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    porto velho, sábado 15 de novembro de 2025

Crônica de Fim de Semana — Mutirão de Amor - por Arimar Souza de Sá

Ora, o país está faminto de gestos pacíficos. De boas palavras. De vozes que cantem — mesmo desafinadas como a minha no banheiro — lembrando que a vida pode ser simples.


Redação

Publicada em: 14/11/2025 09:50:54 - Atualizado

Crônica de Fim de Semana — 
Mutirão de Amor 

Arimar Souza de Sá

Hoje é sexta-feira! No banho da manhã, deixei a água cair nos ombros como quem lava a alma, ouvindo a música Mutirão de Amor, na doce voz de Roberta Sá — (logo SÁ)

— e no balanço gostoso de Zeca Pagodinho. Enquanto ensaboava o corpo para sair e enfrentar a vida, escutei essa composição de Jorge Aragão lembrando que “cada um de nós deve saber se impor e até lutar em prol do bem-estar geral”...

Ah, Jorge Aragão… esse poeta do cotidiano que transforma sabedoria popular em melodia. E eu, no meu palco exclusivo de azulejo, cantei à beça, me alinhei a ele para começar o dia do jeito certo.

Respirei um ar puro, me enchi de entusiasmo e “vambora”. A música me conduziu a propor ao povo rondoniense — e por que não ao Brasil inteiro? — um Mutirão de Amor, pedindo um pouco de descanso para o coração do país. Abri a janela, deixei o sol entrar devagar e permiti que a melodia tomasse conta da casa. Afinal, diz o poeta na canção: “afastar da mente todo mal pensar, saber se respeitar, se unir pra se encontrar”...

E foi ouvindo e viajando em cada verso que pensei nesse Brasil cansado. Cansado de Lula versus Bolsonaro, de esquerda e direita, de discussões que começam no café e terminam no jantar. Um país exausto de tropeçar, dia após dia, nos ressentimentos deixados no meio da sala da nação como se fossem decoração permanente — poeira emocional que ninguém varre, móvel pesado que ninguém muda, pedra de tropeço que se recusa a sair do caminho.

Nas padarias, no zap da família, no trabalho… basta olhar. A polarização senta no meio da conversa, ajeita a cadeira e não vai embora. Rouba o riso, abafa o afeto e empurra para longe a leveza que merecemos. O que deveria ser congraçamento vira frustração — e às vezes até briga da braba. Ave Maria!

Mas, felizmente, existe outro Brasil. O Brasil silencioso. Aquele que acorda cedo, faz uma oração antes de sair, paga as contas, abraça forte quem ama e não tem tempo para ódio porque está ocupado vivendo. A brava gente desse Brasil sadio sabe que o remédio não está na farmácia, mas no suor do rosto, no respeito, na união e no olhar mais demorado sobre o outro — remédios da alma, desses que não vêm em caixa, mas que curam feridas profundas.

É esse Brasil que a música Mutirão de Amor inspira. É esse Brasil que pede — com voz mansa — um mutirão de amor coletivo. E não é amor de novela das seis. É amor de gente grande: que desarma, que desencana a conversa, que derruba muros, que baixa a febre das ideias inflamadas.

Um amor que começa no básico: ouvir sem atacar, discordar sem destruir, perdoar sem humilhar, conviver sem ferir e, como diz Aragão, ‘se manter respeitado para ser amado’. Isso sim é amor de verdade!

É claro que o mutirão que proponho, em parceria com o compositor, começa dentro da gente — no instante em que arrancamos o mal pela raiz, esse mal que se esconde atrás do famoso: “é minha opinião, respeite”. Mal pensar é escolha, mas o bem também é. E toda escolha é uma porta: ou abre para luz, ou abre para o breu.

Ora, o país está faminto de gestos pacíficos. De boas palavras. De vozes que cantem — mesmo desafinadas como a minha no banheiro — lembrando que a vida pode ser simples. De gente que não dá palco para os malvados — porque malvado sem plateia murcha, se lasca. De quem perdoa porque sabe que rancor pesa — e pesa como pedra molhada. De quem entende que amor não é fraqueza — é virtude da boa.

Pois é! Se cada um fizer a sua parte — e aqui não tem frase pronta, tem convocação — as barreiras viram pó. Sobra espaço e luz para o reencontro: com o bom dia conciliador, o deixa pra lá, o você tem razão, o “vamos juntos nessa?”.

Estejam certos: o Brasil não precisa de heróis. Precisa de pessoas normais — tipo eu, você. Gente disposta a colocar menos raiva e mais serenidade nas conversas. Menos incertezas e mais coração.
No fim, ser feliz não é projeto individual — é obra coletiva, porque gastar energia com besteira é uma m...

E se a gente começar agora, talvez o país acorde neste sábado mais leve: sem muros, sem punhais na palavra, sem a gritaria que divide. Porque, como diz a canção: “nem tudo está perdido”.

E quando a gente canta — mesmo cansado — é porque ainda acredita. E acreditar, no Brasil de hoje que degringola ladeira abaixo, já é um ato de coragem. É um ato de puro amor. Então, meus fiéis leitores das Crônicas de Fim de Semana, peço licença para me unir a Jorge Aragão e convocar vocês:

Bora para esse mutirão?

Prometo que não precisa trazer vassoura, nem rodo, nem água sanitária — só boa vontade, um sorriso na cara e disposição para cantar sempre que for possível, como está expresso na letra de Jorge Aragão.

E, para quem ainda não conhece a música, faça esse favor a si mesmo: ouça Mutirão de Amor.
Deixe a melodia bater no peito e, dela, derive uma atitude que apague o fogo dessa criminosa polarização.

Porque, afinal, como diz o poeta: o fim do mal pela raiz, nascendo o bem que eu sempre quis, é o que convém pra gente ser feliz.”
E que assim seja — hoje, amanhã e sempre.

Amém!


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