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Brasil pede à Índia garantia e previsão de entrega de vacinas contra Covid

Brasil pede à Índia garantia e previsão de entrega de vacinas contra Covid


folhapress

Publicada em: 21/01/2021 10:12:26 - Atualizado

BRASIL: Para tentar amenizar o fracasso na entrega de doses da vacina Oxford/AstraZeneca, o governo brasileiro tem discutido com autoridades indianas a divulgação de um comunicado público no qual o país asiático garanta que elas serão enviadas ao Brasil no curto prazo.

Segundo relatos feitos à reportagem, nos últimos dias negociadores do governo entraram em contato com diplomatas indianos para solicitar uma posição que arrefeça o mal-estar criado com a demora no envio de imunizantes contra o coronavírus.

A avaliação entre auxiliares do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) é que os sucessivos adiamentos na liberação da carga têm gerado desgaste para o Palácio do Planalto, que apostava na importação para o dar o pontapé na campanha de imunização no Brasil. Uma cerimônia estava sendo preparada para o ato, mas acabou desmobilizada diante do fracasso da operação.

Algum tipo de compromisso público da Índia é visto por aliados de Bolsonaro como uma forma de ao menos reduzir os danos políticos que o atraso tem causado.

Interlocutores no Planalto têm a expectativa de que o envio dos 2 milhões de doses ocorra na próxima semana, mas outros envolvidos nas negociações têm previsões menos otimistas.

Eles apontam que as autoridades indianas ainda não deram sinalização de que a entrega possa ocorrer ainda neste mês.

Quem acompanha as conversas ressalta que a Índia tem demonstrado irritação com a insistência do governo Bolsonaro e, principalmente, com a publicidade dada aos planos de buscar os imunizantes no país asiático. Com o avião adesivado no Recife (PE) e o Planalto dizendo que ele decolaria na sexta-feira (15), o governo indiano se viu obrigado a avisar Brasília que a conclusão da operação não seria possível naquele momento.

A emissão de uma autorização de venda para o exterior antes mesmo que a Índia iniciasse seu plano de vacinação seria entendida como um descompromisso com a própria população.

Interlocutores menos otimistas alertam ainda que não veem razões para a Índia priorizar o Brasil antes de atender objetivos geopolíticos mais imediatos, como os países vizinhos e mesmo nações com quem têm relações mais profundas, como Arábia Saudita e África do Sul.

O governo tem enviado sinalizações à Índia para facilitar a publicação da autorização.

Além de tentar dar menos publicidade às conversas, a delegação brasileira junto à OMC (Organização Mundial do Comércio) não manifestou oposição quando os indianos defenderam recentemente sua ideia de relaxar obrigações sobre patentes de medicamentos durante a pandemia.

No ano passado, quando o tema foi discutido na entidade, o Brasil se alinhou aos Estados Unidos e se opôs à iniciativa era era patrocinada pela Índia e África do Sul.

Embora o Brasil não tenha mudado de posição, uma vez que para tanto teria que endossar o pleito indiano, o silêncio foi uma forma de evitar desagradar Nova Déli no momento em que o Brasil depende da boa vontade do país asiático.

Desde dezembro, quando começaram as tratativas entre a Fiocruz e o Serum Institute da Índia para a compra das 2 milhões de vacinas, o governo brasileiro tem feito gestões junto à Índia para possibilitar a venda.

No início de janeiro, Bolsonaro enviou uma carta para o premiê Narendra Modi pedindo urgência para o tema e o ministro Ernesto Araújo (Relações Exteriores) apelou para seu contraparte indiano, Subrahmanyam Jaishankar.

Na terça-feira (19), a Índia anunciou que começaria a exportar vacinas nesta quarta-feira (20) para seis países. Os destinos são Butão, Maldivas, Bangladesh, Nepal, Mianmar e Seychelles.

Conforme o jornal Folha de S.Paulo publicou, Araújo está sob forte pressão de auxiliares de Bolsonaro após o atraso na operação montada para buscar os imunizantes na Índia.

Com o fracasso da operação, Bolsonaro teve que assistir ao governador de São Paulo, João Doria (PSDB), ser o protagonista do início da vacinação no Brasil.

Adversário do Planalto, Doria foi o patrocinador político da Coronavac, vacina desenvolvida por uma farmacêutica chinesa em parceria com o Instituto Butantan. Sem os imunizantes da Oxford/AstraZeneca, a Coronavac é a única vacina disponível no momento no Brasil.

Após as críticas, Araújo determinou que as divisões do Itamaraty reunissem informações sobre a situação de imunização em diversos países. O pedido gerou incomodo entre diplomatas, que consideraram o gesto atrasado e mais um sinal de que o planejamento da vacinação não estava nas prioridades do governo federal.

As determinações, encaminhadas pelo comando do ministério a partir da terça (19), são para que diplomatas enviem ao gabinete de Araújo dados como o início da vacinação nos diferentes países, os imunizantes escolhidos e a quantidade de população que já foi protegida. Uma tabela está sendo atualizada com esses dados.


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