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    porto velho, quinta-feira 7 de agosto de 2025

Miséria resiste à inércia das Políticas Sociais da capital e do Estado

A ausência do Estado é visível, apontam comerciantes e transeuntes. “Você passa todo dia no mesmo horário...


Redação

Publicada em: 06/08/2025 10:57:32 - Atualizado

PORTO VELHO-RO: A capital rondoniense convive, há anos, com um retrato que pouco muda: moradores em situação de rua, dependentes químicos e pessoas com transtornos mentais continuam ocupando os mesmos pontos da cidade, sem qualquer intervenção visível por parte das secretarias de Ação Social do Estado e do Município.

Levantamento observacional realizado nos principais corredores urbanos — como as avenidas Sete de Setembro, Amador dos Reis e Jatuarana — evidencia que muitos dos indivíduos em situação de rua que ocupam essas áreas são os mesmos há pelo menos cinco anos. O mesmo ocorre nos semáforos das avenidas Nações Unidas (em frente ao Banco Itaú), Amazonas com Jorge Teixeira e demais cruzamentos da cidade.

A ausência do Estado é visível, apontam comerciantes e transeuntes. “Você passa todo dia no mesmo horário e vê as mesmas pessoas pedindo. Não tem nenhuma abordagem social. Nem um carro da Prefeitura ou do Estado”, relata um lojista da Avenida Jatuarana, que prefere não se identificar por medo de represálias.

O cenário é agravado pela proliferação de “cracolândias” em bairros periféricos, conforme apontam moradores. Além da miséria e abandono, a capital enfrenta uma onda crescente de violência, com aumento de assaltos à mão armada e invasões a residências nas zonas Leste e Sul. A sensação de insegurança se soma ao abandono social.

Enquanto o poder público permanece omisso, iniciativas da sociedade civil organizada e religiosas tentam amenizar a tragédia urbana. Destaque para o trabalho silencioso, mas contínuo, da Igreja Católica, por meio do Centro de Acolhimento Dom Moacir Grechi e da Comunidade Sagrada Família, que oferecem abrigo, alimentação e apoio psicológico a dependentes químicos e moradores de rua.

Até o momento, não há registro público de ações regulares de abordagem social por parte da Secretaria de Estado da Assistência e do Desenvolvimento Social (Seas) nem da Secretaria Municipal de Assistência Social e da Família (Semasf).

O site oficial das instituições também não apresenta cronograma específico de atuação em áreas críticas, nem dados atualizados sobre reinserção social ou atendimentos de rua.

Especialistas apontam que a situação em Porto Velho reflete uma falência progressiva das políticas públicas de assistência social. “A permanência por anos da mesma população nas ruas, sem nenhuma política efetiva de acolhimento, é um indicativo claro de omissão institucional”, afirma um sociólogo ouvido pela reportagem.

A redação procurou ambas as pastas, estadual e municipal, para comentar as denúncias, mas até o fechamento desta matéria não obteve retorno.

Enquanto isso, a cidade continua convivendo com o mesmo cenário: miséria exposta, saúde mental negligenciada, drogas em expansão e o silêncio do poder público diante de uma crise que, a cada dia, cobra mais vidas — e mais dignidade.


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