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Em mundo fragmentado,Presidente Macron desponta como líder confiável


R7

Publicada em: 23/12/2017 10:08:10 - Atualizado

MUNDO- Em quase oito meses como presidente da França, o social liberal Emmanuel Macron encontrou espaço para afiar suas habilidades diplomáticas e liderar discussões importantes como poucos de seus antecessores — especialmente no que diz respeito à União Europeia.

“Com a Theresa May, do Reino Unido, envolvida nas negociações do Brexit, e a Angela Merkel, da Alemanha, fragilizada sem ainda conseguir formar um governo de coalizão, o Macron acaba despontando como uma figura confiável”, aponta Demetrius Pereira, pós-doutor em Política Europeia e professor de Relações Internacionais nas Faculdades Integradas Rio Branco.

Dentro do bloco, o presidente francês pressionou a Alemanha a se comprometer a investir mais na zona do euro, manifestou apoio ao primeiro-ministro espanhol em relação à crise na Catalunha e propôs a criação de uma agência europeia de refúgio — tudo com muita elegância e sem ser evasivo, conforme lembra Yann Duzert, professor de Negociação e Resolução de Conflitos da FGV (Fundação Getúlio Vargas).

O Macron usa técnicas negociação que incorporam e alinham diferentes interesses. Ele sabe reconhecer a diversidade e as minorias, com gestão da informação e das percepções. Ele negocia de forma moderna, utilizando muito mais de comunicação, explicação e pedagogia do que imposições coercitivas. É menos jogo de poder e mais jogo cognitivo.

Fora das fronteiras do velho continente, o presidente da França ainda atuou para mediar uma crise política no Líbano, mostrou-se aberto a negociar com o Catar — que é alvo de sanções pela Arábia Saudita — e iniciou uma campanha global para efetivamente arrecadar fundos para o combate à mudança climática. “Isso sem contar que ele foi um dos poucos dirigentes que demonstrou amizade em relação ao Donald Trump, presidente dos Estados Unidos. Eles se deram muito bem e o Macron foi capaz de lidar com as diferenças, ou seja: ele constrói relacionamentos com pessoas que têm temperamentos difíceis na comunidade internacional”, completa Duzert.

Em casa

Os especialistas ouvidos pelo R7 ressaltam que, na França, Macron também foi capaz de ganhar centralidade, facilitando a comunicação entre direita e esquerda no Parlamento. Mesmo sob uma intensa onda de protestos, ele conseguiu fazer avançar a reforma trabalhista que havia prometido em campanha — que prevê medidas que estabelecem um teto para indenizações e dão maior flexibilidade às contratações.

Não à toa, o líder iniciou o mês de dezembro com 52% de aprovação entre os franceses — um aumento de 10% em relação ao mês de outubro, segundo o Ifop, uma das principais empresas de pesquisa de opinião da França. Entre julho e agosto, poucos meses após assumir o cargo, a popularidade de Macron havia caído 24 pontos principalmente por conta da reforma trabalhista.

Próximos passos

Para Leonardo Paz, professor do Ibmec (Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais), o 2018 de Macron deve ser traçado em um caminho de fortalecimento da União Europeia.

— Eu penso que ele vai fazer de tudo para manter a UE. O Macron tem um perfil mais aberto, um perfil globalista é, sobretudo europeísta: sua trajetória política nasceu em um ambiente em que o bloco já estava consolidado, por isso tem uma perspectiva do mundo diferente de seus antecessores.

Yann Duzert, da FGV, reforça o coro: “Se, em 2018, a Angela Merkel conseguir formar um governo de coalizão e se mantiver na liderança da Alemanha, me parece que o Macron pode se unir a ela — que tem o poder financeiro dentro da Europa — para construir o orçamento europeu, governando de forma mais firme e decidida”, pondera o especialista.

— É claro que ele vai trabalhar para reduzir os custos do déficit da França, mas também deve se esforçar por medidas para que Itália, Grécia e Portugal tenham menos gastos e o bloco seja mais harmonizado do ponto de vista financeiro. O Macron é um diplomata e o mundo, fragmentado como está, precisa de uma postura assim neste momento.


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