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porto velho, quinta-feira 28 de novembro de 2024
BRASIL - Depois de faltar a quatro convocações do Ministério Público para depor sobre as movimentações suspeitas em sua conta corrente constatadas em um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), o motorista Fabrício Queiroz, ex-chefe de segurança de Flávio Bolsonaro, reapareceu nesta quarta-feira em uma entrevista concedida ao SBT. Ele relata que problemas de saúde, incluindo o diagnóstico de um câncer maligno no intestino, o teriam impedido de comparecer à sede do MP no Rio de Janeiro para esclarecer os fatos.
Ao longo de 22 minutos de entrevista, Queiroz afirmou ser inocente com frases curtas e incisivas: “Eu não sou laranja”, “Eu não sou bandido”, “A conta é minha”, “Não estou fugindo”. Porém, ele se reservou ao direito de detalhar os depósitos atípicos, sobretudo o de 24.000 reais realizado na conta da futura primeira-dama, Michelle Bolsonaro, apenas quando for depor ao Ministério Público. “Esse mérito de dinheiro eu quero explicar ao MP”, disse, alegando que a quantia em questão se tratou de um empréstimo de Jair Bolsonaro. Novamente sem entrar em detalhes, ele justificou a alta movimentação na conta com um empreendimento paralelo de compra e venda de automóveis. “Sou um cara de negócios. Eu faço dinheiro, compro carro, revendo carro... Sempre fui assim, gosto muito de comprar carro de seguradora. Na minha época, lá atrás, comprava um carrinho, mandava arrumar e revendia. Tenho uma segurança.”
De acordo com o relatório do Coaf, foram identificados saques e depósitos bancários feitos na conta do motorista que superavam 1,2 milhão de reais no período de um ano, entre 2016 e 2017. Os valores seriam incompatíveis com seu rendimento mensal, que girava em torno de 23.000 reais – 10.000 como assessor parlamentar de Flávio Bolsonaro na Alerj e outros 13.000 de aposentadoria da PM. Na entrevista ao SBT, Queiroz isentou seu antigo chefe e a família Bolsonaro das suspeitas levantadas pelo Coaf. “Flávio Bolsonaro é um homem honesto, íntegro e um excelente pai de família”, afirmou antes de fazer um apelo à imprensa para que não atrele o caso aos familiares do presidente eleito. “Quero pedir desculpas à família Bolsonaro e a primeira-dama por envolver o nome deles nisso. Eu sou o problema, não eles.”
Queiroz ainda se referiu a vários problemas de saúde para justificar seu sumiço desde que o caso veio à tona, no início do mês. Ele contou que, ainda na campanha eleitoral, convivia com uma bursite no ombro direito, tosse recorrente (“ficava tossindo dentro do carro o tempo todo, tava até constrangedor”), alterações na urina e sangramentos nas fezes. Ao fazer exames – ele não revelou o nome do hospital onde foi atendido –, um médico teria diagnosticado um câncer maligno no intestino, embora ainda não tivesse em mãos o resultado da biópsia. “Fiquei muito debilitado no dia do depoimento”, disse ao esclarecer a última ausência à intimação do MP.
Outro empecilho para o comparecimento ao MP, segundo Fabrício Queiroz, seria a orientação de seu advogado para que só prestasse depoimento depois de ter acesso à íntegra do relatório elaborado pelo Coaf, o que ainda não havia ocorrido no intervalo entre as duas primeiras convocações. “Eu não sou laranja. Por mim, já teria ido depor há muito tempo para não ficarem me achando um bandido. Eu não sou bandido. Sou trabalhador. A conta é minha, não é de terceiros. Não estou fugindo. Quero agradecer ao promotor [Eduardo Gussem, procurador-geral de Justiça] por não pedir minha prisão.”
Aos 53 anos, Queiroz afirma ter sofrido um grande baque psicológico por causa das acusações. “Imagina eu, amigo do presidente, amigo do deputado... Meu Whatsapp era só coisas bonitas. Aí vem, de uma hora pra outra, meu nome aparecendo na mídia, vários repórteres atrás de mim. É um momento muito difícil.” Por fim, ele lembrou do apoio que recebeu da família Bolsonaro em diversos momentos, inclusive quando seu enteado se suicidou com a arma que ele mantinha em casa. Ao responder se ainda mantém contato com Flávio Bolsonaro após o estouro do caso, lamentou o distanciamento do senador eleito. “Não tenho falado com ele. Essa é a coisa mais triste do mundo.”