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porto velho, sexta-feira 22 de novembro de 2024
ENXOVALHARAM A JUSTIÇA
Por Arimar Souza de Sá
Durante muito tempo, quiçá desde Rui Barbosa, no Senado Federal, procurou-se dar à Suprema Corte de Justiça um status elevado, e a nação tupiniquim, até durante a “redentora de março de 1964”, manteve incólume o supremo estamento jurídico nacional.
Até o PT com seus desmontes, nós os brasileiros, mantínhamos um respeito à justiça de forma reverencial. Na verdade, a nossa devoção a esse poder do “tríduo”democrático – Executivo, Legislativo e Judiciário – era irrestrito, cego, inquestionável.
Com os embrulhos do “mensalão”, da Petrobrás e depois outros, e mais outros, desnudou-se primeiro o Supremo Tribunal Federal na guerra travada entre Joaquim Barbosa e seus pares, e o manto preto desbotando.
Descobriu-se que não se tratava de um grupo de semideuses, senão de homens como nós brigando por seus lados ideológicos, e indo ao sanitário quando lhes convinha...
Para “piorar” aparece em Curitiba um juiz do tipo que imaginamos antes, corajoso, imparcial, simples, correto, menos vaidoso que os outros, representando a letra fria da lei e mandando à prisão os homens de colarinho branco, antes intocáveis.
Com este exemplo e a esta altura, a alma brasileira, já insatisfeita com a Suprema Corte, navegou para o Porto de Curitiba, e atracou. Como a alma não se pode brincar. Ali, se instalou de pronto, o símbolo da decência e da esperança coletiva de justiça para todos, e não para meia dúzia: afinal, “todos são iguais perante a lei”.
E essa mesma indecifrável alma brasileira, reconheceu a essência da verdade, em Curitiba, como o ponto de equilíbrio e sadia dirimência dos conflitos que tanto imaginávamos.
Como símbolo atual da justiça, a Lava-Jato conseguiu desmontar a maior sanha corruptiva de todos os tempos no Brasil. Na resenha da democracia do governo do povo pelo povo, o POVO aprovou a LAVA-JATO. E prendeu Dirceu, e prendeu Lula, e prendeu o presidente da Odebrecht, e mais prenderia se não fosse o trabalho que dizem ter sido orquestrado pela Suprema Corte, onde se digladiam as facções do PSDB, do MDB e o PT, gerando a politização da justiça.
Assistindo o autodesmonte do Supremo, o juiz de plantão no Rio Grande do Sul resolveu ultrapassar os limites da lei e construiu tese esdrúxula e peculiar à baderna que se instalou, para libertar o chefe da quadrilha, o nosso “bem-querido” Lula, o “Brahma”, o número um“, e deu no que deu: a queda de braço entre o Poder Judiciário contra o Judiciário do país – e a “m”... transbordando.
Diante dessa lambança jurídico-política, o momento reclama uma convocação de todos os juízes nacionais para um congresso, onde se discuta e redefina o real papel do judiciário e seus protocolos, aplicados ao caso concreto e não partidário, enquanto poder – uma espécie de Conselho Nacional da Justiça da República, para que não mais se misture, como se misturou, alhos com bugalhos, deixando a população, que paga a conta dessa fanfarra, feito barata tonta, andando da sala para a cozinha...
Mas o pior ainda está por vir. Se não houver uma paradinha para “pensar”, no sentido de “cuidar”, o judiciário como esfera do poder, quando se apagar de vez a luz no corredor dessa “justiça”, o brasileiro, não tendo mais a quem respeitar e acorrer, terá que fazer justiça com as próprias mãos, para depois ser julgado por um tribunal de exceção.
Senão vejamos: o histórico das últimas decisões da 2ª turma do STF, faz supor que ela está a serviço do PT, cujas decisões, como a que promoveu a soltura de Dirceu, dão a exata dimensão de que a balança da justiça “pendeu”. Com isso, veio a vontade clamar aos céus ou o inferno e invocar o espírito de Lampião para a desforra.
Tem mais! Um dia desses, revoltado com o descalabro, o ministro Barroso enrubesceu mas disse tudo o que a nação desejava dizer ao seu desafeto Gilmar Mendes: “Me deixa de fora do seu mau sentimento. Você é uma pessoa horrível. Uma mistura do mal com atraso e pitadas de psicopatia". Virou chacota, deu música e o brasileiro não se flagrou e levou tudo na brincadeira.
Dias Toffoli, soltando Dirceu, desrespeitou a inteligência jurídica nacional, agiu como os generais da quartelada de março de 1964 e mostrou seu lado político verdadeiro.
Em essência, colocaram a justiça no banco dos réus, aquela mesma justiça que era o ponto onde outrora estacionávamos as nossas esperanças.
Se os juízes brasileiros não ouvirem o clamor nacional para encontrar uma posição razoável, seria interessante que o congresso nacional, mesmo em frangalhos, se reunisse em caráter de urgência e criasse mecanismos para salvar o poder judiciário, destruído que está sendo pela infiltração político partidária debaixo de tuas togas.
O gesto do juiz Moro, ao contrariar a decisão do desembargador do PT, deixou patente a quebra de hierarquia, mas sinalizou o momento que está vivendo a justiça brasileira, acéfala, perdida como cego em tiroteio, posto que, atropelada pelo desrespeito à lei, vai deixando mais apodrecida a esperança do povo brasileiro nessa que deveria ser – e foi, por muito tempo – a última instância da moralidade do país.
Que pena. Que haja vergonha, pelo menos!
Amém!