª semana. O caso, então, foi parar na Justiça.

    O Código Penal, no entanto, permite a interrupção da gravidez em caso de estupro sem impor limitação de semanas. Além disso, laudos médicos do caso revelam que a criança corre maior risco de vida a cada semana de gravidez.

    Dias depois, a promotora do Ministério Público de Santa Catarina, Mirela Dutra Alberton, ajuizou uma ação cautelar em que pedia o acolhimento institucional da menina em um abrigo. Em 9 de maio, a criança participou de uma audiência judicial. Na reunião, o grupo se comprometeu a evitar que a menina fosse vítima de abuso, mas a juíza e a promotora tentaram induzi-la a não realizar o aborto.

    “Você suportaria ficar mais um pouquinho?”, questiona a juíza. A promotora Alberton completa: “A gente mantinha mais uma ou duas semanas apenas a tua barriga, porque, para ele ter a chance de sobreviver mais, ele precisa tomar os medicamentos para o pulmão se formar completamente”.

    Ela continua e sugere que o aborto faria a criança de 11 anos ver o bebê agonizar até a morte: “Em vez de deixar ele morrer – porque já é um bebê, já é uma criança –, em vez de a gente tirar da tua barriga e ver ele morrendo e agonizando, é isso que acontece, porque o Brasil não concorda com a eutanásia, o Brasil não tem, não vai dar medicamento para ele… Ele vai nascer chorando, não [inaudível] medicamento para ele morrer”.

    Na audiência, a juíza defende a tese de que o aborto não pode ser realizado após o prazo de 22 semanas de gravidez já ter passado. O procedimento depois desse período, defende Zimmer, "seria uma autorização para o homicídio". A juíza insiste na questão e tem o seguinte diálogo com a vítima de estupro:

    "Qual é a expectativa que você tem em relação ao bebê? Você quer ver ele nascer?", pergunta a juíza.

    "Não", responde a criança.

    "Você gosta de estudar?"

    "Gosto."

    "Você acha que a tua condição atrapalha o teu estudo?"

    "Sim."

    "Você tem algum pedido especial de aniversário? Se tiver, é só pedir. Quer escolher o nome do bebê?"

    "Não."

    "Você acha que o pai do bebê concordaria pra entrega para adoção?", pergunta, referindo-se ao estuprador.

    "Não sei", diz a menina.

      Outro lado

      Em nota, a juíza Joana Ribeiro Zimmer informou que não se manifestará "sobre trechos da referida audiência, que foram vazados de forma criminosa". Ela ainda afirma que o caso tramita em segredo de Justiça e que busca garantir a devida proteção integral à criança.

      O posicionamento também critica a divulgação da audiência pela imprensa. "Com o julgamento do STF pelo não reconhecimento do direito ao esquecimento, qualquer manifestação sobre o assunto à imprensa poderá impactar ainda mais e para sempre a vida de uma criança. Por essa razão, seria de extrema importância que esse caso continue a ser tratado pela instância adequada, ou seja, pela Justiça."

      Já a promotora Mirela Dutra Alberton respondeu que o hospital havia se recusado a realizar a interrupção da gravidez e que os médicos agiriam se houvesse uma situação concreta de risco à vida da criança. “Por conta dessa recusa da rede hospitalar, inclusive com documentos igualmente médicos encaminhados à 2ª Promotoria de Justiça de Tijucas, no momento da propositura da ação era nítido que a infante não estaria sujeita a qualquer situação de risco concreto, o que, inclusive, tem se confirmado em seu acompanhamento”, afirmou em nota.

      Investigação

      Depois da publicação da reportagem, o Tribunal de Justiça de Santa Catarina ressaltou que o processo está em segredo porque envolve menor de idade, "circunstância que impede sua discussão em público", e que a Corregedoria-Geral da Justiça do estado já instaurou pedido de providências na esfera administrativa para investigar os fatos.

      Já a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de Santa Catarina manifestou preocupação com o caso. "Dentre as situações em que a legislação brasileira autoriza a interrupção da gravidez estão a violência sexual e o risco de vida para a gestante. Diante disso, estamos buscando junto aos órgãos e instituições com atuação no caso todas as informações necessárias para, de forma incondicional, resguardarmos e garantirmos proteção integral à vida da menina gestante", afirmou a instituição.


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