Fundado em 11/10/2001
porto velho, domingo 22 de dezembro de 2024
MUNDO- Salah Abdeslam, único integrante vivo das células jihadistas que atacaram Paris em novembro de 2015, comparece nesta segunda-feira (5) a um tribunal de Bruxelas para responder por sua suposta participação em um tiroteio em 2016 em Forest, na Bélgica. Ele invocou o direito de se manter em silêncio, de acordo com a France Presse.
Abdeslam se recusou a responder perguntas no início do julgamento, que começou pouco antes das 9h (6h de Brasília) no Palácio da Justiça de Bruxelas. "Eu testemunho que não há outro profeta senão Alá e Maomé é o seu profeta. Não tenho medo de vocês, coloco minha confiança em Alá", declarou ainda, de acordo com o jornal belga "Le Soir".
No início, do julgamento ele se recusou a dizer o próprio nome e a ficar de pé quando foi solicitado pela juíza que preside o processo, Marie-France Keutgen. Desde sua detenção na França em abril de 2016, Abdeslam mantém silêncio diante dos investigadores.
"Meu silêncio não me converte em um culpado ou um criminoso. Há provas tangíveis e científicas nesse dossiê. Eu quero que me julguem com base nelas", afirmou Abdeslam.
Abdeslam está de camisa polo e usando barba, bastante diferente da foto divulgada na época dos atentados em Paris.
Nesta semana, Abdeslam será julgado pelo tiroteio ocorrido em 15 de março de 2016, dia em que investigadores franceses e belgas foram surpreendidos por tiros durante uma operação de rotina em um dos abrigos da célula em Forest.
Três policiais ficaram feridos enquanto que um jihadista de origem argelina, de 35 anos, Mohamed Belkaid, morreu ao enfrentar os agentes para encobrir a fuga de Abdeslam e de um cúmplice, Sofiane Ayari, um tunisiano de 24 anos, que também será julgado em Bruxelas.
Os dois jihadistas foram detidos três dias depois, em 18 de março, em Molenbeek, uma prisão que, segundo os investigadores, representa o detonador dos atentados de 22 de março, quando três atacantes suicidas se explodiram no aeroporto e no metrô da capital belga.
Abdeslam e Ayari devem responder pelas acusações de "tentativa de assassinato de vários policiais" e "posse de armas proibidas", tudo em "um contexto terrorista". Eles podem pegar até 40 anos de prisão.
Esse processo que julga o tiroteio ocorrido em Forest é considerado um preâmbulo do julgamento que acontecerá na França pelos atentados de Paris que deixaram 130 mortos, em uma data que ainda não foi anunciada.
Um comboio policial, escoltado por unidades de elite, acompanhou a viagem de quatro horas a partir da prisão de Fleury-Mérogis, ao sul de Paris. As autoridades também organizaram um importante dispositivo de segurança, dentro e ao redor do Palácio de Justiça.
O francês de 28 anos e de origem marroquina, que cresceu e se radicalizou no bairro de Molenbeek, em Bruxelas, fazia parte de uma célula jihadista envolvida em ao menos três grandes operações terroristas nos últimos anos.
Os atentados de 13 de novembro de 2015 em Paris (130 mortos), os de 22 de março de 2016 em Bruxelas (32 mortos) e o fracassado ataque em um trem entre Amsterdã e Paris em agosto de 2015 foram de responsabilidade, "talvez, unicamente da organização Estado Islâmico", segundo a Procuradoria federal belga.
Uma associação de vítimas de atentados, V-Europe, que diz representar cerca de 200 pessoas dos atentados de Bruxelas, reclamou ser parte civil no julgamento.
A defesa dos acusados poderá aceitar de mau grado esta constituição em parte civil de última hora, apesar de várias fontes relacionadas com o caso excluírem qualquer novo adiamento.
A audiência, que deveria ter acontecido em meados de dezembro no tribunal correcional de Bruxelas, foi adiada para dar tempo a Sven Mary, o novo advogado de Abdeslam, preparar sua defesa.
Um renomado criminalista belga acompanhou o jihadista logo depois de sua prisão, mas jogou a toalha sete meses depois, criticando a incompreensível atitude de seu cliente.
Abdeslam também será julgado na França pelos atentados de 13 de novembro de 2015, mas a data do processo ainda não foi determinada.