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porto velho, terça-feira 4 de fevereiro de 2025
MUNDO: A saída abrupta e mal preparada da China da política de “Covid zero” pode levar a quase um milhão de mortes, de acordo com um novo estudo, enquanto o país se prepara para uma onda sem precedentes de infecções que se espalha de suas maiores cidades para suas vastas áreas rurais.
Por quase três anos, o governo chinês usou bloqueios rígidos, quarentenas centralizadas, testes em massa e rastreamento rigoroso de contatos para conter a propagação do vírus.
Essa estratégia cara foi abandonada no início deste mês, após uma explosão de protestos em todo o país contra restrições estritas que prejudicaram os negócios e a vida cotidiana.
Mas especialistas alertaram que o país está mal preparado para uma saída tão drástica, não tendo conseguido aumentar a taxa de vacinação de idosos, a capacidade de terapia intensiva em hospitais e estocar medicamentos antivirais.
Nas condições atuais, uma reabertura em todo o país pode resultar em até 684 mortes por milhão de pessoas, segundo projeções de três professores da Universidade de Hong Kong.
Dada a população da China de 1,4 bilhão de pessoas, isso representaria 964.400 mortes.
O surto de infecções “provavelmente sobrecarregaria muitos sistemas de saúde locais em todo o país”, disse o estudo, divulgado na semana passada no servidor de pré-impressão do Medrxiv e que ainda não foi submetido à revisão por pares.
O levantamento simultâneo das restrições em todas as províncias levaria a demandas de hospitalização de 1,5 a 2,5 vezes mais da capacidade hospitalar, de acordo com o estudo.
Mas esse pior cenário pode ser evitado se a China lançar rapidamente doses de reforço e medicamentos antivirais.
Com cobertura vacinal de quarta dose de 85% e cobertura antiviral de 60%, o número de mortes pode ser reduzido de 26% a 35%, de acordo com o estudo, financiado em parte pelo Centro Chinês de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) e pelo governo de Hong Kong.
Na segunda-feira (19), as autoridades de saúde chinesas anunciaram duas mortes por Covid, ambas na capital Pequim, que enfrenta seu pior surto desde o início da pandemia.
Essas foram as primeiras mortes oficialmente relatadas desde o dramático alívio das restrições em 7 de dezembro, embora postagens nas redes sociais chinesas tenham apontado para um aumento na demanda nas funerárias e crematórios de Pequim nas últimas semanas.
Um funcionário de uma funerária nos arredores de Pequim disse à CNN que eles foram inundados pelas longas filas para a cremação, e os clientes precisariam esperar pelo menos até o dia seguinte para cremar seus entes queridos.
No Baidu, principal mecanismo de busca online da China, as buscas por “casas funerárias” por residentes de Pequim atingiram um recorde desde o início da pandemia.
No centro financeiro de Xangai, as escolas passaram a maioria das aulas online a partir de segunda.
Na metrópole de Guangzhou, no sul, as autoridades disseram aos alunos que já estão tendo aulas online e pré-escolares para não se prepararem para o retorno às aulas.
Na megacidade de Chongqing, no sudoeste, as autoridades anunciaram no domingo que os funcionários do setor público com teste positivo para Covid podem trabalhar “normalmente” – uma reviravolta notável para uma cidade que apenas algumas semanas atrás estava no meio de um bloqueio em massa.
É difícil julgar a verdadeira escala do surto pelos números oficiais. A China parou de relatar casos assintomáticos na semana passada, admitindo que não era mais possível rastrear o número real de infecções.
Esses casos assintomáticos costumavam representar a maior parte do número oficial de casos do país.
Mas o restante da contagem de casos também se tornou sem sentido, pois as cidades revertem os testes em massa e permitem que as pessoas usem testes de antígeno e se isolem em casa.