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porto velho, quarta-feira 27 de novembro de 2024
MUNDO: Os antimicrobianos, medicamentos utilizados para prevenir, controlar e tratar doenças infecciosas em humanos, animais e plantas, estão se tornando cada vez mais ineficazes. O alerta é da Organização Mundial da Saúde (OMS), que promove a partir desta sexta-feira (18) e até o dia 24 de novembro a Semana Mundial do Uso Consciente de Antibióticos.
A campanha realizada anualmente destaca que o aumento no número de microrganismos resistentes aos medicamentos coloca em risco a saúde de humanos e de animais, representando uma das maiores ameaças à saúde global atualmente. De acordo com a OMS, o problema está associado diretamente ao uso excessivo e incorreto dos fármacos disponíveis para o tratamento de infecções.
A resistência aos antimicrobianos ocorre quando bactérias, vírus, fungos e parasitas não respondem mais aos compostos disponíveis. Como resultado da resistência aos medicamentos, os antibióticos e outros agentes antimicrobianos tornam-se ineficazes e infecções comuns tornam-se difíceis ou impossíveis de tratar, aumentando o risco de disseminação de doenças, casos graves e mortes.
O desenvolvimento de um novo antibiótico pode levar de 10 a 15 anos e custar mais de US$ 1 bilhão. Em 2019, quase 5 milhões de mortes humanas em todo o mundo foram associadas à resistência bacteriana. Dessas, 1,3 milhão de óbitos foram diretamente atribuíveis ao problema.
A OMS alerta que em um cenário de alto impacto, a resistência reduzirá o PIB anual global em 3,8% até 2050. Se não for controlada, na próxima década, pode resultar em um déficit do PIB de US$ 3,4 trilhões anualmente e empurrar mais 24 milhões de pessoas para a pobreza extrema.
Antimicrobianos administrados a humanos, animais e plantas entram em contato com o meio ambiente e fontes de água por meio de águas residuais, lixo, escoamento e esgoto.
Com isso, os medicamentos entram em contato com microrganismos presentes na natureza. Quando expostos às substâncias, parte deles adquire mecanismos de resistência – o que significa que, quando forem expostos novamente ao antimicrobiano, eles podem permanecer vivos, ampliando o processo de resistência.
Entre as medidas de prevenção, a OMS enfatiza que os medicamentos não utilizados não deve ser descartados em banheiros, lixeiras ou depósitos de lixo.
Em março, um grupo de líderes globais sobre o tema pediu que os países reduzam a quantidade de resíduos antimicrobianos que acabam indo para o meio ambiente. Os especialistas destacam a necessidade de novos estudos e da implementação de medidas para o descarte com segurança dos resíduos provenientes dos sistemas de saúde humana e animal, de alimentos e da indústria.
A OMS aponta que manter os animais saudáveis também é uma medida importante para reduzir a necessidade de tratamento antimicrobiano em primeiro lugar. O uso indiscriminado de medicamentos em práticas agropecuárias e hospitalares tem contribuído para o aumento da resistência, como explica a pesquisadora Ana Paula Assef, do Laboratório de Pesquisa em Infecção Hospitalar do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), no Rio de Janeiro.
“A rotina hospitalar, por exemplo, conta com uma série de procedimentos invasivos que são portas de entrada para as bactérias – como a utilização de ventilação mecânica e de cateteres venosos. Em consequência ao aumento das infecções hospitalares associadas a esses instrumentos, o uso de antibióticos é intensificado, o que promove a seleção de bactérias resistentes nesse ambiente”, diz.
De acordo com a OMS, lavar as mãos antes de cozinhar e manter as áreas de preparação de alimentos limpas pode ajudar a prevenir a propagação de micróbios resistentes a medicamentos. O acesso a água potável, saneamento e higiene (WASH, em inglês) em residências e unidades de saúde também pode reduzir a necessidade de antibióticos para tratar a diarreia em até 60%. A estratégia ajuda a prevenir infecções resistentes a medicamentos, salva vidas e reduz os custos com saúde, segundo a OMS.
O tratamento de fluxos de resíduos de origem municipal, agrícola e industrial também são consideradas medidas preventivas importantes, uma vez que a poluição induzida pela ação humana exacerba a resistência antimicrobiana no meio ambiente.