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porto velho, domingo 19 de janeiro de 2025
Insatisfeito com a minoria parlamentar que o tornava dependente de outros partidos, o premiê Justin Trudeau, do Canadá, convocou novas eleições dois anos antes do previsto, valendo-se dos cinco pontos de diferença em relação a seus adversários e de uma eficiente gestão na pandemia do novo coronavírus. O plano era assegurar novas cadeiras, no próximo dia 20, e recuperar, assim, a maioria perdida em 2019.
A aposta do primeiro-ministro em consolidar um novo mandato rapidamente revelou-se arriscada. Trudeau viu a vantagem de seu Partido Libera se esvair nas pesquisas e corta um dobrado diante dos eleitores, empatado tecnicamente com o principal rival, o novato líder conservador Erin O’Toole.
Foi atropelado pelo fiasco da retirada das tropas do Afeganistão, pela quarta onda de infecções por coronavírus e, sobretudo, pela apatia dos canadenses ao terem de enfrentar uma eleição fora de hora. Recebeu a fúria de militantes anti-vacinas, que o perseguiram durante a curta campanha e o forçaram a desviar rotas ou cancelar atos. Um deles atingiu o premiê com um punhado de terra no premiê nesta segunda-feira na província de Ontário.
O Canadá tem uma das taxas mais altas de imunização do mundo -- as duas doses já foram aplicadas em 68% da população. Sob a batuta de Trudeau, o governo determinou a obrigatoriedade da vacina para funcionários públicos federais e passageiros em trânsito, e desagradou a uma minoria barulhenta.
Na disputa pelo terceiro mandato, o primeiro-ministro esbarra também na boa fase do Novo Partido Democrático, de esquerda, que divide a atenção e tira votos dos liberais, abrindo espaço para os conservadores.
Até então desconhecido por 90% dos eleitores, Erin O´Toole, que lidera o partido há apenas um ano, corteja trabalhadores sindicalizados e suburbanos moderados. Incentiva a vacinação, mas ressalta que, em vez de determinar a sua obrigatoriedade aos funcionários federais, exigiria que eles fossem testados diariamente.
Os adversários acusam o primeiro-ministro de colocar seus interesses acima dos eleitores, convocando eleições enquanto o país ainda se recupera da pandemia e administra suas consequências.
Os eleitores demonstram interesse em outras prioridades, num indício de que o apreço ao premiê não é o mesmo de seis anos atrás, quando sua estrela despontou no meio político. Trudeau deve ter se arrependido do mau passo diante do sufoco que enfrenta nesta campanha antecipada.