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porto velho, quinta-feira 28 de novembro de 2024
BRASIL RO - Jair Bolsonaro só chegaria ao Congresso Nacional na tarde desta terça-feira (1º), mas a sua imagem já circulava pelos gramados próximos desde o início da manhã. Apoiadores de todo o Brasil se reuniram para assistir à posse do novo presidente da República. As onipresentes camisetas com fotos de Bolsonaro eram os seus uniformes.
Entre eles, prevalecia o otimismo. Aqueles que se deslocaram para Brasília a partir de outros estados afirmaram que as motivações para a viagem foram a vontade de apoiar o novo presidente e a esperança de que ele trará mudanças ao país.
Insatisfeitos com o Brasil atual, os eleitores de Bolsonaro exigem uma “limpeza” na corrupção, medidas de segurança pública e recuperação das oportunidades de emprego.
Sentimento
O agente social Leonardo Aparecido veio de Juiz de Fora (MG), cidade onde Bolsonaro foi esfaqueado durante a temporada eleitoral de 2018. Ele conta que fez campanha nas ruas para o presidente eleito e que se sentiu no dever de viajar para testemunhar a posse.
— Pelo Bolsonaro a gente atravessa desertos e montanhas. Ele é um patriota, tem Deus no coração, ama esta nação. Ele tomou uma facada por nós, se a gente ficar debaixo de sol ou tomar chuva vamos fazer isso rindo, com grande satisfação. É o mínimo.
Leonardo Aparecido criticou o Supremo Tribunal Federal e pediu ao Congresso uma “Operação Lava-Toga” em 2019. Outra eleitora presente, a bacharel em direito Aydil Bezerra, de Natal, também apoia a ideia.
— [Bolsonaro] tem que motivar o Congresso a votar os processos de impeachment contra os ministros do STF. Os parlamentares também têm que parar de roubar e trabalhar para a população.
Houve quem se aventurasse em viagens longas para estar em Brasília no primeiro dia do ano. Daiane Vieira, motorista de transporte escolar, veio de Vacaria (RS) numa caravana de ônibus que levou dois dias para chegar à capital federal. Ela e seu grupo destacaram a importância de apoiar o presidente Bolsonaro no seu primeiro dia.
— Esse espírito que envolveu todo mundo é de lutar por uma causa só. Bolsonaro faz isso, ele une as pessoas.
Pautas
Ediélson de Jesus Santos, almoxarife de Goiânia, disse que precisava ver de perto a cerimônia de posse pela empolgação que sente com o novo governo. Ele ostentava uma réplica de faixa presidencial feita de feltro, com uma foto de Jair Bolsonaro e a frase “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, popularizada pelo presidente durante a campanha. Para ele, a maior preocupação é a corrupção.
— Ele tem que ser muito transparente, como falou nas promessas — cobrou.
Já a aposentada Almerinda de Barros, de Santo André (SP), espera uma retomada de patriotismo dentro da sociedade. Para ela, o país precisa “voltar a ter decência e dignidade”. Além disso, Almerinda — que participou das manifestações de rua nos últimos anos contra o governo federal — se preocupa com o futuro do mercado de trabalho.
— Tenho duas filhas e um genro que são formados e não conseguem emprego. Não se valorizam os jovens. Se meus filhos estão passando por essa humilhação, como vai ser para os meus netos? Por isso eu estou aqui.
Até a política externa estava na cabeça dos eleitores presentes à posse — literalmente. O engenheiro civil Ronaldo Costa, paraibano residente em Brasília, vestia um boné com o nome do presidente dos Estados Unidos. Ele espera que o Brasil de Bolsonaro se alinhe cada vez mais à liderança americana.
— Sou fã do Trump e da política de direita. Estamos cansados de ser manipulados pelos esquerdistas. O mundo todo está reconhecendo que a política de direita é a que valoriza os méritos e a capacidade humana.
Congresso
Os apoiadores de Jair Bolsonaro esperam um Congresso aliado às políticas do presidente, mas também firme para criticar o que precisar ser criticado. Marcelo Viana, servidor público federal em São Gonçalo (RJ), tentou participar desse cenário. Ele foi candidato a deputado federal em 2018 pelo PSC (antigo partido de Bolsonaro), mas não se elegeu.
Para Viana, o papel dos parlamentares deve ser de honestidade e independência. Ele lamenta, também, as regras de fidelidade partidária, que tiram a “vontade própria” dos políticos na hora de tomar decisões e submetem-nos a uma tradição de “toma lá dá cá”.
— O Congresso não está aí para ajudar o presidente, está aí para legislar em prol do povo. Se o presidente manda uma lei para beneficiar, tem que votar, mas se a lei não valer nada, eles estão aí para negar.
Segurança
O público que compareceu à cerimônia de posse de Jair Bolsonaro precisou se submeter a um complexo esquema de segurança. As ruas da região central de Brasília foram isoladas e o acesso à Esplanada dos Ministérios se deu apenas a pé. Quem chegava precisava passar por três pontos de revista, e diversos itens estavam proibidos, como guarda-chuvas, batons e garrafas. A polícia organizou pontos de distribuição de água para os presentes.
As restrições não incomodaram. Isaías do Nascimento Júnior, tenente da Polícia Militar do Espírito Santo, veio com cerca de 50 colegas para assistir ao evento e elogiou a estrutura montada pelas forças de segurança.
— Barreiras bem-feitas, pente-fino detalhado, [o esquema] é praticamente infalível. E era necessário.
A Polícia Militar do Distrito Federal tinha a expectativa de receber cerca de 250 mil pessoas na Esplanada, sendo 45 mil apenas na Praça dos Três Poderes, em frente ao Palácio do Planalto. Até o início da cerimônia oficial de posse, não havia nenhuma estimativa do número de presentes e nem ocorrências de distúrbios e incidentes na multidão.