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porto velho, quinta-feira 28 de novembro de 2024
Um novo áudio obtido pelo R7 mostra um ex-assessor do deputado federal André Janones (Avante-MG) alegando que precisava repassar quase R$ 5.000 do próprio salário mensalmente no suposto esquema de rachadinha no gabinete do parlamentar.
A gravação faz parte de uma manifestação protocolada em 2021 no Ministério Público Federal que denunciou o crime. Janones nega qualquer recebimento ilícito de verba dos funcionários.
O processo corre em sigilo. Mas a reportagem conversou com o denunciante, o ex-assessor Fabricio Ferreira. Foi ele quem gravou o áudio de uma conversa com Alisson Camargos, outro ex-assessor de Janones que atualmente ocupa o cargo de secretário de Meio Ambiente na Prefeitura Municipal de Ituiutaba (MG).
Sem saber que estava sendo gravado, Camargos confessa: "Quase R$ 5 (mil) conto que eu passo para ele [Janones], Fabricio. Nem R$ 9.000 eu estou tirando. R$ 9.000, assim, no papel, entendeu?". Camargos diz também que o esquema demonstra que eles não são amigos do parlamentar. "Nós somos funcionários", completa.
Responsável pela gravação, Fabricio Ferreira contou à reportagem que o esquema era mensal e que, no caso de Camargos, "ele repassava R$ 5.000 de um salário de R$ 9.000, aproximadamente 60% do salário". Ferreira também afirma que outras pessoas precisariam fazer os repasses para Janones e que quem articulava o recebimento, em éspecie, era a então assessora Leandra Guedes (Avante), atual prefeita de Ituiutaba.
O caso é investigado pela Polícia Federal, mas corre sob sigilo. Além de Ferreira, o jornalista Cefas Luiz, também ex-assessor de Janones, denunciou o esquema. Em 5 de fevereiro de 2019, ele gravou a primeira reunião após os funcionários tomarem posse, ocasião em que Janones pede parte do salário de servidores para pagar despesas de campanha. Esse áudio foi revelado pela primeira vez nesta segunda-feira (27) e já motivou uma notícia-crime encabeçada por deputados da oposição.
Janones nega ter cometido rachadinha e afirma que a gravação foi "clandestina e criminosa" e se trata de um áudio "retirado de contexto" e para tentar imputar a ele um crime que afirma jamais ter cometido. "Essas denúncias vazias nunca se tornaram uma ação penal ou qualquer processo, por não haver materialidade. Não são verdade, e sim escândalos fabricados", completa. Além de negar ter recebido dinheiro dos assessores, Janones afirma que toparia abrir mão do sigilo bancário. "Eu não tenho o que esconder", garante.
De acordo com o áudio supostamente gravado por um ex-assessor de Janones, a verba da rachadinha seria usada para cobrir um rombo de R$ 675 mil nas contas pessoais do político, que afirma ter precisado vender casa e carro e usado o dinheiro da poupança e previdência para bancar a corrida eleitoral.
Na conversa com a equipe, após declarar a intenção de obter parte do salário dos assessores para fins pessoais, Janones reafirma que não admitirá cargos-fantasmas, em uma tentativa de legitimar o suposto esquema. O deputado disse, ainda, não temer a perda de mandato. "Se eu tiver que ser colocado contra a parede, não estou fazendo nenhuma questão desse mandato. Para mim, hoje, renunciar é uma coisa tão natural." Segundo Janones, esse esquema seria "justo".