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Queda de braço entre Fernández e Kirchner expõe fratura na esquerda argentina

Ministros ligados à ex-presidente renunciaram.


g1

Publicada em: 18/09/2021 10:26:05 - Atualizado

A Argentina vive horas de tensão política envolvendo o presidente Alberto Fernández e sua vice, a ex-presidente Cristina Kirchner, em uma queda de braço pública que inclui os rumos da economia e expõe a divisão na aliança que chegou a ser apontada como esperança de setores da esquerda regional diante da direita tradicional.

Na quinta-feira (16/09), quatro dias após a derrota do governo nas eleições primárias que antecedem as eleições legislativas de novembro, o distanciamento político e ideológico entre os dois foi ressaltado, primeiro, nas declarações de uma deputada kirchnerista que chamou Fernández de "neo" (neoliberal) e "ocupa" (invasor) da Casa Rosada.

Um dia antes, foi anunciada a renúncia coletiva de cinco ministros da base fiel à ex-presidente e que costumam se definir mais à esquerda. Entre eles, o ministro do Interior, Eduardo 'Wado' de Pedro, cujos pais eram militantes políticos e foram assassinados na ditadura militar (1976-1983).

Pouco depois da divulgação das declarações da deputada kirchnerista Fernanda Vallejos, na mesma quinta-feira, Cristina publicou uma longa carta, em suas redes sociais, criticando o presidente e sua gestão de governo. Ela sugeriu que a administração de Fernández estava seguindo a cartilha que eles deveriam evitar e que costuma ser associada à direita.

"Sinalizei (para Fernández) que achava que estava sendo realizada uma política de ajuste fiscal que não era adequada, que estava impactando de forma negativa na atividade econômica e, portanto, no conjunto da sociedade e que, sem dúvida, isto teria consequências eleitorais", escreveu a vice-presidente.

Ela afirmou ter dito ao presidente que os argentinos estão sofrendo perdas salariais, falta de trabalho e "descontrole de preços" e que essa situação deveria mudar. Segundo dados oficiais, divulgados nesta semana, a inflação argentina, em doze meses, registra 51,4%, incluindo o índice de 2,5% no mês de agosto.

Somente nos oito primeiros meses deste ano, a alta de preços foi de 32,4%, ainda de acordo com o Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec). O dado supera os 29% previstos para todo este ano no orçamento do governo. O índice de pobreza, por sua vez, é de cerca de 44%, também de acordo com dados oficiais.

A Argentina já registrava inflação e pobreza em alta, durante o governo do ex-presidente Mauricio Macri, opositor do kirchnerismo, quando Fernández e Cristina assumiram a Presidência. A situação foi agravada durante a pandemia do novo coronavírus e, no passado, segundo levantamentos do Fundo Monetário Internacional (FMI), a economia argentina encolheu cerca de 11% e junto com o Peru registrou um dos piores indicadores da região - excluindo a Venezuela, que teria tido retração acima de 20%, ainda segundo o organismo internacional.

Na missiva, a vice-presidente também recordou que Fernández chegou à Presidência porque foi ela quem, sozinha, o escolheu para ser candidato à Casa Rosada.

"Fiz (a escolha) com a certeza de que era o melhor para minha Pátria. Só peço ao presidente que honre essa decisão", escreveu. Segundo o jornal Página 12, de Buenos Aires, Alberto Fernández teria respondido, dizendo: "Ela me conhece. Sabe que não me submeto a pressões".


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