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porto velho, segunda-feira 18 de agosto de 2025
MUNDO: Quando a Rússia invadiu a Ucrânia, em fevereiro deste ano, muitos acreditavam que a guerra duraria apenas alguns dias. Afinal, a superioridade das forças armadas russas em matéria de equipamento, número de soldados e poder de fogo sobre as tropas ucranianas parecia esmagadora.
Mas, seis meses depois, o conflito continua e há sinais crescentes de estagnação, especialmente na região de Donbass.
Não que a Rússia não tenha sido bem-sucedida: ela capturou grandes porções do território ucraniano no leste, de onde ainda tenta avançar (lentamente) e ainda mais no sul, onde parece estar entrincheirada para consolidar o seu controle sobre grande parte da costa da Ucrânia.
Entretanto, o avanço na capital Kiev, ocorrido nos primeiros dias da invasão, acabou em fracasso e retirada; os constantes bombardeios em todo o país não levaram o governo ucraniano a se render; e as tropas ucranianas, que recebem apoio material dos países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), estão operantes e até mesmo montaram contra-ataques locais, enquanto crescem relatos de uma possível grande contraofensiva.
Por que, então, tem sido tão difícil para a Rússia, uma das principais potências militares do mundo, vencer a Ucrânia?
Os soldados que defendem o território em que vivem com as suas famílias tendem a ter mais incentivo e mais vontade de lutar do que aqueles que, ao contrário, fazem atividades ofensivas em outro país, apesar da sua superioridade militar.
Isso foi claramente visto durante a Guerra do Vietnã e também nas duas guerras no Afeganistão, onde lutaram – e perderam – a União Soviética em 1980 e os Estados Unidos em 2001, para citar apenas alguns exemplos (há contraexemplos, é claro, em toda guerra encerrada com uma conquista bem sucedida).
No caso da guerra atual, as tropas ucranianas demonstraram vontade de lutar desde o primeiro dia, acatando as ordens gerais de mobilização e se apresentando repetidamente para combater as tropas russas, mesmo quando sofrem perdas pesadas. E tudo diante de um cenário de numerosos relatos de atrocidades russas em Bucha e recentemente em Kiev, que o Kremlin nega.
“O moral e a vontade de lutar ucranianas são inquestionáveis, e acho que são maiores do que a vontade média de lutar do lado russo, por isso os ucranianos têm uma vantagem significativa”, opinou Colin Kahl, subsecretário de política no Departamento de Defesa dos EUA.
Pelo contrário, relatos de moral baixo entre os soldados russos, muitos deles mobilizados em fevereiro sem saber que iriam participar de uma guerra, não cessaram desde o início da guerra, especialmente entre os convocados e as tropas da República Popular de Donetsk e Luhansk, formadas no leste da Ucrânia em 2014 sob o apoio de Moscou e lutando agora ao lado dos russos.
Em março, o chefe dos serviços de inteligência do Reino Unido, Jeremy Fleming, afirmou que o moral estava tão baixo em algumas unidades russas que havia casos em que eles se recusavam a cumprir ordens.
Uma fonte do Departamento de Defesa dos EUA também contou em março que houve casos de moral baixo em algumas unidades russas diante de uma inesperada resistência ucraniana. O porta-voz do Pentágono, John Kirby, citou “problemas com moral e falta de coesão em unidades específicas”.