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porto velho, domingo 6 de julho de 2025
BRASIL-Visto como um ministro apagado, Marcos Pontes, chefe do Ministério da Ciência e Tecnologia, encerra nesta quinta-feira (31) o trabalho à frente da pasta. Ele está entre os ministros que deixam o governo federal para disputar um cargo eletivo nas eleições de outubro — vai tentar uma vaga na Câmara dos Deputados pelo estado de São Paulo. Integrante do governo do presidente Jair Bolsonaro desde o início, em entrevista exclusiva ao R7 ele rebate críticas, comenta polêmica envolvendo o ministro da Economia, Paulo Guedes, e admite que o corte no orçamento da pasta atrapalhou a gestão.
"De um modo, atrapalhou; de um modo fez com que a dificuldade criasse soluções. Então, eu tive, sim, problema de orçamento, sem dúvida nenhuma. Quando a gente fala de orçamento para ciência e tecnologia, esse recurso não é gasto, é investimento; dá retorno rápido, garantido e importante. Todos os países desenvolvidos têm em suas estruturas a ciência. Baseado nisso, quando chegamos aqui era um problema seriíssimo a questão de orçamento. Hoje, saio do ministério tranquilo, porque temos recursos para os nossos programas, mas pode ser melhor”, afirmou.
Pontes garante que se dedicou, ao longo dos últimos três anos, a reajustar e resolver o problema de orçamento do ministério – problema este que ele garante ter equacionado. O ministro conta que assim que assumiu, em 2019, havia um déficit para bolsas do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) em R$ 330 milhões, e que na prática ele tinha recurso para pagar essas bolsas até agosto daquele ano. “Aí o pessoal sugeriu para reduzir o número de bolsas. Não vou reduzir, eu faço o aperto onde for, mas bolsa não vou cortar e vou proteger o orçamento das unidades vinculadas o máximo possível”, afirmou.
Na época, o CNPq publicou uma nota, em agosto, dizendo que novas indicações de bolsas estavam suspensas diante do cenário orçamentário, e que o orçamento do órgão não seria recomposto. Houve ampla manifestação da sociedade científica e, em outubro, o ministro prometeu a recomposição do valor para cumprir com o pagamento de bolsas até o fim de 2019. A promessa se cumpriu no fim de outubro.
“A gente resolveu nos 47 do segundo tempo”, lembra Pontes. “Veio a Economia e conseguimos colocar o orçamento necessário para ir até o fim de 2019 sem cortar nenhuma bolsa e sem atrasar um dia. Eu arrisquei bastante, mas conseguimos. Não cortamos nenhuma bolsa do CNPq”, garantiu.
Esse não foi o último episódio que envolveu um entrave entre Pontes e Guedes. Em outubro do ano passado ocorreu o pior deles. Na época, o Ministério de Ciência e Tecnologia sofreu um corte orçamentário de R$ 690 milhões, o equivalente a 90% do que a pasta tinha. O astronauta foi publicamente criticar a decisão, dizendo ter havido “falta de consideração”. “Os cortes de recursos sobre o pequeno orçamento de ciência do Brasil são equivocados e ilógicos”, afirmou.
Dias depois, Guedes se reuniu com deputados federais para falar sobre os cortes, e não poupou críticas duras ao colega de governo. O ministro da Economia chamou Pontes de “burro” em uma reunião que tinha, inclusive, deputado de oposição. O R7 mostrou, então, que Guedes estava irritado com as queixas sobre cortes no orçamento da pasta, ressaltando que Pontes não sabe gerir recursos. No encontro, Guedes se referiu ao colega de Esplanada a todo momento como "astronauta", sem chamá-lo pelo nome.
Antes do episódio, Pontes chegou a dizer que havia cogitado deixar o governo com os cortes. Hoje, saindo do governo, ele nega. “Não, nunca cogitei sair do ministério. É a minha função brigar por orçamento. A Economia pode até falar alguma coisa, mas não vou deixar de pedir”, afirmou.
Sobre a briga com Guedes, ele tenta jogar para escanteio. “Eu sou piloto de testes. Imagina se eu prestar atenção em distrações que aparecem ao longo do voo? Então, por natureza, aprendi ao longo da minha carreira, que não é pequena, como gerenciar isso. Se chama inteligência emocional também. Se estou pilotando um avião, fazendo um teste, o meu foco deve ser ali”, disse.
O ministro afirmou que na época rebateu Guedes sobre as críticas de que seu ministério tinha execução baixa. “E mostrei que a execução era 99,87%, quase 100%. Ele disse: ‘Pô, não sei, deve ter sido assessor que passou informação errada’. E sobre chamá-lo de burro, eu até dei risada, ninguém nunca me chamou de burro antes, a minha vida é um pouco diferente disso”, afirmou.
Pontes ainda disse que é preciso entender que “cada pessoa passa por momentos emocionais diferentes”. “Ele estava ali talvez num momento, numa emoção diferente, que talvez saia alguma coisa que a gente não quer falar, mas acaba falando. Não tem problema. O meu papel não é discutir, responder, qualquer coisa, o meu papel é fazer com que a ciência e tecnologia funcionem no Brasil e é isso que a gente fez”, pontuou.
Fonte:R7