Fundado em 11/10/2001
porto velho, sábado 24 de maio de 2025
O número real de mortes provocadas pela Covid-19 na Índia pode ser até 10 vezes superior às mais de 414 mil vítimas registradas no balanço oficial, aponta um estudo de um grupo de pesquisas americano.
Entre 3,4 milhões e 4,9 milhões de pessoas morreram vítimas do vírus no país, do início da pandemia até junho deste ano, segundo o "Center for Global Development" (Centro para o Desenvolvimento Global, em tradução livre).
"As mortes reais provavelmente estão em vários milhões, não em centenas de milhares, o que transformaria esta na maior tragédia humanitária da Índia desde a independência", afirmaram os pesquisadores.
Segundo país mais populoso do mundo, com 1,3 bilhão de habitantes de habitantes, a Índia passou por um colapso sanitário e hospitalar em abril e maio e bateu recordes mundiais de casos e mortes, em meio a uma segunda onda atribuída à variante delta e a falhas do governo.
O governo do primeiro-ministro Narendra Modi se recusou a adotar medidas de restrição, permitiu aglomerações (como festivais religiosos e comícios eleitorais) e chegou a comemorar o "fim da pandemia" em janeiro.
O balanço oficial do país registra 414 mil mortes por Covid-19, o terceiro pior do mundo depois dos EUA (609 mil) e do Brasil (542 mil). Em número de casos confirmados, a Índia tem 31,1 milhões e está atrás apenas dos EUA (34,1 milhões).
Vários estados indianos têm revisado seus balanços nas últimas semanas e adicionaram milhares de óbitos que não haviam sido contabilizados. Parte dos analistas que questionam os números oficiais atribuem os erros mais ao colapso sanitário e de saúde do que a uma manipulação deliberada.
Especialistas atribuem grande parte da subnotificação aos recursos escassos no vasto interior da Índia, que abriga dois terços da população, e às muitas pessoas que morreram em casa sem serem testadas.
O estudo do centro de pesquisas americano se baseou na análise do "excesso de mortalidade" (o número de mortes registradas a mais no país em relação ao período pré-pandemia).
Os autores reconhecem que calcular a mortalidade com uma confiabilidade estatística é difícil, mas apontam que todas as estimativas sugerem que o balanço de mortes da pandemia é de uma magnitude muito maior do que a contagem oficial.
"Nós nos concentramos na mortalidade por todas as causas e estimamos o excesso de mortalidade em relação a uma linha de base pré-pandêmica, ajustando para a sazonalidade", disseram os autores.
O governo indiano não se manifestou sobre o estudo até o momento.
Em junho, o Ministério da Saúde criticou a revista "The Economist", que afirmou em um artigo que o excesso de mortalidade era entre cinco e sete vezes superior ao balanço oficial, e disse que o texto era "especulativo" e "desinformado".