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porto velho, domingo 22 de dezembro de 2024
MUNDO- O ex-presidente francês Nicolas Sarkozy, indiciado na investigação sobre o suposto financiamento líbio de sua campanha eleitoral de 2007, afirmou que vive o "inferno da calúnia" em seu depoimento aos magistrados, publicado pelo jornal "Le Figaro".
Sarkozy foi detido na manhã de terça-feira e interrogado durante 26 horas, com apenas uma pausa para dormir em casa na noite de terça-feira para quarta-feira.
O ex-chefe de Estado (2007-2012) foi indiciado na quarta-feira (21) por "corrupção passiva, financiamento ilícito de campanha eleitoral e acobertamento de fundos públicos líbios".
"Desde 11 de março de 2011, vivo o inferno desta calúnia", declarou Sarkozy, que também denunciou a ausência de qualquer "prova material" nas acusações contra ele.
De acordo com o relato do "Le Figaro", em 10 de março, Sarkozy havia recebido no Palácio do Eliseu, sede do governo francês, opositores do ditador líbio Muammar Khadafi, que teria constribuído com 50 milhões de euros para a campanha que o levou à presidência.
As acusações surgiram em 2012 após a publicação de um documento pelo site Mediapart, que indicava que o regime líbio havia aprovado um pagamento para apoiar a campanha de Sarkozy. Por conta desses documentos, o ex-secretário-geral do Palácio do Eliseu Claude Guéant já é investigado por falsificação de documentos e fraude fiscal.
Embora o ex-presidente tenha afirmado que o documento era falso, a corte francesa declarou que alguns documentos eram autênticos e poderiam ser utilizados na investigação. A ação do Escritório Central de Luta contra a Corrupção e as Infrações Financeiras e Fiscais (OCLCIFF) que investiga o ex-presidente foi aberta em 2013.
Os 50 milhões de euros, suspostamente recebido pela campanha de Sarkozy, representam mais que o dobro do limite permitido legalmente na época para financiamento de campanhas políticas: 21 milhões de euros, de acordo com a Deutsche Welle. Ainda quando presidente, Sarkozy classificou as suspeitas de "grotescas".
Sarkozy tinha uma relação complexa com Khadafi. Logo após se tornar presidente, ele convidou o líder líbio para uma visita oficial à França e o recebeu com honras de Estado. Nessa visita, foram assinados contratos comerciais de cerca de 10 bilhões de euros entre os dois países.
Porém, anos depois, Sarkozy foi um dos maiores apoiadores dos ataques aéreos, liderados pela Otan, contra o governo líbio durante o levante de 2011, que culminaram com a queda do ditador, no auge do movimento que ficou conhecido como Primavera Árabe. Khadafi foi morto em um ataque aos 69 anos.